
Foto: Ricardo Stuckert
Presidente afirma que Brasil não aceitará retaliações comerciais dos EUA, critica carta de Trump com dados sobre o déficit comercial bilateral e anuncia comissão de resposta; entrevistas foram concedidas à Globo e à Record News em 9 de julho
Caso de Política | Luís Carlos Nunes – O presidente Luiz Inácio Lula da Silva reagiu com firmeza à carta enviada por Donald Trump, que recomendava a suspensão de uma proposta de regulação das plataformas digitais no Brasil e ameaçava retaliar o país com tarifas de 50% sobre exportações, caso medidas consideradas “hostis” fossem mantidas. Em entrevistas à TV Globo e à Record, concedidas no dia 9 de julho, Lula classificou a manifestação como um desrespeito à soberania nacional e reafirmou que o Brasil responderá à altura, inclusive com eventuais medidas de reciprocidade comercial.
“Respeito é bom, e eu gosto de dar e de receber”, disse Lula à TV Globo, em entrevista conduzida pela repórter Delis Ortiz.
Segundo ele, a carta revela um desconhecimento sobre o Brasil, suas instituições e a realidade do comércio bilateral.
“Será que ele não tem assessoria para explicar isso?”, ironizou, ao comentar a alegação de Trump de que os EUA estariam em desvantagem nas trocas comerciais com o Brasil.
Lula apresentou dados para rebater a narrativa do ex-presidente norte-americano: nos últimos 15 anos, o Brasil acumula um déficit de cerca de US$ 410 bilhões em relação aos Estados Unidos. Apenas em 2023, o país exportou US$ 40 bilhões e importou US$ 47 bilhões, resultando num saldo negativo de US$ 7 bilhões. O presidente brasileiro destacou ainda que o déficit comercial acumulado entre Brasil e Estados Unidos chega a 410 bilhões de reais, evidenciando que a justificativa norte-americana não encontra respaldo na realidade econômica.
“A motivação política desse ataque é explícita, e Trump está mal informado ao atacar uma relação virtuosa de mais de 200 anos entre os países”, disse.
Com serenidade, Lula ressaltou que o Brasil não deseja conflito, mas que não aceitará “intromissão” em suas decisões soberanas.
“Se o governo americano insistir nessa escalada, a resposta do Brasil será proporcional, com tarifas que podem chegar a milhões de porcentagem. Não aceitaremos desaforo”, alertou.
Na entrevista à Record News, Lula adotou um tom ainda mais direto.
“O que ele escreveu parece uma carta apócrifa. É desinformação misturada com má-fé.” Ele também negou que o governo brasileiro esteja tentando censurar plataformas digitais, como insinuou Trump. Segundo Lula, o objetivo do projeto de lei é combater crimes digitais, inclusive o discurso de ódio e a desinformação.
Em relação à estratégia para enfrentar as tarifas, o presidente explicou que o país buscará negociar junto à OMC e articulando com outros países. Caso não haja solução, a lei sancionada por ele em abril de 2025, que permite a retaliação tarifária, será aplicada a partir de 1º de agosto, data prevista para o início das taxas americanas.
Lula também anunciou a formação de uma comissão de negociação que reunirá empresários exportadores para avaliar os impactos das tarifas e coordenar a resposta do Brasil.
“Espero que os empresários estejam aliados ao governo. Quem não estiver, não tem orgulho de ser brasileiro”, disse.
Sobre o contexto diplomático, Lula afirmou que enviou uma carta parabenizando Trump pela eleição, mas que não houve contato posterior entre os dois presidentes.
“Eu não tenho motivo para conversar com Trump até agora, ele não me deu motivo”, ressaltou, criticando a forma desrespeitosa como a decisão foi anunciada, publicada em site oficial sem qualquer comunicação prévia.
O presidente lembrou ainda o papel estratégico do bloco dos BRICS, que representa metade da população mundial e quase 30% do PIB global, ressaltando a soberania dos países integrantes e a busca por alternativas ao dólar no comércio internacional.
“O Brasil não se intimidará por ameaças e continuará fortalecendo sua autonomia econômica e política”, afirmou.
Dados da Organização Mundial do Comércio mostram que os principais destinos das exportações brasileiras em 2022 foram a China (26,8%), a União Europeia (15,2%) e só depois os EUA (11,4%). As exportações brasileiras para os EUA representam menos de 2% do PIB nacional.
Na entrevista, Lula também abordou críticas à sua visita à ex-presidente argentina Cristina Kirchner, atualmente em prisão domiciliar por corrupção. Ele explicou que a visita foi humanitária, autorizada pela Justiça argentina, e destacou que respeita a autonomia dos países em suas decisões judiciais.
Em resposta à tentativa de golpe e à trama de mortes vinculadas ao ex-presidente Bolsonaro, Lula enfatizou o funcionamento da Justiça brasileira.
“Se Bolsonaro for culpado, será condenado e preso. Se inocente, será absolvido. É assim que funciona a lei no Brasil”, concluiu.
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