
Pastor-empresário, antes vítima de “perseguição religiosa”, agora confirma que material levado pela Polícia Federal servia para preparar vídeos – exatamente como apontam investigações sobre tentativa de obstrução judicial
Pastor admite que cadernos apreendidos pela PF eram usados para vídeos políticos – e não só para pregações
Caso de Política | Luís Carlos Nunes – O pastor Silas Malafaia, líder da Assembleia de Deus Vitória em Cristo (ADVEC), mudou sua versão sobre os cadernos apreendidos pela Polícia Federal em 20 de agosto. Em discurso durante o ato bolsonarista na Avenida Paulista, no último dia 7 de setembro, Malafaia admitiu que o material – antes descrito como “esboços bíblicos” – também era usado para preparar vídeos e discursos políticos. A revelação confirma o que já constava no relatório da PF sobre sua atuação em suposto conluio com Jair Bolsonaro para coagir o Supremo Tribunal Federal (STF).
Interceptado no Aeroporto Internacional do Galeão, no Rio de Janeiro, ao retornar de Portugal, Malafaia teve o celular, passaporte e cadernos de anotações apreendidos. Até então, sustentava que os cadernos continham apenas reflexões religiosas. “Sou à moda antiga”, disse, tentando justificar o uso do papel como ferramenta espiritual. Mas a fé, ao que parece, também serve para rascunhar estratégias de comunicação política.
Do púlpito ao palanque
Durante o ato bolsonarista, Malafaia relatou que um delegado “educado” folheou os cadernos e identificou um deles como sendo usado para vídeos. “O delegado disse: ‘Pastor, eu vou liberar esses três cadernos, mas esse aqui eu vou segurar’”, contou. A seguir, em tom dramático, comparou a operação à atuação da Gestapo, sugerindo que Brasília virou cenário de perseguição religiosa – uma analogia que, além de historicamente desonesta, ignora o conteúdo político explícito do material apreendido.
Segundo reportagem de Igor Mello, publicada pelo ICL Notícias, o relatório da PF aponta que Malafaia teria usado sua influência nas redes sociais para pressionar o STF a não condenar Bolsonaro pela tentativa de golpe em 2022. A estratégia envolveria vídeos, discursos e até lobby internacional, com articulações lideradas por Eduardo Bolsonaro para aplicar sanções contra autoridades brasileiras.
A PF recuperou conversas entre Malafaia e Bolsonaro que haviam sido apagadas do celular do ex-presidente. O pastor, que já publicou mais de 50 vídeos atacando o ministro Alexandre de Moraes, é apontado como peça-chave na campanha de intimidação institucional. “Ditador da toga” é uma das expressões favoritas do líder religioso, que parece confundir liberdade de expressão com licença para coagir.
Da Bíblia ao roteiro político
A mudança de versão sobre os cadernos não é apenas uma correção de curso – é uma confissão tardia. Malafaia, que se apresenta como defensor da fé, parece ter descoberto que o papel aceita tudo: versículos, scripts de vídeo e estratégias de desinformação. A fé, nesse caso, virou ferramenta de mobilização política, e os cadernos, longe de serem apenas devocionais, revelam um pastor que também é roteirista de narrativas golpistas.
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