
Foto: Dircom Barreiras
Iniciada em 2022, a avenida que deveria ser marco de mobilidade se tornou um retrato do desperdício, das falhas técnicas e da insensibilidade com a população; novos reparos foram anunciados nesta segunda-feira (4), mas a insegurança e os transtornos persistem
Caso de Política | Luís Carlos Nunes – Obra com data de início, mas sem fim confiável. A Avenida Enock Ismael, localizada na Serra do Mimo em Barreiras, voltou a ser manchete nesta segunda-feira (4) após a Prefeitura anunciar “novas intervenções” para implantação de iluminação em LED e construção de passeios. O anúncio, porém, não trouxe alívio, mas revolta – para moradores e especialistas, a via se tornou um exemplo gritante de uma obra que, ao invés de resolver, cria problemas.
O que deveria ser entregue pronto, bem executado e funcional, ainda depende de correções três anos depois de iniciado. O que a Prefeitura agora trata como “novas melhorias” são, na verdade, benfeitorias que já deveriam estar presentes na entrega original da obra, como drenagem adequada, passeios laterais, iluminação e segurança viária. A omissão desses itens na execução inicial revela a precariedade do planejamento e reforça o caráter improvisado de um projeto que se arrasta e consome recursos públicos de forma sucessiva.
Desde sua inauguração parcial em 2022, a avenida soma episódios de deslizamentos, alagamentos, muros cedendo e solo mal compactado. Mesmo assim, os releases institucionais insistem em pintar um cenário otimista e desconectado da realidade. Nesta nova fase, o prefeito Otoniel Teixeira afirma que as intervenções “vão além da estética urbana”. No entanto, para quem vive nos arredores ou precisa passar pela via, o que vai além mesmo são os transtornos acumulados e os custos – materiais e humanos.
Realidade à prova da chuva
Em 15 de outubro de 2024, uma chuva leve foi o suficiente para provocar o deslizamento de parte do aterro da avenida, ameaçando casas vizinhas. Moradores registraram o momento em vídeo, enquanto técnicos apontavam falhas graves: o solo escolhido não possuía coesão, a drenagem era insuficiente e a vegetação que antes ajudava na infiltração da água havia sido removida sem medidas compensatórias.
“Nem choveu direito e o aterro já está cedendo! Fizeram isso só por causa da política”, desabafou um morador.
A gravidade do caso não foi pontual. Em dezembro, vídeos nas redes sociais mostravam verdadeiras cachoeiras pluviais descendo pela pista, invadindo garagens e danificando imóveis. A cada anúncio da prefeitura, mais dúvidas: os reparos são medidas corretivas ou tentativas de mascarar um projeto nascido com falhas estruturais?
Promessas que escorrem com a água
Em novembro de 2024, o então prefeito Zito Barbosa e o secretário João Sá Teles exaltaram como avanço as intervenções para guias de meio-fio e estabilização de taludes. Só que esses itens deveriam ter sido parte da concepção inicial da obra. Anunciar “estabilização” depois da terra já ter deslizado é, no mínimo, confissão de erro — ou de negligência.
Parlamentares também se somaram à crítica. Em outubro, vereadores realizaram vistorias na área e denunciaram publicamente a falta de licenciamento ambiental, riscos de novos deslizamentos e ausência de transparência. A própria vereadora Carmélia questionou em vídeo: “Sinceramente, não compreendo como é que deram licença ambiental para isso aqui”.
A visita dos parlamentares apenas reforçou o que moradores já apontavam: a obra foi tocada com pressa e sem o cuidado técnico necessário. O projeto que nasceu como promessa de mobilidade e modernidade, hoje impõe riscos diretos à população.
Descaso com o erário e a população
Embora a prefeitura insista em promessas de progresso, a sucessão de falhas e o vaivém de equipes e máquinas demonstram que a Avenida Enock Ismael se transformou em um buraco negro de recursos públicos. Em vez de planejamento urbano, prevalece a lógica do improviso. Em vez de mobilidade, insegurança.
A comunidade, cansada de anúncios, exige respostas e, mais do que isso, soluções técnicas definitivas. Porque obras públicas não devem servir à propaganda – devem servir à população.
A persistência nos erros e a ausência de responsabilização transformam a avenida em uma metáfora concreta de uma gestão que prefere inaugurar do que planejar, e prefere remendar do que admitir falhas. Com a temporada de chuvas se aproximando, a Enock Ismael deixa de ser apenas uma via — e passa a ser um alerta.
Se não houver uma reestruturação completa, com auditoria, correções técnicas e respeito à população, não restará dúvida: a Avenida Enock Ismael terá sido uma estrada pavimentada com desperdício, imprudência e descaso.
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