
Munícipes confrontam apresentação da secretária com relatos de dificuldades no acesso e qualidade dos serviços de saúde
Caso de Política | Luís Carlos Nunes – A secretária de Saúde de Barreiras, Larissa Gomes Barbosa, compareceu à audiência pública na Câmara Municipal na última quarta-feira (30/04) para apresentar um panorama da saúde municipal, munida de dados técnicos e gráficos comparativos do período de 2021 a 2024. Em sua exposição, a secretária destacou o aumento no número de unidades da rede de serviços do Sistema Único de Saúde (SUS) no município, a expansão da cobertura da atenção primária e de saúde bucal, além de informações sobre recursos humanos, produção de serviços e o aporte financeiro tripartite (municipal, estadual e federal) na saúde local.
Secretária Larissa Barbosa apresenta dados (2021-2024), contrastando com queixas da população sobre acesso, falta de medicamentos (Fenobarbital) e humanização. Munícipes relataram dificuldades e pediram soluções urgentes para a saúde em Barreiras
Larissa Barbosa detalhou o crescimento da rede de atendimento, o volume de visitas domiciliares, atendimentos individuais e procedimentos realizados. Ela também abordou as principais causas de mortalidade e a origem dos pacientes que utilizam os serviços de saúde em Barreiras, ressaltando a expressiva contribuição financeira do município em comparação com os repasses estaduais e federais.
A secretária apontou gargalos como infraestrutura de algumas unidades, insuficiência de leitos e deficit de recursos humanos, além da necessidade de seguir protocolos clínicos nas prescrições médicas.
No entanto, a apresentação técnica da secretária foi intensamente confrontada pelas manifestações dos munícipes presentes na audiência. Representantes de diversos segmentos da população utilizaram o espaço para apresentar queixas e relatos que contrastavam com os dados otimistas apresentados pela gestão municipal.
As dificuldades no acesso às consultas com especialistas, a falta de medicamentos específicos como o Fenobarbital, a precariedade da infraestrutura em algumas unidades de saúde, a demora na realização de exames diagnósticos e a alegada falta de humanização no atendimento foram algumas das principais reclamações.
Pacientes oncológicos relataram barreiras no acesso ao transporte para tratamento fora do domicílio e dificuldades no agendamento de exames preventivos. Mães de crianças com deficiência denunciaram a falta de profissionais especializados e equipamentos adequados para o tratamento de seus filhos.
Casos específicos de suposta negligência médica na UPA (Unidade de Pronto Atendimento) também vieram à tona, com familiares de pacientes falecidos cobrando investigação e justiça. A falta de leitos hospitalares, especialmente de UTI, e a necessidade de um hospital de ensino na região foram outros pontos levantados pela população.
A secretária, em diversos momentos, reconheceu os desafios existentes, mas também buscou justificar algumas das dificuldades com o subfinanciamento do SUS em nível federal e a necessidade de maior apoio por parte do estado e da União. Ela também apelou para a corresponsabilidade da população no cuidado com a saúde e para um diálogo mais construtivo entre usuários e profissionais.
A audiência pública evidenciou um claro desalinhamento entre os dados apresentados pela gestão municipal e a percepção de parte significativa da população sobre a qualidade e o acesso aos serviços de saúde em Barreiras, indicando a urgência de medidas efetivas para atender às demandas e preocupações dos munícipes.
Abaixo, trecho das falas da população de Barreiras com queixas e sugestões:
Tiago Caique – Médico Oncologista (HO): “Cumprimento a todos com orgulho de falar da Ozid, que presta excelente trabalho aqui. Muito se fala do futuro Hospital do Câncer, que esperamos ansiosamente, mas o Hospital do Câncer já chegou. Desde 2022, temos a UNACOM aqui em Barreiras, oferecendo tratamento oncológico clínico, cirúrgico e em breve radioterapia. Em 2024, realizamos muitas consultas e tratamentos de quimioterapia. Convido a todos a conhecerem o HO, que funciona como unidade de alta complexidade com equipe multidisciplinar, incluindo psicólogo e cuidados paliativos. Em 2030, o câncer será a maior causa de mortalidade no mundo. Precisamos de medicina preventiva. No Brasil, câncer de colo do útero é a segunda maior causa de morte em mulheres, evitável com vacina. Precisamos intensificar rastreamento e prevenção para não sobrecarregar o serviço oncológico. Câncer tem cura com diagnóstico precoce. Valorizo a fala sobre ensino e pesquisa. Se fomentarmos isso, nossa população terá acesso aos melhores tratamentos. Convido a conhecer nosso serviço. Tenho orgulho de ser oncologista e luto por essa causa. O câncer tem cura, sim. Obrigado.”
Antonilto: “Agradeço a oportunidade de falar sobre a saúde precária, principalmente no pé da serra, onde falta tudo. Não fiquem só no ar-condicionado, vejam a realidade do povo. Muitos madrugam em filas sem atendimento, falta médico, remédio e estrutura. Vi pessoas serem ignoradas ou mandadas para longe. Em pleno 2025, isso é inaceitável. Barreiras merece dignidade na saúde, um direito de todos. Por trás de cada espera, há uma vida que não pode esperar mais. Obrigado.”
Cindi Souza (AMAB): “Agradeço o espaço para discutir a crucial questão da falta de profissionais especializados para atender pessoas com autismo em Barreiras e em toda a região oeste, que inclui 36 municípios. Essa é uma luta constante das famílias atípicas, que precisam de profissionais capacitados para suas crianças e entes queridos. Embora a gestão municipal busque soluções, a carência é grande. Para ajudar nesse momento, sugiro a telemedicina como uma alternativa importante para o tratamento de crianças, adultos e idosos com autismo, pois essa condição não se limita à infância. Eu mesma sou autista nível 1 de suporte e estou aqui representando a todos. Agradeço a oportunidade de levantar essa necessidade.”
Drª Érika Souza: “A jornada do paciente oncológico começa no diagnóstico precoce, mas ele não acontece aqui. A lei dos 30 dias não se cumpre. O SUS é vida, mas precisa chegar para salvar. Como diagnosticar cedo se falta exame? Paciente espera vaga meses. Não é só culpa do estado. Como paciente, sofri com falta de transporte para tratamento fora, fui humilhada. Uma passagem salva vidas. Defendo o diagnóstico precoce e tratamento digno. Sou da área da saúde e defensora dos direitos dos pacientes com câncer. A jornada começa aqui.”
Fabiana Pereira: “Pergunto sobre a falta de exames como BERA para crianças e eletromiografia, que não temos mais pelo SUS nem em Barreiras nem em Salvador. O que farão para ajudar quem não pode pagar? Uma criança de 2 anos precisa do BERA. E a eletromiografia é cara e só um médico faz particular. Precisamos de ajuda nessas demandas.”
Fredson Silva: “Parabéns pela audiência, sinal de preocupação. Moro perto da UPA e ouço o sofrimento. Precisamos de mais uma UPA, Barreiras atende muita gente. Saúde também é esporte e educação. Incentivar esportes traz saúde. Educação básica como lavar as mãos previne doenças. Essa audiência é um grito de socorro, dados nem sempre refletem a realidade. Somos gente. Humanização é essencial, pacientes chegam fragilizados. Precisam de acolhimento. Somos um só povo, precisamos cuidar uns dos outros. Sugiro mais esporte e educação para uma população mais saudável.”
Janaína Oliveira (enfermeira): “Sou enfermeira há 20 anos, 10 aqui. A saúde pública só avança com compromisso de todos. Não deixemos o sofrimento virar só palavras. Unidos, com responsabilidade, avançaremos. A saúde de Barreiras tem melhorado, mas como a nível nacional, precisa avançar muito. Com diálogo e escuta, podemos melhorar. Obrigada.”
Mônica Patrícia: “Parabenizo os humanos da saúde, repudio os desumanos. Secretária, sua frase sobre não desmerecer a dor nos chocou. Há familiares aqui de um caso grave. Essa frase é pesada. Convido Paula, mãe do falecido que denunciou por negligência. A senhora precisa sentir essa dor.”
Joana Paula Pereira dos Santos: “Meu irmão morreu por negligência na UPA, desde a demora do SAMU até a alta sem exames. Fomos tratados com chacota. Não é a primeira vez na família, três óbitos por negligência. Cobramos respeito e sinceridade. Não deram importância ao acidente. Um pedido de desculpas não traz meu irmão de volta. Cadê a humanidade na saúde de Barreiras? Em janeiro me negaram exame, disseram para procurar particular. Espero cirurgia para minha filha há um ano. Não somos tratados com o respeito que merecemos.”
Pedro Vinícius: “Secretária, bom vê-la. A má atenção primária denunciada pelas vereadoras é real, fruto da fiscalização. Negar é chamar a população de mentirosa. Há relatos diários. Pedido do prefeito por HO de baixo risco prova a falta de estrutura. Relato de mãe que perdeu filho por falta de UTI e encaminhamento. Muita terceirização de culpa para o estado. Na campanha houve promessas de saúde melhor. Incoerente prometer sem recursos. Sobre filmagens, quem filma provavelmente já sofreu mau atendimento. Não é proibido filmar em público. Esse não é o problema do mau atendimento. Obrigado.”
Roziene Gomes da Silva: “Falo das mães de crianças com PC da Centroeste. Estão fazendo rifas para pagar tratamento particular, pois falta profissional qualificado na instituição. A população ajuda muito. Pedem que a secretária qualifique o pessoal da Centroeste para melhor atender essas mães. Tem espaço, mas falta qualificação para as fisioterapias corretas. Outras mães explicarão melhor.”
Simária Neves: “Boa noite. Sou mãe de criança com paralisia cerebral. Não temos assistência especializada, equipamentos adequados na CEPROESTE. Meu filho fez cirurgia rara fora do estado com ajuda da população, pois município e estado não ajudam. As crianças que fizeram essa cirurgia fazem tratamento particular. Na CEPROESTE falta tudo e ainda há chacota. Mães atípicas pedem respeito e dignidade. Saí da CEPROESTE chorando por negar atendimento. A saúde de Barreiras não é humanizada, profissionais precisam de qualificação. Famílias chegam fragilizadas e precisam de apoio psicológico. Obrigada.”
Sozeni Rego: “Cadeirantes precisam de material hoje, não amanhã. Há 7 meses não pego tudo. Não culpo Larissa, a bagunça é antiga. Em 28 anos nunca peguei material completo. É cansativo ir ao CAF. Tenho esperança em Larissa. Secretário anterior nem atendia. A medicação se resolveu. Esperamos sondas e outros materiais. Há gente há 6 meses sem pegar. Precisamos de qualidade, vereadores fiscalizem. Material ruim é descartado. Peguei sondas horríveis. Não queremos para amanhã, queremos para hoje. A bagunça do passado prejudicou, mas Larissa pode mudar a saúde de Barreiras. Obrigado.”
Wesley Otávio: “Agradeço à coordenadora da UPA. Na recepção não há ouvidoria do SUS, só da Secretaria. Denúncia grave: Fenobarbital está em falta há dois meses, sem informação da secretaria. Minha mãe toma há 10 anos. Só tinha em gotas, dose errada, passou mal, foi à UPA. Usuário sofre por negligência em não informar a falta do remédio. Protocolei denúncia no Ministério Público. Não é fácil acordar cedo para psiquiatra e não achar o remédio. Obrigado.”
Yasmine Lima (Centro Acadêmico de Medicina UFOB): “Falta integração na saúde de Barreiras e representante da universidade na mesa. Dados da secretária são alarmantes. A universidade pode ajudar, temos alunos querendo aprender e atender humanizadamente. Fazemos isso no HO, mas sem hospital universitário é difícil fazer os alunos atenderem na atenção primária e fazerem educação em saúde. Um hospital universitário federal e estadual faria diferença em Barreiras. Precisamos de pesquisa e profissionais acessíveis. Pensar nisso é importante. Desculpas pelo debate sobre o Hospital Edison, queríamos muito um hospital universitário federal e estadual lá. Obrigada.”
Érica Quesado: “Sou colaboradora da Secretaria de Saúde. Gostaria que a secretária compartilhasse com o público a contribuição e diálogo da Secretaria nas reuniões com os secretários municipais da região e com o governo do estado. Como atuamos e dialogamos para trazer qualidade de vida para Barreiras nessas instâncias colegiadas? Qual o compromisso da senhora nas reuniões em Salvador com os secretários de saúde dos 417 municípios da Bahia?”
Maria Messias: “Parabenizo a Câmara pela iniciativa, mas ressalto que já fazemos audiências quadrimestrais para prestação de contas da Secretaria de Saúde. Fico feliz com a casa cheia hoje, mas infelizmente não temos esse público em nossas audiências regulares. Sou Maria Messias, funcionária do Ministério da Saúde cedida ao município. Pergunto à secretária: quais parâmetros são utilizados para avaliar o desempenho da saúde do nosso município, já que ouço classificarem a saúde de Barreiras como caótica e ruim?”
Adma Kátia Lacerda – UFOB: “Represento a UFOB e reafirmo nosso compromisso com o SUS, essencial para a formação de nossos profissionais de saúde. Propomos a importância de um hospital de ensino universitário em Barreiras, com gestão da EBSERH, para atendimento de alta complexidade, equipes multiprofissionais, pesquisa e valorização dos servidores. A EBSERH já demonstrou interesse em Barreiras em 2016/2017. A UFOB se coloca à disposição para analisar essa possibilidade junto ao sistema de saúde.”
Érica Lacerda (Secretaria Municipal de Saúde): “Cumprimento a casa e elogio a iniciativa dessas audiências sobre saúde. Trago uma mensagem dos servidores: amamos o que fazemos e cuidamos com excelência. Se houveram problemas entre servidores e usuários, pedimos que procurem a Secretaria de Saúde e evitem expor em público informações sem nossa ciência. Pergunto ao senhor Juca sobre a melhora da saúde na região. Barreiras tem muitos usuários do SUS cadastrados, o que indica que a saúde aqui e na região está funcionando. Deixo meu apoio, muito obrigada.”
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