Após perder força, PP baiano articula reaproximação com o governo de Jerônimo Rodrigues, de olho na reforma administrativa e em cargos estratégicos como a Cerb
Caso de Política | Luís Carlos Nunes – O cenário político da Bahia, remodelado pelas eleições municipais de 2024, mostra o avanço do União Brasil (UB), que conquistou 39 prefeituras, enquanto o Partido Progressista (PP) enfrentou um declínio, elegendo apenas 41 prefeitos, bem abaixo dos 92 conquistados em 2020. Esse enfraquecimento reflete o impacto da saída do PP da base governista em 2022. Contudo, as negociações para o retorno do partido ao grupo do governador Jerônimo Rodrigues (PT) estão avançando, com os progressistas mirando cargos estratégicos na reforma administrativa prometida para os próximos meses.
Parte do PP ainda mantém alianças com a oposição, especialmente com o ex-prefeito de Salvador, ACM Neto (União Brasil). No entanto, uma ala significativa do partido, representada por deputados estaduais, já expressou interesse em retornar à base governista, mas com condições: eles descartam pastas como as Secretarias de Planejamento e de Ciência, Tecnologia e Inovação, pois preferem estruturas que permitam maior articulação política direta no interior. Nesse cenário, a Companhia de Engenharia Hídrica e de Saneamento da Bahia (Cerb), atualmente sob o comando do MDB, surge como o principal alvo dos progressistas.
Nos tempos em que o PP era um aliado de peso no governo, controlava secretarias estratégicas, como a de Planejamento, Infraestrutura Hídrica e Desenvolvimento Econômico, além da própria Cerb. Deputados do PP argumentam que, na conjuntura atual, o Planejamento, isoladamente, não teria o mesmo peso político.
“Se for para ficarmos apenas com o Planejamento, é preferível reivindicarmos a Cerb, que tem mais força política no interior”, declarou uma liderança do progressista. A Cerb, permitiria ao PP maior atuação junto às bases eleitorais, essencial para manter a relevância da legenda no estado.
O PP também argumenta que sua representatividade é maior que a do MDB, que atualmente controla a Cerb e a Secretaria de Infraestrutura Hídrica e Saneamento. Com seis deputados estaduais e quatro federais, o PP acredita ter mais força para contribuir com o governo, inclusive na reeleição de Jerônimo em 2026. “Temos mais força política e podemos colaborar de forma mais decisiva, inclusive com recursos do fundo eleitoral”, reforçou outro deputado do partido.
Jerônimo Rodrigues, por sua vez, tem se mostrado cauteloso, mas aberto à reaproximação com o PP. Ele reconheceu que deputados progressistas têm votado consistentemente com o governo na Assembleia Legislativa, e que essa relação política já está em andamento. “Os deputados do PP têm votado comigo. Acompanhei alguns deles em municípios administrados pelo partido e, na relação com as bancadas estaduais, afirmo que são da nossa base”, disse o governador. Contudo, ele evita se comprometer publicamente com a distribuição de cargos, afirmando que ainda não discutiu o assunto diretamente com os líderes progressistas, como Mário Negromonte Jr. ou Niltinho.
O governador está consciente de que a reforma administrativa, prevista para ocorrer neste final de 2024 será crucial para consolidar essa aliança. A possibilidade de acomodar o PP em estruturas estratégicas, como a Cerb, e fortalecer a base governista no interior do estado é vista como uma oportunidade para fortalecer o poder de articulação política do governo. No entanto, a resistência de figuras como João Leão e Cacá Leão, que preferem manter o partido na oposição, pode dificultar a adesão completa do PP à base de Jerônimo.
Com as negociações ainda em curso, a possível reintegração do PP à base governista está condicionada à habilidade do governo em oferecer cargos com apelo político direto, que satisfaçam as expectativas dos progressistas. Jerônimo, ao se manter aberto ao diálogo, mas cauteloso sobre compromissos de cargos, sinaliza que o processo de realinhamento político seguirá em ritmo cuidadoso, preparando o terreno para uma coalizão ampliada na Bahia.
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