Tentativa de golpe: nova operação da PF complica ainda mais Bolsonaro

Prisões e evidências reforçam suspeitas sobre plano articulado de ruptura democrática

Caso de Política | Luís Carlos Nunes – A operação deflagrada pela Polícia Federal nesta terça-feira (19), que resultou na prisão de quatro militares e um policial federal, complica ainda mais a situação do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) nas investigações sobre a tentativa de golpe de Estado de 8 de janeiro de 2023. As novas revelações enfraquecem a tese de que a “minuta golpista” seria um ato isolado, apontando para uma articulação estruturada que visava romper a ordem democrática.

De acordo com apuração da Veja, uma alta autoridade do Poder Judiciário afirmou que os elementos descobertos pela operação fortalecem a suspeita de um plano coordenado. A decisão do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), que autorizou a operação, cita explicitamente Bolsonaro, alegando que ele “aceitou o assessoramento” dos militares presos e chegou a revisar e “enxugar” o conteúdo da minuta golpista.

As evidências recentes configuram um quadro ainda mais grave para o ex-presidente. A minuta agora é vista como parte de uma tentativa mais ampla de manipular as instituições democráticas. Moraes destacou na decisão que as novas informações apontam para uma estratégia deliberada de desestabilização, na qual Bolsonaro teria um papel ativo.

Com o relatório final da PF em andamento, a expectativa é de que o documento recomende o indiciamento do ex-presidente. A Procuradoria-Geral da República (PGR) terá a responsabilidade de decidir entre apresentar denúncia, solicitar novas diligências ou arquivar o caso.

Esses desdobramentos não apenas reforçam as suspeitas já existentes, mas também colocam Bolsonaro em uma posição de maior fragilidade perante a Justiça. A cada nova revelação, as dúvidas sobre sua responsabilidade direta na tentativa de golpe se transformam em acusações mais concretas, complicando ainda mais sua situação e levantando questionamentos sobre a gravidade das ações e omissões no episódio que marcou a democracia brasileira.

Quatro linhas é o car@lh*’, ‘como em 64’, ‘vamos pro vale tudo’: mensagens obtidas pela PF escancaram golpismo entre militares

Mensagens foram obtidas em dispositivos de Mario Fernandes, general da reserva e ex-número dois da Secretaria-Geral da Presidência no governo Bolsonaro

A prisão do general da reserva Mario Fernandes, acusado de participar de um plano golpista para assassinar o presidente Lula (PT), o vice-presidente, Geraldo Alckmin (PSB), e o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, escancarou a rede de conspiradores dentro e fora das Forças Armadas. Fernandes foi detido nesta terça-feira (19) no Rio de Janeiro, e as investigações da Polícia Federal (PF) indicam que ele desempenhou um papel central nas articulações antidemocráticas que se intensificaram após o segundo turno das eleições de 2022, relata o UOL.

As mensagens e documentos apreendidos nos dispositivos eletrônicos do general escancaram o nível de radicalismo de Fernandes, que chegou a propor uma minuta para a criação de um “Gabinete Institucional de Gestão da Crise”, a ser instaurado após os assassinatos planejados. Além disso, ele teria mantido contato com lideranças de acampamentos golpistas em frente a quartéis-generais e trocado mensagens com aliados para propagar fake news e incitar ações antidemocráticas.

A radicalização e a retórica de confronto – Um dos diálogos obtidos pela PF contém mensagens que explicitam o tom radical de Fernandes e aliados, como a frase: “Quatro linhas é o car@lh*”, em referência à expressão utilizada por Bolsonaro de que tudo que seu governo fazia estaria ‘dentro das quatro linhas da Constituição’. Outro trecho, destacado pelos investigadores, mostra o general discutindo com seus interlocutores a necessidade de uma postura “como em 64”, numa clara alusão ao golpe militar que instaurou a ditadura no Brasil em 1964.

A retórica de confronto também aparece em áudios onde Fernandes e outros envolvidos falam em “vale tudo” para justificar os atos planejados. Segundo a PF, essas declarações foram usadas para incitar apoiadores e preparar um ambiente propício ao golpe.

Conexões com acampamentos golpistas – Fernandes desempenhou um papel ativo na organização de acampamentos em frente a quartéis-generais, sendo um elo entre manifestantes e lideranças militares. Ele mantinha diálogo com figuras como o casal Rodrigo Ikezili e Klio Hirano, responsáveis pela logística dos acampamentos em Brasília. Hirano, que chegou a ser presa em dezembro de 2022 após os atos de vandalismo no dia da diplomação de Lula, consultava Fernandes sobre questões práticas, como a entrada de tendas e a realização de churrascos nos acampamentos.

Fotos do general nesses acampamentos e mensagens que indicam sua coordenação direta com líderes desses movimentos foram anexadas ao relatório da PF enviado ao STF, reforçando sua atuação no núcleo estratégico das ações golpistas.

“Guerra informal” – A investigação também destaca o uso da estratégia dos “kids pretos”, um grupo militar de elite especializado em insurgências e “guerra informal”. Segundo a PF, essa abordagem combinava ações psicológicas e propaganda estratégica para amplificar o alcance das manifestações: “a organização criminosa investigada tinha o objetivo de incitar parcela da população ligada à direita do espectro político a resistirem à frente das instalações militares para criar o ambiente propício ao golpe de Estado. Para isso, utilizaram o modus operandi da milícia digital, para disseminar, por multicanais, fake news sobre possíveis fraudes nas eleições de 2022 e ataques sistemáticos a ministros do STF e do TSE. Esse modo de atuação foi robustecido pelo emprego de técnicas de ações psicológicas e propaganda estratégica no ambiente politicamente sensível pelo ‘kids pretos’, instigando, auxiliando e direcionando líderes das manifestações antidemocráticas conforme seus interesses”.

Interações com Mauro Cid e outros militares – As mensagens mostram que Fernandes também mantinha contato com Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro e atualmente delator em investigações sobre atos antidemocráticos. Em uma das conversas, Fernandes pediu a Cid que enviasse vídeos com conteúdos golpistas no mesmo dia em que Bolsonaro se reuniu com os comandantes das Forças Armadas para discutir uma proposta de minuta golpista.

Outros diálogos incluem interações com o coronel Reginaldo Vieira de Abreu e Hélio Osório Coelho, que também conspiravam sobre a suposta fraude nas eleições e ações coordenadas com lideranças religiosas para reforçar as manifestações.

Próximos passos – A operação que resultou na prisão de Fernandes e outros militares busca desmantelar a rede de apoio ao golpismo, que envolvia desde figuras públicas até núcleos de desinformação online. As revelações aprofundam a crise de confiança nas instituições e reforçam a necessidade de responsabilização daqueles que tentaram subverter a ordem democrática.

As provas coletadas pela PF deixam clara a extensão das ações golpistas, expondo a rede de conexões e os métodos empregados para desestabilizar o regime democrático no Brasil. O caso segue em investigação, e novas operações não estão descartadas.

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