
O plenário de Barreiras vira arena de embate entre oposição e base governista; denúncias sobre má gestão, clientelismo em terceirizações e infraestrutura em ruínas expõem os custos sociais de uma guerra fria política, sem citar o nome do prefeito
Caso de Política | Luís Carlos Nunes – A sessão da Câmara Municipal de Barreiras, na noite desta terça-feira (08), funcionou como espelho de uma cidade dividida: de um lado, vereadores da oposição vocalizando denúncias graves contra a condução do Executivo; do outro, parlamentares da base tentando demonstrar que, apesar das críticas, há progresso em curso. O que era para ser apenas mais uma reunião do Legislativo local se converteu em uma espécie de tribunal político, onde a crise de gestão e a disputa por protagonismo ficaram escancaradas. O nome do prefeito não foi mencionado, mas pairou como fantasma onipresente.
R$ 53 milhões em terceirizações, saúde desmoronando
João Felipe denuncia contratos de R$ 53 milhões com empresa terceirizada e critica falta de médicos nas unidades de saúde
O vereador João Felipe apresentou um dos ataques mais incisivos da noite. Amparado por extratos do Diário Oficial, denunciou contratos com valores que ultrapassam R$ 53 milhões firmados com a empresa Lincar Locadora e Limpeza Ltda. Para ele, a terceirização de serviços essenciais, como porteiros, assistentes administrativos e condutores de ambulância, esconde um processo de alocação política de cargos, em detrimento do atendimento público direto à população.
“São R$ 13 milhões por ano para manter esse tipo de terceirização. Com esse valor, seria possível contratar os médicos que hoje faltam nas unidades. É dinheiro do Fundo Municipal de Saúde. Isso é um absurdo.”
Silma Alves reforçou as críticas à terceirização, denunciando atrasos salariais, benefícios insuficientes e retenção de mais de 40% dos valores destinados aos trabalhadores: “A prefeitura paga alto, mas quem trabalha recebe pouco. Isso é indigno.”
A vereadora Silma Alves reforçou a denúncia com um viés social. Segundo ela, os trabalhadores contratados por essa empresa enfrentam salários achatados, cestas básicas insuficientes e atrasos nos pagamentos — uma estrutura de exploração institucionalizada.
“Eles comem mais de 40% do valor pago por funcionário. A prefeitura paga alto, mas o trabalhador recebe pouco e ainda sofre com atrasos. Isso é indigno.”
O ataque à precariedade da saúde pública seguiu com João Felipe. O parlamentar classificou como “fantasiosa” a condução da política de saúde mental, denunciando que o CAPS de Barreiras está em ruínas, com estrutura física comprometida. Como agravante, lembrou que pacientes estão sendo enviados a Salvador para exames de endoscopia simples, por falta de credenciamento local.
“Visitem o CAPS. Vejam como a estrutura está. É inaceitável. A unidade móvel de saúde está abandonada, pegando poeira. Isso aqui não é País das Maravilhas.”
Apropriação política e o teatro das vaidades
Allan do Allambick criticou a apropriação de obras por aliados da base na Baraúna, denunciando o uso político de indicações feitas pela oposição: “Tem gente que aparece só para tirar foto. Depois da eleição, viram mandacaru: nem sombra, nem encosto.”
Allan do Allambick elevou a temperatura da sessão ao denunciar que obras e serviços solicitados por ele e por outros colegas da oposição estão sendo apropriados por aliados da base como se fossem suas conquistas. O alvo foi claro: o bairro da Baraúna, onde, segundo ele, indicações de asfalto, reforma de quadra e instalação de quebra-molas vêm sendo publicamente associadas a parlamentares que nada fizeram.
“Tem gente que aparece só para tirar foto, como se tivesse trabalhado. Meus pedidos estão protocolados desde janeiro. Quem não quiser ouvir, que não ouça, mas estamos trabalhando.”
O vereador usou uma imagem forte para ilustrar a prática:
“Na eleição, político lá é igual pé de manga: dá sombra e fruto. Depois, vira mandacaru: nem sombra, nem encosto.”
Graça Melo criticou retaliações políticas nopovoado da Baraúna e o abandono das praças públicas sem parcerias privadas
Graça Melo também criticou a apropriação política e lamentou a exclusão de seu nome de atendimentos pediátricos na Baraúna por motivação política. Para ela, esse tipo de retaliação só enfraquece o atendimento à população. Também mencionou o abandono de praças públicas, apontando que sem parceria com a iniciativa privada, os equipamentos públicos vão continuar deteriorados.
Rodrigo do Mucambo criticou a gestão por negligenciar infraestrutura e priorizar vídeos para o TikTok em vez de obras urgentes
Rodrigo do Mucambo foi direto ao ponto: chamou a atual gestão de “brincadeira de ser prefeito” e ironizou a preferência por “gravar vídeo para o TikTok” enquanto comunidades seguem com pontes quebradas e ruas intransitáveis.
“A ponte da BR-135 está abandonada há anos. E o pessoal fica gravando vídeo em vez de trabalhar. Isso é brincar com a cara do povo.”
Base reage, mas contradições se acumulam
A base tentou ensaiar uma resposta. Tatico destacou obras em andamento, como a remodelação da Rua da Feira e rotatórias. Apesar de reconhecer transtornos, reforçou que seriam etapas de progresso. Dicíola Baqueiro, por sua vez, desviou o foco e exaltou a realização da Cacauicultura 4.0 como símbolo do novo ciclo econômico da região.
“A Cacauicultura é um marco. Temos produtividade dez vezes maior do que a média nacional.”
Mas a tentativa de virar a página da crise esbarrou em contradições internas. Valdemiro, da base, concordou que o CAPS precisa urgentemente de sede própria. Já Yuri Ramon, presidente da Câmara, admitiu o abandono de praças públicas e cobrou solução para uma cratera em uma praça em São Pedro.
“É vergonhoso o estado da praça ali em frente à rodoviária. Isso é o cartão postal de Barreiras.”
Ele também anunciou que a Câmara será informatizada, mas terminou a fala com um apelo: que a Casa disponha de equipe médica para emergências, após um servidor passar mal durante a sessão.
Tetéia Chaves reconheceu que a atenção básica na saúde precisa melhorar, mas buscou dividir responsabilidades com o Estado.
“A regulação é problema do Estado também. A saúde não espera, mas não é só culpa da prefeitura.”
Uma cidade dividida entre o discurso e a prática
A sessão da Câmara evidenciou que Barreiras vive um conflito crônico entre o discurso do marketing institucional e a realidade cotidiana. De um lado, a oposição denuncia o colapso da saúde, a farsa das terceirizações e o uso político de demandas legítimas da população. De outro, uma base que, mesmo buscando mostrar serviço, acaba por admitir, ainda que veladamente, os erros de uma gestão que parece afastada da realidade concreta.
Entre vaidades, silêncios e disputas de protagonismo, o que emerge é o retrato de um município fragilizado por uma administração que precisa mais do que slogans: precisa de ação, transparência e respeito com o dinheiro público.
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