
Em meio à costura de uma “dosimetria” para golpistas por Temer, Aécio e Paulinho da Força, Lula minimiza punição a Bolsonaro, enquanto o “pacto republicano” evoca fantasmas do passado e reacende o debate sobre a impunidade
Caso de Política | Luís Carlos Nunes – Em meio a um cenário onde a impunidade ensaia seus passos mais ousados, a figura de Aécio Neves ressurge, quase telúrica, como se a República só tivesse paz quando ele aparece em cena. Ao lado de Michel Temer e do incansável Paulinho da Força, arma-se a “dosimetria”, esse projeto que mais parece um afago aos que tentaram incendiar Brasília em 8 de janeiro. Enquanto isso, Lula, fiel à sua ambiguidade característica, ensaia um gesto de clemência e relativiza a pena de Bolsonaro – uma coreografia que só aumenta a sensação de que, no Brasil, a Justiça é sempre um espetáculo de improviso.
A “aspiração” de Aécio, que costuma farejar crises como poucos, o coloca novamente no centro do palco nos momentos em que a nação cambaleia. Seu histórico nebuloso não o impede de posar como articulador indispensável, como se a memória nacional tivesse prazo de validade curto. Sua participação na trama da “dosimetria” funciona como um lembrete incômodo: no jogo político brasileiro, as cartas raramente são mostradas de frente – e, quando são, é porque já não têm mais valor.
Temer, por sua vez, com a destreza de um equilibrista em corda bamba, tenta vender a “dosimetria” como alternativa à anistia. Tradução: uma forma elegante de suavizar punições sem chamar a coisa pelo nome. Não custa lembrar que o mesmo Temer já defendeu, em tempos de impeachment, um tal de “pacto nacional, com o Supremo, com tudo” – e pelo visto a fórmula continua rendendo dividendos.
No pano de fundo, a sombra de Bolsonaro paira. Sua pena de 27 anos e 3 meses soa cada vez mais como peça de ficção jurídica, ainda mais quando Lula, segundo revelou Igor Gadelha, do Metrópoles, teria resumido:
“Se ele ficar dois, três anos preso, já tá bom”.
A declaração, quase resignada, soa como a trilha desafinada de um concerto político já marcado pelo improviso e pelo cansaço. O eco de suas palavras revela um paradoxo: quem deveria defender a rigidez da lei parece se contentar com a leniência de ocasião.
Nos bastidores, o aroma de enxofre é inconfundível. Aécio, Temer e a força de Paulinho da Farça – todos veteranos em polêmicas – ocupam novamente a ribalta, levantando dúvidas sobre a real capacidade do Brasil de virar a página. A cada tentativa de “pacto republicano”, o país parece apenas reforçar o enredo recorrente: a lei moldada à conveniência dos protagonistas.
O futuro da democracia e da justiça brasileiras, portanto, continua suspenso por um fio frágil. A “dosimetria” e a relativização da pena dos golpistas não são alternativas distintas, mas faces de uma mesma moeda: a da impunidade travestida de conciliação. Cabe à sociedade decidir se assiste passivamente a mais esse espetáculo ou se exige, de fato, que a história seja escrita com rigor, sem atalhos e sem perdão fácil para quem atentou contra a democracia.
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