
23/08/2019. Credito: Ed Alves/CB/D.A. Press. Brasil. Brasilia - DF. Politica. Cerimonia Dia do Soldado. Presenca do Presidente Jair Bolsonaro com o comandante do Exercito Leal Pujol. Local. Setor Militar Urbano de Brasilia.
Exército vai submeter ao Conselho de Justificação os condenados pelo STF; Bolsonaro e Braga Netto devem ser expulsos
Artigo de Marcelo Godoy para o Estadão.*
Quem questionar o comandante do Exército, general Tomás Paiva, sobre o destino dos réus militares que – ao que tudo indica – serão condenados pelo STF pela tentativa de golpe em 2022 vai ouvir apenas como resposta que a Força vai cumprir a lei.
Assim, quem for condenado a mais de dois anos de prisão será submetido ao Conselho de Justificação. Mas quem pegar menos de dois, não estará isento do tribunal de honra – caso do coronel Cid. Há um consenso na caserna de que ninguém deve escapar “da vala”. Todos que mancharam o Exército vão pagar pelo “show de horrores” (palavras de um general) que proporcionaram.
Bolsonaro chamou os seguidores que não desmobilizou de malucos; Braga Netto jogava vôlei em Copacabana enquanto a turba depredava Brasília. Esqueceram que um comandante jamais se exime de suas responsabilidades, nem transfere a culpa do fracasso a subordinados?
O sentimento dos generais é de vergonha e repulsa. Quem até então estava alheio aos planos bolsonaristas percebeu do que se tratava: a submissão da instituição a interesses de uns poucos, que insuflaram coronéis para que bypassassem generais, quebrando a hierarquia.
Nenhum réu que confessou conhecer as minutas do golpe deu voz de prisão a desordeiros. Em vez disso, comunicações deles, flagradas pela PF, mostram que fizeram operação psicológica contra o Alto-Comando, conforme o Manual de Campanha C45-4, do Exército. Não é por outra razão que o comandante do 1.º Batalhão de Ações Psicológicas foi preso. O tanque bolsonarista não precisou sair do quartel, pois agia na internet.
Para generais, o que os réus fizeram foi pedagógico para a tropa. E a conclusão é que merecem a punição. Será inédito: general submetido ao Conselho de Justificação. Pior do que a condenação civil, será a militar, ao declarar o réu indigno do oficialato. Isso fará Bolsonaro e Braga Netto serem expulsos do Exército. E, desta vez, não há como se safar no STM, pois a perda do posto e patente será automática em razão do tamanho da pena.
Por fim, as Forças Armadas estão se vacinando para o caso de, em 2026, algum aliado de Bolsonaro ganhar a eleição. Já deixaram claro a interlocutores de candidatos da direita que prometeram anistiar Bolsonaro que vão se opor a medidas que signifiquem reintroduzir a baderna na caserna ou vingança por terem se oposto ao golpe.
Ao voltar ao poder, Trump se vingou e demitiu o chefe do Estado-Maior Conjunto, nomeando um general de 3 estrelas para o lugar. Há, no entanto, uma diferença entre os militares brasileiros e os americanos: os brasileiros sabem como expor seus argumentos a quem procura levar indisciplina aos quartéis.
*Repórter especial do Estadão e escritor. É autor do livro A Casa da Vovó, prêmios Jabuti (2015) e Sérgio Buarque de Holanda, da Biblioteca Nacional (2015). É jornalista formado pela Casper Líbero.
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