
Em sessão da Câmara Municipal, Rider Castro (União Brasil) cita Donald Trump e “pesquisas em andamento” para ligar Tylenol ao autismo, mas é taxativamente desmentido pela pediatra e vereadora Dra. Graça Melo. Rider Castro, visivelmente perturbado e constrangido, insiste em sua tese sem embasamento
Caso de Política | Luís Carlos Nunes – Em um momento de profunda irresponsabilidade e propagação de desinformação, o vereador Rider Castro (União Brasil) utilizou a tribuna da Câmara Municipal de Barreiras, na Bahia, nesta quarta-feira (24), para defender a tese de que o Tylenol estaria relacionado ao autismo. A fala, que carece de qualquer embasamento científico sólido e vai de encontro a pareceres de renomadas agências de saúde globais e nacionais, como a Anvisa e a OMS, gerou constrangimento e foi prontamente rebatida pela vereadora e pediatra Dra. Graça Melo.
“Eu quero trazer aqui um apontamento. Eu sei que as pessoas, de um modo geral, são bem informadas nesse momento que a gente vive de muita tecnologia, de conectividade, mas essa semana, o senhor sabe, que é o atual presidente Donald Trump, ele citou a existência de ligação entre o uso do analgésico na gravidez e o Transtorno do Espectro Autista (TEA). O caso ganhou repercussão no Brasil, sobretudo entre as mães de crianças com o diagnóstico de autismo. Por causa disso, há uma pesquisa que está em andamento, não é conclusiva, mas que já traz dados alarmantes, nos Estados Unidos. E foi divulgada essa semana. Imagine, né? A cada 12 mil crianças, uma nasce com autismo. Essa pesquisa, que está sendo divulgada, que foi falada inclusive pelo presidente Donald Trump, não é conclusiva, mas traz um alerta, que o uso do Tylenol durante a gravidez está associado ao aumento do risco de autismo. Eu sei que há muitos médicos, e eu respeito muito, que não concordam com essa tese, mas…”, disse o vereador.
A fala de Rider Castro soou como um eco preocupante de desinformação, especialmente considerando o contexto global e a recente publicação da Agência Brasil de Notícias, que, com base em informações da Anvisa, desmentiu veementemente qualquer ligação científica entre o uso de paracetamol (princípio ativo do Tylenol) durante a gravidez e o autismo. A agência reguladora brasileira classifica o paracetamol como um medicamento de baixo risco e de uso seguro, liberado sem necessidade de receita médica.
A resposta da Pediatra e Vereadora Dra. Graça Melo
A vereadora e pediatra Dra. Graça Melo rebateu de forma contundente declarações sem embasamento científico sobre a relação entre paracetamol e autismo. Em sua fala, ela destacou o posicionamento da Anvisa, da OMS e de agências internacionais, afirmando que não há comprovação científica dessa ligação e alertando para os riscos da desinformação às mães de crianças autista
Diante das declarações sem fundamento científico, a vereadora e pediatra Dra. Graça Melo interveio de forma contundente para desmentir as alegações de Castro, trazendo o respaldo da ciência e da prática médica para o debate. Em sua fala integral, ela explicou:
“Com todo o respeito ao nobre vereador, mas o que ele acabou de explanar, o que ele acabou de colocar aqui, o que ele acabou de defender, não tem nenhum embasamento científico. A Anvisa, que é a agência que regula, que fiscaliza, que tem a responsabilidade de nos dar segurança quanto aos medicamentos, ela já se pronunciou, assim como a Organização Mundial de Saúde, assim como as agências reguladoras da Europa, dizendo que não há nenhuma comprovação científica que ligue o Tylenol, o paracetamol, ao autismo. Pelo contrário, o paracetamol é um medicamento de baixo risco, inclusive, ele é liberado sem receita médica. E o autismo, ele é um transtorno muito complexo, multifatorial, que pode ser ocasionado por diversos fatores, que são inclusive genéticos. Então, não é um medicamento que vai ter uma relação tão direta assim. Essa notícia que o nobre vereador disse que foi dada pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, inclusive já foi desmentida. Ele disse que havia uma ligação, mas depois recuou, e isso não tem nenhuma comprovação. E o que mais me preocupa, e eu sei que isso causa grande apreensão nas mães, é a desinformação. As mães que têm filhos com autismo, muitas vezes já se culpam pelo fato de o filho ter o transtorno. Então, quando nós levamos essas informações sem o devido embasamento científico, nós acabamos culpabilizando mais ainda essas mães. E isso não é justo. O autismo, ele não tem causa única. Ele é multifatorial, e o paracetamol não é causa do autismo. Pelo contrário, quando uma gestante, ela está com febre ou com dor, é importante que ela procure um médico, e o médico vai prescrever a medicação que seja segura. E geralmente é o paracetamol, por ser um medicamento de baixo risco. Se não for o caso, o médico vai indicar outra medicação.”
Rider Castro insiste em tese sem fundamento, visivelmente perturbado
A médica, com a autoridade de quem lida diariamente com a saúde, buscou trazer a realidade científica para o debate, enfatizando a segurança do Tylenol, conforme já amplamente divulgado por órgãos de saúde confiáveis. A OMS e a Agência de Medicamentos da União Europeia também emitiram comunicados semelhantes, reforçando a ausência de evidências científicas conclusivas que corroborem a tese defendida pelo vereador. No entanto, o vereador Rider Castro, demonstrando claro desconforto e constrangimento com a intervenção da colega, buscou reforçar sua posição, sem apresentar novas evidências:
“Há muitos relatos, e a gente vê essa pesquisa sendo divulgada, e eu quero trazer esse dado para cá para alertar, para que as mulheres grávidas, as gestantes, tenham mais atenção com o uso de Tylenol durante a gravidez. Eu sei que é desconcertante, eu sei que é difícil para muitas pessoas aceitarem, mas essa pesquisa vai virar confirmação, com certeza. Nós ainda não temos, como eu disse, a pesquisa conclusiva, mas já temos dados alarmantes que levam a gente a crer que realmente o uso do Tylenol, ou do paracetamol, pode sim, como em outros medicamentos, causar o autismo.”
A opinião do Portal Caso de Política
É no mínimo surreal observar um representante eleito, em pleno século XXI, propagar teorias conspiratórias sem qualquer fundamento, parecendo mais um repetidor de “fake news” de ocasião do que um fiscal do povo. Acreditava-se que o tempo do “terraplanismo farmacêutico” já havia passado, mas pelo visto, alguns insistem em nos fazer retornar a eras de obscurantismo científico. Questionar o uso de medicamentos seguros, citando fontes duvidosas e ignorando pareceres de autoridades sanitárias, é, no mínimo, um ato irresponsável que pode gerar pânico e culpa desnecessária em mães que buscam o melhor para seus filhos. Seria cômico se não fosse trágico presenciar tamanha leviandade em um ambiente que deveria prezar pela seriedade e pela verdade baseada em fatos.
O vereador, visivelmente desconcertado e perturbado com a fundamentada repreensão da pediatra, tenta se agarrar a uma suposta “pesquisa em andamento” que, segundo ele, “vai virar confirmação, com certeza”. Que confiança admirável em algo que nem sequer foi concluído (se é que existe), nem validado pela comunidade científica! É o tipo de raciocínio que nos leva a crer que, em breve, poderemos ter vereadores defendendo que a Terra é plana, baseados em “pesquisas em andamento” e em discursos de líderes que preferem a retórica ao método científico. Assim como algumas pessoas se apegam a ideias ultrapassadas sobre a forma do planeta, o vereador se apega a uma suposta ligação entre Tylenol e autismo, ignorando a vasta produção científica que desmente essa hipótese. A história nos mostra que a desinformação, em qualquer área, pode ter consequências devastadoras, e no campo da saúde, isso se torna ainda mais grave.
A insistência em alarmar gestantes com base em “dados alarmantes” de estudos inconclusivos, quando órgãos como a Anvisa e a OMS já se pronunciaram sobre a segurança do paracetamol, beira o irresponsável. Talvez o vereador devesse dedicar mais tempo a ler publicações científicas sérias e menos a retórica de quem busca holofotes através da desinformação, semeando medo e dúvida onde deveria haver clareza e confiança nos órgãos que zelam pela saúde pública. A “confirmação” que ele tanto almeja pode, na verdade, ser a confirmação de sua própria falta de preparo e de compromisso com a verdade baseada em evidências.
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