
O discurso simplista de que “professor tem que trabalhar mesmo” em uma emissora de rádio de Barreiras (BA) chocou a categoria e evidenciou a desvalorização crônica, assédio moral e a pressão por metas que levam educadores ao limite
Caso de Política | Luís Carlos Nunes – A fragilidade e a desvalorização da profissão docente em Barreiras (BA) voltaram a ser expostas publicamente após um comentário polêmico em uma emissora de rádio local, onde um apresentador afirmou que “professor tem que trabalhar mesmo”. A fala ocorreu em um momento de intensa polêmica administrativa, na qual o Prefeito Otoniel Teixeira havia editado uma portaria concedendo ponto facultativo para emendar a sexta-feira (21) ao feriado do Dia da Consciência Negra (20/11/2025). No entanto, o Secretário de Educação desautorizou a emenda, obrigando os servidores da pasta a cumprirem expediente, mesmo com a exaustão acumulada.
Longe da imagem de “preguiçosos” frequentemente associada à categoria, os professores enfrentam uma realidade brutal: baixas remunerações, pressão implacável por metas, assédio moral e a ameaça constante, por vezes de pais, por vezes dos próprios alunos. Essa conjuntura leva muitos profissionais a estarem suscetíveis a diversas doenças ocupacionais, incluindo a Síndrome de Burnout.
O fardo das mazelas sociais
Curiosamente, quando tudo na sociedade parece falhar, o professor é lembrado. O peso de todas as mazelas sociais é jogado nas costas da escola e dos educadores. Se há problemas ambientais, demanda-se a inclusão da ecologia no currículo. Se a população não sabe lidar com dinheiro, exige-se educação financeira. A lista é infinita: educação sexual, higiene, etiqueta e uma série de outros temas são constantemente impostos ao currículo escolar como uma forma de reparação social que desvia o foco das responsabilidades primárias de outras instituições.
A indignação da categoria foi prontamente manifestada nas redes sociais, revelando o cansaço e a sensação de desrespeito acumulado, agravado pela desorganização institucional:
“Gente, bom dia. Eu tinha decidido não dizer nada, mas tô bem chateada com isso. Quero registrar aqui meu descontentamento com o que ouvi [na rádio] quando o apresentador afirmou que “professor tem que trabalhar mesmo”, sem saber da nossa realidade. Ele desconhece que, depois de tantas avaliações externas seguidas, tanto professores quanto alunos estão esgotados — e nós, professores, ainda mais, pois precisamos lançar avaliações no sistema à noite e até de madrugada para dar conta de tudo. Além disso, existe um decreto do Prefeito estabelecendo ponto facultativo após o feriado. Mesmo divulgando a foto do decreto junto com o Prefeito, o próprio Secretário de Educação voltou atrás e não respeitou o que havia sido publicado. A situação foi desrespeitosa com a nossa categoria, que sempre cumpre o seu trabalho com responsabilidade e muito esforço. Precisamos ser respeitados!”
Violência e desqualificação profissional
O episódio na rádio é mais um capítulo na longa história de desrespeito à docência, que inclui casos de grande repercussão nacional, como agressões físicas em sala de aula, exposição vexatória em redes sociais e humilhações públicas por parte de alunos e responsáveis.
A desqualificação do trabalho docente, reforçada por discursos midiáticos irresponsáveis, agrava um ciclo de intolerância.
“É lamentável que, no contexto atual, ainda seja necessário reafirmar o óbvio: EDUCADORES MERECEM RESPEITO! A tentativa de desqualificar a atuação docente, disseminando discursos que ferem a integridade profissional e humana daqueles que dedicam suas vidas à formação das novas gerações, é extremamente grave e não pode ser normalizada. O papel da imprensa é informar com responsabilidade, pluralidade e compromisso ético. Quando um veículo de comunicação utiliza seu espaço para atacar profissionais da educação, reforça um ciclo de desvalorização que já pesa historicamente sobre a categoria e alimenta a intolerância contra aqueles que diariamente enfrentam desafios estruturais para garantir o direito à educação.”
Os educadores, que mesmo com salários defasados e condições precárias sustentam a escola pública brasileira, exigem dignidade. O que a categoria mais deseja é ser tratada como humana, respeitada como profissional de direito que exerce uma atividade fundamental para a sociedade.
Diante de tanta desvalorização, os professores brasileiros sonham com um nível de respeito semelhante ao que é idealizado em outras culturas. O Japão, por exemplo, é frequentemente citado como o símbolo máximo de reverência à profissão. No país oriental, a importância dos educadores é tamanha que existe a crença popular de que o próprio Imperador, em sinal de reconhecimento, permite que apenas os professores o olhem diretamente nos olhos, simbolizando que a formação dos cidadãos é um ofício de valor inestimável para a nação. Quem sabe, um dia, essa dignidade não seja apenas um mito distante, mas uma realidade garantida para quem sustenta a educação em Barreiras e em todo o Brasil.
Nota de solidariedade do Portal Caso de Política
O portal Caso de Política manifesta sua total solidariedade e profundo respeito aos professores e professoras de Barreiras e de todo o país. Reconhecemos a magnitude e a complexidade de sua missão, exercida muitas vezes sob condições adversas e com uma carga emocional e profissional exaustiva. Acreditamos que a valorização dos educadores é o pilar de qualquer sociedade justa e desenvolvida. Reafirmamos nosso compromisso com a defesa da dignidade profissional, repudiando veementemente qualquer tentativa de desqualificação, assédio ou injustiça contra aqueles que dedicam suas vidas à construção do futuro. O conhecimento é o pilar da sociedade, e quem o edifica merece nossa admiração, humanidade e dignidade integral.
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