PPP do Hospital Municipal de Barreiras: uma aposta arriscada que poderia ter sido evitada

Enquanto a prefeitura aposta na Parceria Público-Privada para gerir o Hospital Municipal, alternativas como a federalização e a criação de um hospital universitário são ignoradas. A decisão de Otoniel Teixeira mantém a conta para o município e compromete o controle sobre a saúde pública

Caso de Política | Luís Carlos Nunes – Enquanto a gestão municipal de Barreiras promove na B3, a Bolsa de Valores de São Paulo, um roadshow para atrair investidores para a Parceria Público-Privada (PPP) do Hospital Municipal, surge uma questão essencial: essa é realmente a melhor solução para a saúde pública da região?

O roadshow é uma apresentação itinerante realizada para divulgar projetos a potenciais investidores, buscando atrair recursos e parcerias. No caso da PPP do hospital, a prefeitura leva o projeto a instituições financeiras e empresários para demonstrar sua viabilidade econômica e tentar garantir o interesse do setor privado. Vendida como uma grande inovação pela administração Otoniel Teixeira, a PPP, na prática, mantém o ônus sobre os cofres municipais, terceiriza a administração e transfere riscos para o próprio município.

Previsto para ter seis módulos e 150 leitos, distribuídos em áreas de emergência, clínica médica adulta e pediátrica, obstétrica, psiquiátrica, cirúrgica e ambulatorial, o hospital ocuparia cerca de 13 mil metros quadrados de área construída. No entanto, apesar dos R$ 40 milhões já investidos, o progresso tem sido mínimo, gerando preocupação entre os cidadãos e profissionais de saúde

Otoniel herdou essa proposta de seu padrinho político, o ex-prefeito Zito Barbosa, sem considerar alternativas que poderiam trazer benefícios mais duradouros para Barreiras e toda a região Oeste da Bahia. Entre essas alternativas, a federalização da unidade e sua transformação em um hospital universitário vinculado à Universidade Federal do Oeste da Bahia (UFOB) se destacaria. Com essa mudança, Barreiras teria um hospital-escola de referência, garantindo atendimento público qualificado e permanente, além de formação acadêmica e pesquisa científica na área da saúde.

A insistência na PPP como única solução ignora que o financiamento continuará saindo dos cofres municipais, enquanto a administração privada buscará lucro, muitas vezes em detrimento da qualidade e universalidade do atendimento. Diferentemente de um hospital universitário, que poderia ser sustentado com recursos federais, a parceria público-privada cria um modelo onde a prefeitura continua sendo a principal financiadora, mas perde o controle direto sobre a gestão e a prestação dos serviços.

O prefeito Otoniel Teixeira enaltece a PPP como um avanço, destacando a “modernização” dos serviços de saúde. No entanto, experiências semelhantes pelo Brasil mostram que esse tipo de contrato pode resultar em custos elevados para o município sem necessariamente melhorar a qualidade ou a ampliação do atendimento. Além disso, o discurso de “eficiência” e “celeridade” ignora que a dependência de investidores e concessionárias pode comprometer a continuidade e a acessibilidade do serviço público a longo prazo.

Barreiras e toda a região Oeste da Bahia se beneficiariam muito mais de um hospital municipal público bem estruturado, capaz de atender às demandas locais sem a intermediação de interesses privados. Um hospital universitário federalizado, além de ser sustentado pela União, fortaleceria a rede de ensino e a capacitação profissional, formando médicos e especialistas para atuar na própria região. Do ponto de vista econômico, garantiria estabilidade financeira ao município, evitando gastos excessivos com contratações privadas e assegurando investimentos contínuos. No âmbito social, representaria um salto de qualidade na prestação de serviços de saúde, promovendo atendimento público com mais estrutura e suporte científico.

A grande questão é: por que insistir na PPP se há alternativas mais seguras e vantajosas? A resposta pode estar na política, onde promessas de inovação e modernidade frequentemente servem para justificar modelos de gestão que beneficiam poucos e oneram muitos. Otoniel e sua equipe podem continuar promovendo a ideia da PPP como a solução definitiva, mas o tempo dirá se essa escolha foi feita pensando no bem-estar da população ou nos interesses do mercado.

E como diz o velho ditado: quem entrega o hospital ao mercado pode acabar precisando de senha para ser atendido.

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