
Sob o pretexto de “defender a democracia e Bolsonaro”, a tarifa de 50% imposta por Trump mira a desdolarização liderada pelos BRICS e expõe sua estratégia de chantagem diplomática. A medida atinge em cheio o Brasil — e, por ironia, também os próprios Estados Unidos
Caso de Política | Luís Carlos Nunes – O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, conhecido por seu estilo de negociação agressivo e sua diplomacia da chantagem, anunciou uma tarifa de 50% sobre todas as exportações brasileiras a partir de 1º de agosto de 2025.
Embora justificada como defesa de Jair Bolsonaro contra o Supremo Tribunal Federal (STF) e o ministro Alexandre de Moraes, a medida é uma jogada calculada para conter a ascensão dos BRICS e sua busca por desdolarização, que visa fundamentalmente uma nova ordem mundial multipolar.
O ataque, em tom mais agressivo do que os enviados a outros países, revela um explícito viés ideológico e uma interferência direta no ordenamento jurídico brasileiro. O episódio, assim, expõe o bolsonarismo como um instrumento da agenda de Trump, ou seja, peões em um tabuleiro global.
A carta de Trump a Lula, divulgada por Eduardo Bolsonaro, critica o STF e acusa Moraes de “censura e perseguição política”. Trump repetiu seu mantra de “caça às bruxas”, usado em seus próprios processos criminais, e chegou a exigir diretamente de Lula o fim do julgamento de Bolsonaro, aglutinando as funções do Executivo e do Judiciário ao determinar o fim de um processo que cabe exclusivamente ao ordenamento jurídico brasileiro.
Assim como em casos anteriores, como a ameaça de tarifas contra a Colômbia por deportações – que levou à capitulação do governo Petro –, Trump usa seu poder econômico para coagir. Contudo, no caso brasileiro, o desequilíbrio comercial não serve de pretexto, pois os EUA possuem um raro superávit com o Brasil, escancarando o incômodo com os BRICS. Para o STF, a manobra de Trump também sinaliza uma possível rota de asilo para Bolsonaro, caso ele tente fugir de processos judiciais no Brasil.
Na prática, a tarifa representa muito mais. Ela é uma tentativa de punir o Brasil por sua ativa liderança, sob a presidência de Lula, na agenda de desdolarização do BRICS (bloco que inclui Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul, Arábia Saudita e outros). Para os Estados Unidos, a desdolarização é uma ameaça existencial à sua hegemonia e, por consequência, à ordem global unipolar que sustentaram por décadas.
O dólar é o pilar de sua influência geopolítica, permitindo que os EUA imponham sanções a adversários e controlem fluxos financeiros. Ao atacar o Brasil, Trump envia um recado claro a outras nações sobre as consequências de se alinhar a esse movimento que desafia a ordem estabelecida.
E, com uma dose peculiar de ironia e a já conhecida arrogância tipicamente trumpista, a carta ainda sugere uma “solução” para o imbróglio:
“Se o senhor desejar abrir seus mercados comerciais, até agora fechados, para os Estados Unidos e eliminar suas tarifas, políticas não tarifárias e barreiras comerciais, nós poderemos, talvez, considerar um ajuste nesta carta.” Essa “generosa” oferta para um “campo de jogo nivelado”, vinda de um país que goza de um raro superávit comercial com o Brasil, sublinha o caráter de chantagem diplomática, visando forçar concessões unilaterais sob a mira de uma sanção bilionária.
Golpe na economia, aplauso de bolsonaristas
O impacto na economia brasileira será bilionário. Com US$ 35 bilhões em exportações para os EUA em 2024, setores como carne, aço, aeronaves e agronegócio (fortemente concentrados em São Paulo, maior exportador) serão inviabilizados pela tarifa, gerando perda de empregos e arrecadação. Mesmo assim, a base bolsonarista aplaudiu a medida. Deputados e governadores como Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP) — cujo estado será o mais afetado — preferiram culpar Lula ou o STF, revelando uma lealdade a Trump que se sobrepõe ao interesse nacional. O silêncio constrangedor de líderes como Hugo Motta (Câmara) e Davi Alcolumbre (Senado) reforçou essa abdicação da defesa da soberania.
Resposta diplomática e tarifa bumerangue: prejuízos também para os EUA
A resposta do governo Lula foi imediata e firme. O Palácio do Planalto simbolicamente “devolveu” a carta de Trump ao encarregado de negócios dos EUA em Brasília, Gabriel Escobar, classificando-a como ofensiva e imprecisa. Lula já havia respondido publicamente a Trump, afirmando que o Brasil é “um país soberano” e não aceita “interferência ou tutela de quem quer que seja”. Além dessa forte sinalização diplomática, o Brasil prepara retaliações via Lei de Reciprocidade Econômica, incluindo suspensão de patentes ou taxação de lucros de multinacionais americanas.
A medida de Trump não será sem custos para os próprios Estados Unidos. O aumento de preços de produtos brasileiros elevará a inflação para consumidores e encarecerá insumos para indústrias americanas. Especialistas como o Nobel de Economia Paul Krugman classificam a ação de Trump como “maligna e megalomaníaca”. Paradoxalmente, ao politizar o comércio e usar o dólar como arma, Trump pode acelerar a busca global por alternativas à moeda americana, impulsionando ainda mais os BRICS e o sonho de uma reconfiguração da arquitetura financeira e de poder global.
Uma direita fora da realidade
O episódio consolidou o bolsonarismo como uma força política umbilicalmente atrelada a interesses estrangeiros e alheios aos do próprio povo. A retórica de “patriotismo” dessa direita se desfez diante da obediência cega ao trumpismo. Enquanto Trump usa Bolsonaro como pretexto para um jogo geopolítico maior, os supostos defensores da liberdade e da economia de mercado se tornam cúmplices de uma medida protecionista que punirá o próprio povo. A grande contradição está exposta: a direita brasileira agora precisa explicar como se transformou em peão do castigo imposto ao seu próprio país.
Caso de Política | A informação passa por aqui.
#Geopolitica #BRICS #Desdolarizacao #NovaOrdemMundial #TarifaTrump #BolsonarismoPeoes #TiroPelaCulatra #BlefeDeNegociacao #DiplomaciaDaChantagem #BrasilSoberano #AnalisePolitica