
Foto: Ricardo Stuckert
Após sobretaxas dos EUA, governo brasileiro vê na Índia – pouco explorada por exportadores – uma alternativa estratégica para ampliar o comércio, diversificar a pauta e avançar em novo acordo com o Mercosul
Caso de Política | Luís Carlos Nunes – Alvos recentes das sobretaxas impostas por Donald Trump, Brasil e Índia se movimentam para aprofundar suas relações comerciais e reverter o impacto das medidas adotadas pelos Estados Unidos. Em ofensiva coordenada, o governo brasileiro mira o mercado indiano em três frentes: ampliação da pauta exportadora, conquista de novos espaços no setor energético e negociação de um novo patamar no acordo comercial vigente com o Mercosul.
O movimento antecedeu o anúncio do tarifaço de Trump, mas foi acelerado após a decisão dos EUA de sobretaxar produtos dos dois países em até 75%, sob o argumento de que mantêm vínculos estratégicos com a Rússia, sobretudo na área energética. Segundo a CNN, o Brasil enxerga nesse cenário uma janela de oportunidade para disputar fatias de mercado com a Rússia no fornecimento de petróleo à Índia – que importa 30% de seu petróleo dos russos e apenas 1% dos brasileiros.
Apesar da baixa participação nas importações indianas, o petróleo já figura como o segundo principal item exportado pelo Brasil para o país asiático. O governo aposta que, em caso de recuo nas compras de petróleo russo, o Brasil poderá ocupar parte desse espaço ao lado de países do Oriente Médio.
Outra frente da estratégia envolve a ampliação da presença de produtos agrícolas no mercado indiano. Desde o início do terceiro mandato de Luiz Inácio Lula da Silva, o Ministério da Agricultura tem priorizado a diversificação de mercados. Estudos técnicos apontam que há potencial de expansão nas vendas de óleos vegetais, algodão, etanol, feijões, pulses, genética bovina e frutas. Outros setores como carne de frango, pescado, café e suco de laranja também têm buscado espaço.
Mas a maior barreira está nas tarifas indianas. Atualmente, os principais produtos agrícolas brasileiros enfrentam altos impostos na entrada do mercado indiano. O acordo de comércio preferencial entre Índia e Mercosul, vigente desde 2009, cobre apenas 14% das exportações brasileiras ao país. São 450 categorias de produtos beneficiadas, em um universo de quase 10 mil, com reduções tarifárias limitadas entre 10% e 20%.
A meta do governo brasileiro é clara: ampliar o número de produtos contemplados, sobretudo do agronegócio, e negociar cortes mais significativos nas tarifas, além da eliminação de barreiras não tarifárias.
O esforço diplomático ganhou impulso em julho, durante a visita oficial do primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, a Brasília. Na ocasião, os dois países assinaram acordos de cooperação em áreas como segurança, energia e transformação digital. O Planalto vê na Índia, hoje o país mais populoso do planeta e em acelerado processo de industrialização, um mercado estratégico ainda pouco explorado por exportadores brasileiros.
Em meio à tensão comercial com os EUA, a aproximação entre Brasil e Índia é parte de uma reorganização pragmática do comércio exterior brasileiro, que busca reduzir vulnerabilidades e fortalecer alianças em mercados emergentes.
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