
Larissa Barbosa exalta produtividade e ‘paz’ nos atendimentos, mas evita críticas feitas em audiência pública e não apresenta soluções efetivas para problemas graves da rede
Caso de Política | Luís Carlos Nunes – A secretária de Saúde de Barreiras, Larissa Barbosa, concedeu uma longa entrevista ao radialista Marcelo Ferraz na Rádio Oeste FM, nesta segunda-feira (05), com quase 50 minutos de duração, em que buscou apresentar um panorama positivo de sua gestão. Entretanto, sua fala ignorou abertamente o acúmulo de críticas da população, expostas na audiência pública realizada na Câmara de Vereadores no dia 30 de abril, e não dialogou com os dados da própria secretaria. Em vez disso, Larissa preferiu oferecer justificativas genéricas e narrativas suavizadas diante de uma realidade que inclui superlotação, escassez de medicamentos, filas e desassistência básica.
Logo no início, ao ser convidada a apresentar um balanço dos 100 dias de gestão, a secretária apostou na quantidade de cirurgias como trunfo:
“Um dado que nos deixa muito, muito feliz mesmo, é com relação à nossa produtividade. Por exemplo, a gente já realizou aproximadamente 900 cirurgias.”
A escolha por esse número isolado como indicador de sucesso levanta dúvidas. A secretária não esclareceu se essas cirurgias reduziram a fila de espera, qual o grau de complexidade ou se há correspondência com a demanda reprimida. Durante a audiência pública na Câmara de vereadores, moradores relataram falta de estrutura básica para procedimentos simples, cancelamentos constantes e desistência de pacientes por insegurança.
Na tentativa de demonstrar eficiência nas ações de combate às arboviroses, Larissa afirmou que o município atravessa “um período de tranquilidade” devido a ações de limpeza iniciadas em janeiro:
“Essas ações preventivas estão repercutindo no nosso cotidiano, no nosso presente e eu observo assim um balanço positivo nesses primeiros 100 dias.”
A fala minimiza os riscos sanitários em curso, ignora o histórico de explosões de casos e se baseia em percepções vagas, sem apresentar dados epidemiológicos atuais. A ausência de casos pode refletir também subnotificação, um ciclo sazonal ou limitações no diagnóstico, não necessariamente uma suposta eficiência administrativa.
Ao tratar da atenção primária, a secretária exaltou a expansão da cobertura, comparando com dados de 2017:
“Hoje está alcançando quase 100% de cobertura. […] Mas só a cobertura não é suficiente. A gente precisa fortalecer o processo de trabalho da atenção primária.”
Apesar de admitir que a cobertura estatística não garante qualidade, a secretária não detalhou medidas concretas para resolver as queixas de pacientes que relatam ausência de médicos, unidades mal equipadas, falta de recepcionistas e atendimento precário. A narrativa oficial não enfrenta o drama cotidiano de quem depende do sistema público.
Larissa também abordou a relação entre os servidores e a população:
“Existe, infelizmente, uma muralha entre população e servidores. E a gente quer proclamar a paz, levantar uma bandeirinha branca.”
O uso de metáforas pacificadoras não resolve as denúncias de desrespeito, negligência e até chacotas feitas por usuários do SUS durante a audiência. A gestão parece confundir discurso com política pública — e a constatação da “muralha” deveria vir acompanhada de medidas efetivas para melhorar a humanização no atendimento, e não de apelos simbólicos.
Sobre a dificuldade de contratação de fonoaudiólogos, Barbosa atribuiu o problema à escassez de profissionais e à preferência pela rede privada:
“Nesse processo seletivo, a gente não teve nenhum inscrito e olha que é um salário bastante competitivo. […] Tem que ter amor para trabalhar com o SUS.”
O argumento do “amor” é, no mínimo, desconcertante. A gestão municipal admite falhas na contratação, mas se exime de rever políticas de valorização profissional. O apelo emocional substitui a necessidade de planejamento, concursos estruturados e estímulo a condições dignas de trabalho. Se nem mesmo um salário “competitivo” atrai interessados, algo no ambiente público desmotiva esses profissionais — e isso segue sem resposta.
Quando confrontada com a ausência de medicamentos essenciais, como o Fenobarbital, a secretária responsabilizou o fabricante e atrasos do governo estadual:
“A gente está com problema no fabricante […] Mas nós já temos a informação que no dia 13 de maio já está agendado [o abastecimento].”
A resposta escancara a falta de planejamento de contingência. Não há plano B, compra emergencial ou pactuação regional que garanta o remédio no tempo necessário. Pacientes que dependem do Fenobarbital, como os citados em denúncias ao Ministério Público, continuam desassistidos.
Ao comentar a audiência pública, a secretária optou por uma leitura autocentrada:
“O saldo foi muito positivo. […] Independente da presença dos vereadores, sou eu que tenho que estar lá defendendo, colocando as fragilidades.”
A secretária omitiu o conteúdo crítico da audiência, ignorando o tom grave das denúncias feitas por dezenas de cidadãos. Também não respondeu à ausência de vereadores governistas, o que sinaliza um eventual distanciamento até da base aliada.
Questionada sobre possíveis manipulações de dados, Larissa reagiu com indignação:
“Quem alimenta o sistema da saúde são servidores de carreira […] que não teriam porquê adulterar dados oficiais.”
A defesa dos servidores é legítima, mas não elimina a possibilidade de inconsistências, filtros ou uso político de dados. A população e vereadores questionaram números que não batem com a realidade percebida nas unidades. A falta de clareza e o distanciamento entre relatórios oficiais e os relatos da comunidade precisam ser encarados com seriedade, não com desqualificação das críticas.
Por fim, a secretária reconheceu que a adesão de Barreiras ao consórcio da Policlínica Regional tem sido financeiramente desvantajosa:
“Se você me perguntar hoje se foi interessante para Barreiras fazer essa adesão […] eu te digo que financeiramente não compensa.”
É uma admissão grave. A cidade investe recursos num modelo que não entrega estabilidade nos serviços e, ainda assim, não se vislumbram alternativas claras. Isso reflete não apenas um problema de gestão, mas de avaliação de políticas públicas que deveriam ser constantemente reavaliadas conforme os resultados.
A entrevista de Larissa Barbosa deixa mais perguntas do que respostas. A secretária parece mais empenhada em manter uma narrativa otimista do que em reconhecer, com coragem e honestidade, as falhas estruturais da saúde municipal. Enquanto isso, a população segue enfrentando um sistema frágil, moroso e desumanizado — e sem garantias de que as palavras de boa intenção se converterão em ações concretas.
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