
Enquanto a Bahia reduz suas Mortes Violentas Intencionais acima da média regional, outros estados nordestinos também avançam, ao passo que desafios como a letalidade policial e o avanço de crimes digitais persistem e demandam aprimoramento contínuo das políticas de segurança
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Caso de Política | Luís Carlos Nunes – A região Nordeste, historicamente impactada por altos índices de violência, registrou uma queda de 3,70% na taxa de Mortes Violentas Intencionais (MVI), que passou de 35,1 em 2023 para 33,8 em 2024. O resultado acompanha a tendência nacional de redução de 5,02% (de 21,9 para 20,8 por 100 mil habitantes), segundo dados do 19º Anuário Brasileiro de Segurança Pública.
O desempenho entre os estados, porém, é desigual. A Bahia, maior estado da região em população, teve queda de 8,56% na taxa de MVI (de 44,4 para 40,6), o que contribuiu para o resultado regional. Sergipe e Rio Grande do Norte apresentaram as maiores quedas relativas, com -24,49% e -20,13%, respectivamente. Em contrapartida, Maranhão (+12,18%) e Ceará (+10,62%) viram seus índices aumentarem no mesmo período.
Letalidade policial: índices elevados em parte dos estados
A letalidade decorrente de ações policiais permanece como desafio importante em estados nordestinos. Na Bahia, as mortes resultantes de intervenções policiais representaram 25,8% do total de MVI em 2024 — proporção que se mantém desde 2023 e é quase o dobro da média nacional (14,1%). Embora o número absoluto tenha recuado de 1.700 para 1.556 mortes (-8,5%), o percentual segue alto.
Em Sergipe, a letalidade policial também se destacou, com 27,8% de participação no total de MVI. No caso da Bahia, os dados ainda indicam aumento na vulnerabilidade dos próprios agentes: houve crescimento de 22,2% nas mortes de policiais vítimas de crimes letais e de 66,7% nos suicídios entre membros das forças de segurança — cenário que contrasta com a tendência nacional de queda nesse último indicador.
Cidades baianas têm reduções relevantes, mas situações críticas persistem
Entre os municípios com mais de 100 mil habitantes, cidades baianas registraram quedas expressivas nas taxas de MVI. Camaçari teve retração de 17,4% (de 90,6 para 74,8 por 100 mil hab.) e Feira de Santana, de 12,5% (de 74,5 para 65,2). As reduções indicam impacto de ações concentradas, embora os patamares sigam elevados em comparação nacional.
Em Jequié, houve queda de 8,1% na taxa, mas o município subiu para a 2ª colocação no ranking nacional de cidades com maior índice de MVI. O dado reflete a persistência de contextos locais marcados por vulnerabilidade social, disputas territoriais e presença de facções — uma realidade que também se observa em cidades como Maranguape e Caucaia, no Ceará.
Crimes digitais avançam acima da média nacional
O crescimento de crimes cibernéticos tem pressionado a segurança pública em diversos estados. Na Bahia, os estelionatos aumentaram 13,5% (de 102.845 para 116.767 registros), ultrapassando a média nacional de 7,8%. Os estelionatos por meio eletrônico cresceram ainda mais: 31% (de 7.723 para 10.116 registros), o que reforça a tendência de migração da atividade criminosa para o ambiente digital.
Por outro lado, houve aumento de 29,4% na recuperação de celulares roubados e furtados (de 1.835 para 2.375), resultado que sugere maior capacidade de resposta investigativa e técnica para rastreamento de bens, apesar das dificuldades enfrentadas pelo sistema de segurança estadual.
Sistema Prisional: superlotação agravada, apesar de ações pontuais
Em 2024, a Bahia ampliou os gastos com segurança pública em 6,6%, saindo de R$ 6,24 bilhões para R$ 6,65 bilhões, um aumento ligeiramente superior à média nacional. Parte do investimento foi direcionada à área de “Informação e Inteligência”, que teve crescimento de 111,9% (de R$ 23,6 milhões para R$ 50 milhões), indicando uma priorização das ferramentas tecnológicas e analíticas.
Apesar disso, o estado convive com um dos maiores déficits prisionais do país. A população carcerária cresceu 12% no ano, enquanto o deficit de vagas subiu 126,3%. Em meio à superlotação, houve um aumento de 7,4% na participação de detentos em programas de laborterapia, com destaque para o trabalho interno, que cresceu 27,8%. As iniciativas apontam para esforços de ressocialização, ainda que insuficientes diante da magnitude do problema.
Quadro regional requer políticas diversificadas e planejamento sustentado
O panorama da segurança pública no Nordeste, em 2024, evidencia um cenário de avanços pontuais em meio a desafios estruturais. A redução nas taxas de MVI em estados como Bahia, Sergipe e Rio Grande do Norte contribui para uma melhora regional, mas a manutenção de altas taxas em municípios específicos, o crescimento de crimes digitais e a letalidade policial impõem a necessidade de políticas públicas mais integradas, adaptadas às especificidades de cada território.
A complexidade da segurança na região exige continuidade nos investimentos, planejamento de longo prazo e integração entre forças de segurança, sistema de Justiça, políticas sociais e tecnológicas.
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