
Portos, ferrovias, fábricas e megaprojetos transformam a Bahia em ponto estratégico da presença chinesa na América do Sul, com impactos econômicos, logísticos e geopolíticos
Caso de Política | Luís Carlos Nunes – Nos últimos anos, a Bahia deixou de ser apenas um ponto de atração de investimentos estrangeiros e se tornou um eixo estratégico da presença chinesa na América do Sul. Portos, ferrovias, fábricas e megaprojetos bilionários moldam o território e consolidam o estado como porta de entrada da China no Brasil. Mas essa expansão não se resume a cifras: ela implica poder econômico, influência geopolítica e reconfiguração logística.
Cada projeto é parte de uma engrenagem maior, um modelo de diplomacia estadual – conhecido como “modelo Bahia de diplomacia” – que manteve interlocução contínua com Pequim desde 2007. Essa estratégia possibilitou que a Bahia resistisse a crises políticas e econômicas entre Brasil e China, mantendo acordos, visitas técnicas e missões diplomáticas estratégicas.
A localização estratégica da Bahia, com extensa costa atlântica e infraestrutura portuária robusta, somada à abundância de recursos naturais e potencial de energia renovável, reforça seu apelo para investimentos chineses. O oeste do estado, com produção significativa de soja, representa uma das principais commodities exportadas para o país asiático. Além disso, a saída da Ford de Camaçari abriu caminho para que a montadora chinesa BYD instalasse sua fábrica, reduzindo custos e acelerando implantação de um polo de inovação automotiva.
Entre os projetos emblemáticos, a Ponte Salvador–Ilha de Itaparica, com 12,4 km e investimento de R$ 11 bilhões, será a maior ponte sobre lâmina d’água da América Latina. Prevista para gerar cerca de 7.000 empregos diretos, a obra promete facilitar o escoamento de cargas, impulsionar o turismo e reduzir o tempo de deslocamento para milhões de pessoas. Paralelamente, a Ferrovia de Integração Oeste–Leste (FIOL) conecta o interior da Bahia ao Porto Sul em Ilhéus, formando trecho inicial do corredor bioceânico Brasil–Peru, encurtando em até 10 dias o transporte de commodities ao Pacífico.
O setor industrial e tecnológico também avança: a BYD investe R$ 5,5 bilhões em veículos elétricos, baterias e motores híbridos adaptados ao mercado brasileiro. Empresas de energia renovável, como Goldwind e Winday, implantam parques eólicos e solares e centros de pesquisa em hidrogênio verde e baterias de lítio, em parceria com o Senai-Cimatec, consolidando a Bahia como polo de transição energética na região.
Economicamente, a presença chinesa fortalece a balança comercial do Brasil e da Bahia. A China responde por 28% das exportações nacionais, concentrando-se em soja, minério de ferro e petróleo. Para a Bahia, os projetos estratégicos podem gerar até 20.000 empregos diretos e indiretos até 2030, ampliando a renda local e fortalecendo setores-chave de infraestrutura, indústria e energia.
No entanto, essa influência também impõe desafios: a dependência econômica crescente exige vigilância sobre mudanças na política externa chinesa; grandes obras podem gerar impactos ambientais significativos; e há o risco de que a condução de projetos estratégicos fique condicionada a interesses externos, mesmo quando essas iniciativas refletem necessidades antigas do estado.
Assim, a Bahia caminha em uma encruzilhada. A presença chinesa acelera modernização econômica e tecnológica, mas exige equilíbrio político, planejamento estratégico e participação social para garantir que os benefícios sejam distribuídos de forma sustentável, preservando o território e a autonomia do estado.
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