
Estudo do IBGE, divulgado em 17 de julho, revela que a contribuição de polinizadores para a produção brasileira atinge 16,14% do valor, mas se eleva a quase metade no Nordeste, impulsionando a economia de culturas como o cacau e as frutas da Bahia, enquanto a expansão de monoculturas apresenta um cenário de dependência diferenciado
Caso de Política | Luís Carlos Nunes – A vital e crescente dependência da agricultura brasileira em relação à polinização por animais e insetos ganha contornos ainda mais nítidos na região Nordeste.
Enquanto, em média, esses seres contribuem com 16,14% do valor total da produção agrícola e extrativista do país (com projeções variando entre 5% e 25% do total), no Nordeste esse índice consistentemente se aproxima dos 50%, sublinhando a importância estratégica desses agentes para a economia local.
A informação é parte do estudo experimental “Contribuição dos Polinizadores para as Produções Agrícola e Extrativista do Brasil 1981-2023”, divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) na última quinta-feira, 17 de julho.
O levantamento, que analisou dados da Produção Agrícola Municipal (PAM) e da Produção da Extração Vegetal e Silvicultura (PEVS), aponta um crescimento significativo dessa dependência desde 1996, quando o índice médio nacional era de 14,4%.
Para as lavouras temporárias, a média de dependência subiu de 7,3% em 1996 para 12,0% em 2023. Nas permanentes, o crescimento foi de 36,4% para 38,7%. O extrativismo vegetal registrou o salto mais expressivo, saindo de 21,8% em 1996 para notáveis 47,2% em 2023, evidenciando uma parceria fundamental para a biodiversidade e a economia.
Dados chave do estudo (2023)
- Contribuição Média dos Polinizadores no Valor da Produção (Brasil): 16,14%;
- Municípios com mais de 25% do valor da produção impactado: Aproximadamente 19% (eram 15% em 1996);
Produtos da PAM dependentes de polinização animal: 52,2% (de 67 produtos investigados);
- Cultivos Temporários: 31,3% dependem (10 de 32 produtos);
- Cultivos Permanentes: 71,4% dependem (25 de 35 produtos);
Produtos da PEVS dependentes de polinização animal: 39,3% (11 de 28 produtos);
Com destaque para classes Essencial (32,1%) e Alta (3,6%);
- Área Colhida total ocupada por produtos de dependência Modesta: 53,5% (crescimento de 39% em 1975);
- Área Colhida total ocupada por produtos Sem Dependência: 43,8% (redução de 53,4% em 1975);
- Quantidade Produzida Nacionalmente de produtos dependentes: 17,6% do total.
Nordeste: O coração da polinização, com destaque para a Bahia
A pesquisa do IBGE coloca o Nordeste em posição de destaque na contribuição dos polinizadores. Com uma predominância de culturas permanentes altamente dependentes da ação desses seres, a região manteve sua contribuição próxima à marca de 50% ao longo de todo o período analisado.
Na Bahia, em particular, a riqueza da flora e o valor de produtos como o cacau (com dependência Essencial), a manga (Alta) e o umbu (Essencial) são reflexos diretos dessa simbiose. A polinização animal e de insetos é a chave para a produtividade e a qualidade desses cultivos, que não apenas compõem a identidade agrícola baiana, mas também representam significativa fatia da economia local e regional. Essa interconexão sublinha a urgência de políticas de conservação para esses ecossistemas, garantindo a prosperidade agrícola e a sustentabilidade ambiental.
Monoculturas no agronegócio: um contraponto na dependência da polinização
Enquanto a importância dos polinizadores cresce para diversas culturas, o estudo do IBGE também ilumina a dinâmica do agronegócio e das monoculturas. Cultivos temporários dominam grande parte da área cultivada no Brasil e são os principais determinantes dos padrões observados nacionalmente. Produtos como o milho, a cana-de-açúcar e o trigo são classificados como “Sem Dependência” de polinizadores, indicando que sua produção não é diretamente influenciada por esses agentes.
A soja, por sua vez, embora presente entre os cinco principais produtos com dependência de polinizadores em todas as regiões, possui uma dependência classificada como Modesta. Contudo, devido ao seu vasto volume de produção e valor econômico, a soja exerce um impacto significativo no valor total associado à polinização em nível nacional.
Para as lavouras temporárias, por exemplo, embora 68,8% dos produtos sejam classificados como “Sem Dependência”, a classe “Modesta” ocupou cerca de 54,2% da área colhida em 2023, frente a 45,5% dos produtos “Sem Dependência”. Em termos de quantidade produzida nacionalmente, os cultivos de dependência Modesta respondem por 15,9% do total, enquanto os “Sem Dependência” ainda dominam com 82,4%.
No contexto do Nordeste, essa realidade da monocultura, especialmente da soja, cria um paralelo interessante. Embora a região seja fortemente marcada por suas culturas permanentes de alta dependência, a expansão de lavouras como a soja (de dependência modesta) também ocorre. Essa dualidade demonstra a complexidade da matriz agrícola brasileira, onde diferentes sistemas de produção coexistem com variados níveis de dependência ecológica, impactando a paisagem e a biodiversidade de formas distintas em cada região.
Panorama regional da polinização (2023): destaques e diferenças
A contribuição dos polinizadores para o valor da produção agrícola e extrativista apresenta nuances regionais marcantes:
Norte
- Culturas Temporárias: Ligeiramente superior a 10%. Principal produto: Soja (Modesta).
- Culturas Permanentes: Supera os 60%. Principais produtos: Açaí (Alta), Café Canephora (Alta), Cacau (Essencial).
- Extrativismo Vegetal: Contribuição em torno de 80%. Principal produto: Açaí (Alta).
Nordeste
- Contribuição Geral: Próxima de 50% ao longo do período.
- Culturas Temporárias Dependentes: Destaque para Soja (Modesta) e Algodão (Modesta).
- Culturas Permanentes: Frutas como Manga (Alta), Cacau (Essencial), Uva (Pouca) são relevantes.
- Extrativismo: Babaçu (Modesta), Açaí (Alta) e Umbu (Essencial) se destacam.
Sudeste
- Culturas Temporárias: Indicador em torno de 16%. Principais produtos: Soja (Modesta) e Tomate (Modesta).
- Culturas Permanentes: Contribuição de 32,5%. Principais produtos: Café Canephora (Alta), Café Arábica (Modesta), Laranja (Modesta).
- Extrativismo Vegetal: Contribuição atingiu 75,1%. Destaque para o Pequi (Essencial).
Sul
- Lavouras Temporárias: Indicador de 11%. Destaque para Soja (Modesta), Feijão (Modesta) e Tomate (Modesta).
- Culturas Permanentes: Indicador de 31,4%. Destaque para Maçã (Alta) e Uva (Pouca).
- Extração Vegetal: Produtos principais (erva-mate e pinhão) não são dependentes, resultando em valores nulos de contribuição.
Centro-Oeste
- Culturas Temporárias: Permaneceu em torno de 15%. Principais produtos: Soja (Modesta) e Algodão (Modesta).
- Culturas Permanentes: Níveis de dependência semelhantes aos das temporárias.
- Extrativismo Vegetal: Contribuição superior a 95% do total produzido. Destaque para Castanha-do-Pará (Essencial) e Pequi (Essencial).
Leonardo Bergamini, analista da Coordenação de Meio Ambiente do IBGE, reforça a importância da continuidade desse serviço ambiental:
“Superar esses desafios exige investimentos em pesquisa e estratégias que garantam a continuidade desse serviço fundamental para a manutenção dos ecossistemas como um todo, de onde obtemos outros benefícios como a purificação do ar e da água”.
O relatório do IBGE não apenas quantifica um serviço essencial, mas também serve como um alerta para a necessidade premente de proteger e restaurar as populações de polinizadores, ameaçadas por fatores como perda de habitat, uso de pesticidas e mudanças climáticas. A conservação desses parceiros invisíveis é, portanto, um investimento direto na segurança alimentar e no futuro da economia agrícola brasileira.
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