Bastidores da reforma administrativa revelam que a escolha da vice passa menos por gênero e mais pelo redesenho do poder dentro da base aliada
Caso de Política | Luís Carlos Nunes – A pressão do PSD por espaço efetivo na chapa majoritária colocou o governador Jerônimo Rodrigues diante de um impasse que vai além da simbologia de gênero. O movimento para incluir uma mulher como forma de compensação política pela retirada de Angelo Coronel da disputa ao Senado expõe uma disputa mais profunda: a necessidade de redefinir o equilíbrio interno da base aliada sem comprometer a governabilidade nem o desempenho eleitoral. É nesse ponto que o governador se divide entre dois ativos políticos distintos e igualmente estratégicos – o peso institucional de Ivana Bastos e o lastro regional de Jusmari Oliveira – enquanto a reforma administrativa, prometida e ainda inconclusa, assume caráter de urgência e precisa produzir uma resposta até janeiro.
A inclusão de uma mulher na chapa opera como uma verdadeira moeda de troca com o PSD. Trata-se do instrumento central para amortecer a insatisfação do partido e conter a ameaça, cada vez menos velada, de uma candidatura própria ao governo, capitaneada pelo senador Otto Alencar. A dívida política acumulada desde a exclusão de Ângelo Coronel não admite soluções periféricas. Exige um gesto de envergadura, capaz de recompor confiança, sinalizar poder e redefinir hierarquias internas na coalizão governista.
É nesse ambiente de pressão máxima que o dilema se cristaliza. Ivana Bastos e Jusmari Oliveira surgem como respostas distintas a necessidades igualmente estratégicas, impondo ao governo a tarefa de definir qual urgência fala mais alto neste momento: a estabilidade institucional ou o reforço eleitoral regional. O equilíbrio entre essas forças não decorre de fragilidade, mas da densidade política que cada uma concentra em campos distintos. A centralidade do fator feminino, inclusive, não é recente. Em manifestações já divulgadas nas redes sociais, o ministro-chefe da Casa Civil, Rui Costa, reconheceu que a inclusão de uma mulher na chapa vinha sendo avaliada há mais tempo, reforçando o caráter estratégico – e não circunstancial – dessa construção.
Ivana Bastos representa o eixo da governabilidade. À frente da Assembleia Legislativa da Bahia, ela simboliza a harmonia entre os Poderes e oferece previsibilidade ao Executivo em um período sensível de rearranjos internos. Há indícios claros de que sua eventual saída já é considerada no tabuleiro político: a presença da deputada Fátima Nunes (PT) na Primeira Vice-Presidência da ALBA, com mandato até 2027, funciona como uma âncora de transição e um seguro institucional. Esse arranjo sugere que a ascensão de Ivana à chapa não provocaria sobressaltos no Legislativo, fator decisivo para um governador que ainda busca consolidar sua autoridade política.
Jusmari Oliveira, por sua vez, carrega o peso simbólico do Oeste Baiano, região estratégica que garantiu a Jerônimo mais de 70% dos votos válidos na última eleição. Esse desempenho, porém, precisa ser lido com cautela. A votação expressiva reflete, sobretudo, a força do projeto majoritário e da coligação governista na região, e não necessariamente a consolidação de uma liderança regional hegemônica em torno de um único nome. No plano das disputas proporcionais, especialmente para a Assembleia Legislativa, o cenário projetado aponta para uma fragmentação maior do eleitorado do Oeste, com o ex-deputado federal Tito (PT) e o vereador João Felipe (PCdoB) emergindo como polos competitivos na corrida por cadeiras estaduais. Essa pulverização de candidaturas tende a redistribuir votos e a reduzir a capacidade de Jusmari de se apresentar como única fiadora política da região, tornando sua indicação menos automática como instrumento de “pacificação” do Oeste no tabuleiro do governo.
A urgência da decisão é intensificada por um ruído interno que cresce nos bastidores. O vice-governador Geraldo Júnior enfrenta desgaste progressivo, alimentado por episódios que colocam em xeque sua capacidade de agregação política. A repercussão negativa envolvendo seu entorno familiar, amplificada por veículos especializados, fragiliza sua posição e abre uma janela concreta para a reavaliação da vice. Essa brecha oferece a Jerônimo uma oportunidade estratégica: resolver, em um único movimento, a crise interna do governo e o passivo político com o PSD.
No fundo, o dilema feminino no Palácio não se resume à escolha de nomes, mas traduz uma decisão sobre o tipo de sustentação que Jerônimo Rodrigues considera mais vital para atravessar o próximo ciclo político. Entre a segurança institucional e o apelo regional, o governador precisa definir qual dessas forças é capaz de assegurar não apenas a estabilidade imediata, mas a sobrevivência estratégica de seu projeto de poder.
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