
Impulsionada por condições geográficas únicas e tecnologia, a cacauicultura no Oeste da Bahia consolida-se como um modelo de alta produtividade e sustentabilidade, com potencial para se expandir por outras áreas do MATOPIBA, reforçando o papel vital dos polinizadores para o agronegócio e o meio ambiente, conforme dados do IBGE de 17 de julho
Caso de Política | Luís Carlos Nunes – A emergência do cacau no Oeste da Bahia, uma região tradicionalmente moldada pela monocultura de grãos como soja, milho e algodão, representa uma transformação estratégica e ecologicamente sensível para o agronegócio brasileiro. Essa nova fronteira agrícola, que celebra seus primeiros sete anos, não apenas redefine o potencial produtivo, mas também ressalta uma simbiose crucial: a dependência inegável dos polinizadores animais, conforme detalhado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em seu estudo “Contribuição dos Polinizadores para as Produções Agrícola e Extrativista do Brasil 1981-2023”, divulgado em 17 de julho.
O cacau, classificado pelo IBGE como de “dependência Essencial” à polinização, encontra no Nordeste um cenário de profunda interconexão, onde a contribuição desses seres se aproxima dos 50% do valor da produção agrícola regional.
A consolidação dessa cultura de alta produtividade no cerrado baiano foi um dos pilares da Cacauicultura 4.0, maior evento técnico e institucional do setor no Brasil, que ocorreu entre os dias 10 e 12 de julho de 2025, nos municípios de Barreiras e Riachão das Neves. O encontro, organizado pela Associação de Agricultores e Irrigantes da Bahia (Aiba), reuniu especialistas e produtores para debater o futuro de um setor que se projeta em tecnologia, mercado e, acima de tudo, sustentabilidade.
Dados chave do estudo do IBGE (2023) e relevância para o cacau
- Contribuição Média dos Polinizadores no Valor da Produção (Brasil): 16,14% (com potencial de até 25%).
- Nordeste: Contribuição próxima a 50% do valor da produção agrícola regional.
- Cacau: Classificado como de dependência Essencial de polinizadores. Entre os cultivos permanentes analisados pelo IBGE, 71,4% dependem de polinizadores, e a classe Essencial representa 17,1% desses produtos.
- Municípios com mais de 25% do valor da produção impactado: Aproximadamente 19% dos municípios brasileiros, um crescimento notável em relação a 1996 (15%).
Oeste Baiano: um santuário de vantagens para o cacau essencial
A singularidade do Oeste da Bahia reside em um conjunto de fatores geográficos e climáticos que se harmonizam com as necessidades específicas do cacau, garantindo alta produtividade e uma pegada ambiental diferenciada. Essa combinação cria um ambiente propício que, aliado à tecnologia, otimiza o papel dos polinizadores e, por extensão, o retorno econômico.
- Disponibilidade de Área: A região oferece vastas extensões de terras agricultáveis já consolidadas para grãos, permitindo a expansão da cultura do cacau sem a pressão sobre novas áreas de floresta nativa. Essa diversificação da matriz produtiva promove um uso mais inteligente e intensivo da terra já convertida.
- Recursos Hídricos e Irrigação Controlada: A presença de bacias hidrográficas e a capacidade de implementação de sistemas de irrigação de alta precisão são cruciais. Ao contrário de regiões tropicais úmidas, o clima seco do Oeste da Bahia, quando combinado com a irrigação controlada, otimiza o manejo hídrico, favorecendo o desenvolvimento saudável do cacaueiro e a sustentabilidade no uso da água.
- Clima e Sanidade Fitossanitária: O clima mais seco da região é um fator preponderante na redução da incidência de doenças fúngicas que historicamente afetam a cacauicultura em zonas úmidas. A menor necessidade de aplicação de defensivos agrícolas resulta em um ambiente mais seguro para os polinizadores e, consequentemente, para a saúde dos ecossistemas circundantes, representando um ganho ambiental significativo.
- Tecnologia e Sustentabilidade: O investimento em inovação – da mecanização do plantio à parceria com viveiros tecnológicos para milhões de mudas de padrão genético superior – está intrinsecamente ligado à sustentabilidade. Moisés Schmidt, presidente da Aiba, afirmou que “O cacau está nos mostrando o enorme potencial do oeste baiano para além dos grãos. Estamos construindo uma nova fronteira agrícola, com ganhos expressivos de produtividade e qualidade. E o melhor: com sustentabilidade, agregação de valor e visão de futuro.” Essa visão tecnológica permite uma produção mais eficiente, que busca harmonizar o crescimento econômico com a preservação ambiental.
O cacau do oeste baiano: modelo para o MATOPIBA
O Oeste da Bahia, um componente estratégico do MATOPIBA – vasto acrônimo que abrange áreas de Cerrado do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia –, compartilha características cruciais com essa última grande fronteira de expansão agrícola do Brasil. A similaridade em bioma, clima e a crescente adoção de tecnologias avançadas posiciona a cacauicultura da região como um potencial modelo e disseminador da cultura para essa vasta área.
As razões para o Oeste da Bahia ser um polo irradiador são evidentes:
- Comprovação de Sucesso: A performance surpreendente do cacau em um ambiente não tradicional, com altas produtividades já alcançando entre 150 e 200 arrobas por hectare, serve como prova de conceito.
- Inovação e Sustentabilidade Integradas: O modelo de produção que alia mecanização, rastreabilidade e manejo sustentável, junto à menor incidência de doenças, oferece um caminho replicável para outras áreas do MATOPIBA que buscam diversificação sem comprometer a sustentabilidade.
- Diversificação Estratégica: A introdução do cacau, uma cultura perene de alto valor agregado e com demanda global crescente, oferece uma rota de diversificação que pode estabilizar economias locais e gerar mais empregos, mitigando desafios da monocultura de grãos predominante na região.
- Paralelos com Polinização: A dependência essencial do cacau por polinizadores, destacada pelo IBGE, significa que sua expansão no MATOPIBA reforçaria a necessidade de políticas de conservação de polinizadores em todo o bioma Cerrado, incentivando a manutenção de corredores ecológicos e áreas de reserva que beneficiam toda a biodiversidade.
Panorama da contribuição dos polinizadores pelo Brasil (2023)
A contribuição dos polinizadores para o valor da produção agrícola e extrativista apresenta nuances regionais marcantes, refletindo a diversidade de cultivos e a especialização:
- Norte: Nas culturas permanentes, a contribuição supera 60%, impulsionada por produtos como açaí e cacau (ambos com alta ou essencial dependência). O extrativismo vegetal na região chega a 80% de dependência.
- Nordeste: Como já destacado, a contribuição geral se aproxima de 50%, com frutas como manga e o próprio cacau sendo cruciais.
- Sudeste: Contribuição de 32,5% nas culturas permanentes, incluindo cafés e laranja. O extrativismo vegetal, com destaque para o pequi (dependência Essencial), atinge 75,1%.
- Sul: Nas lavouras permanentes, o indicador é de 31,4%, com a maçã (alta dependência) sendo um dos principais responsáveis. A extração vegetal na região tem contribuição nula para polinizadores.
- Centro-Oeste: Culturas temporárias, como soja e algodão (ambas Modesta), mantêm o indicador em torno de 15%. No extrativismo, produtos como castanha-do-pará e pequi (ambos Essencial) contribuem com mais de 95% do total.
Polinizadores e o dilema agrícola: cacau vs. monoculturas
Os dados do IBGE lançam luz sobre as diferentes relações ecológicas no campo brasileiro. Enquanto o cacau tem uma dependência Essencial de polinizadores, outras culturas predominantes no cenário nacional apresentam dinâmicas distintas:
- Cacau (Dependência Essencial): A fertilização de suas flores é intrinsecamente ligada à ação de polinizadores.
- Soja e Algodão (Dependência Modesta): Apesar de sua vasta escala e valor econômico, essas culturas, predominantes no Oeste da Bahia e Centro-Oeste, têm uma dependência mais branda de polinizadores. No entanto, sua vasta área colhida contribui para que mais da metade (53,5%) da área agrícola nacional seja ocupada por cultivos que, de alguma forma, se beneficiam dos polinizadores.
- Milho, Cana-de-Açúcar e Trigo (Sem Dependência): Essas culturas não dependem de polinizadores, e são responsáveis pela maior parte da quantidade produzida no país (82,4% do total em 2023).
Essa diversidade de dependência ecológica sublinha um desafio para a sustentabilidade do agronegócio: equilibrar a produção de commodities que exigem menos polinizadores com a expansão de culturas como o cacau, que dependem diretamente de ecossistemas saudáveis e da biodiversidade de insetos e animais. No Oeste da Bahia e, por extensão, no MATOPIBA, a aposta no cacau demonstra uma valorização de uma cadeia produtiva que, por sua natureza, incentiva a manutenção da saúde ambiental.
Em suma, a emergente cacauicultura no Oeste da Bahia representa um case emblemático de como a inovação agrícola pode coexistir com a dependência ecológica. A sinergia entre o avanço tecnológico e a indispensável contribuição dos polinizadores, evidenciada pelos dados do IBGE, desenha um futuro promissor para o setor. No entanto, o sucesso a longo prazo dependerá de um compromisso contínuo com a sustentabilidade, assegurando a proteção dos polinizadores para que continuem a ser os invisíveis, mas essenciais, pilares dessa nova e pujante fronteira agrícola brasileira.
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