
Evento na Praça do Coreto reuniu artistas, intelectuais e ativistas para discutir a força transformadora da palavra e os desafios sociais enfrentados por mulheres negras na região
Caso de Política | Luís Carlos Nunes – No fim da tarde desta sexta-feira (25), a Praça Duque de Caxias – conhecida como Praça do Coreto -, no Centro Histórico de Barreiras, foi ocupada por vozes literárias, versos engajados e reflexões políticas durante o sarau promovido pela Academia Barreirense de Letras (ABL).
O evento, marcado por forte presença do público, homenageou o Dia do Escritor e o Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha com uma programação artística e cultural regada por muita poesia, música e debate social.
O ponto alto da atividade foi a mesa de diálogo “Lutas e Conquistas das Mulheres Negras Latino-Americanas e Caribenhas”, mediada pela escritora e membro da ABL Ananda Lima. A roda de conversa reuniu mulheres de diferentes trajetórias para discutir as formas de violência simbólica, institucional e econômica que incidem sobre as mulheres negras na região.
A assistente social e coordenadora do grupo Encanto Afro, Zelma da Costa, pontuou os desafios ligados às questões de gênero e o silenciamento histórico da mulher negra. A professora Nilza Martins (Uneb) tratou do racismo estrutural e de como ele impacta a inserção das mulheres negras em espaços acadêmicos, políticos e econômicos.
A delegada Marília Matos, titular da Delegacia Especial de Atendimento à Mulher (DEAM), alertou para a ausência de dados consolidados sobre as violências de gênero, o que dificulta ações mais eficazes. Em sua fala, destacou que muitas mulheres da região enfrentam graves dificuldades sociais e econômicas, o que pode levá-las à criminalidade.
“Grande parte das mulheres presas tem envolvimento com o tráfico de drogas, sendo utilizadas para o transporte de entorpecentes. É uma realidade social cruel que precisa ser enfrentada com políticas públicas, não apenas repressão”, afirmou.
A data também foi uma ode ao poder da palavra e à responsabilidade daqueles que a utilizam. No Dia do Escritor, ficou claro que escrever é um ato político, e que cada palavra tem peso, fala e direção. Os escritores foram exaltados como formadores de cultura, de pensamento e de sensibilidade social.
A programação contou ainda com recital de poemas, apresentações musicais, feira de artesanato, exposição de artes visuais e estandes de livros e revistas. Destaque para a participação do cordelista Marcelo Figueiredo, historiador e mestre em Ciências Humanas e Sociais pela UFOB, que emocionou o público com a leitura de seu mais recente cordel, “Futebol no Paraíso”.
Estudioso do gênero literário, Figueiredo trouxe para o sarau a força popular do cordel, reforçando a pluralidade das vozes que constroem a cena literária de Barreiras.
A escritora Márcia Rasia, membro da ABL e coordenadora do sarau, celebrou a diversidade da programação.
“Foi uma tarde de celebração, mas também de enfrentamento. A literatura e a arte têm a capacidade de abrir os olhos, tocar consciências e provocar mudança”, resumiu.
O sarau da ABL mais uma vez demonstrou que cultura, arte e palavra são também instrumentos de resistência. Em tempos de disputas simbólicas e exclusões sociais, os escritores e artistas reafirmaram seu compromisso com o ato de dizer – com beleza, mas também com firmeza.
Caso de Política | a informação passa por aqui.
#ABLBarreiras #DiaDoEscritor #MulherNegra #LiteraturaComoAto #Cordel #JustiçaSocial #CulturaEmBarreiras