Em primeiro discurso após se tornar réu, Bolsonaro mente sobre 8 de Janeiro e eleições

Horas após se tornar réu no STF (Supremo Tribunal Federal) por tentativa de golpe de Estado e outros crimes, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) reciclou uma série de desinformações sobre o sistema eleitoral brasileiro, o 8 de Janeiro e o seu governo em entrevista a jornalistas diante do Congresso Nacional.

Repetindo uma estratégia adotada ao longo de todo o seu mandato — o ex-presidente disseminou mentiras sobre o sistema eleitoral ao menos 350 vezes, de acordo com o contador de declarações do Aos Fatos — Bolsonaro desinformou ao afirmar que as urnas eletrônicas não são auditáveis e que teria havido fraude nas eleições de 2018.

O ex-presidente também enganou ao afirmar que não teriam sido encontradas armas com os manifestantes golpistas do 8 de Janeiro e desqualificou a denúncia aceita pelo STF.

A denúncia apresentada pelo procurador-geral da República, Paulo Gonet, apontou que a disseminação reiterada de mentiras sobre o sistema eleitoral foi uma das estratégias adotadas por Bolsonaro e aliados para abrir espaço para um eventual golpe de Estado.

“Evidenciou-se a intenção dos denunciados de propagar informações sem lastro, inverídicas, sobre o sistema eleitoral. A concitação expressa às Forças Armadas marca o início da execução do plano de ruptura com o Estado Democrático de Direito”, afirmou Gonet no relatório.

Veja abaixo, em resumo, o que checamos:

  1. Bolsonaro afirmou que investigação do PSDB sobre as eleições de 2014 concluiu que as urnas são inauditáveis. Mas, além do partido ter voltado atrás, a alegação é enganosa: há meios de auditar as eleições, como o boletim de urna e o Registro Digital do Voto;
  2. Ao alegar que o TSE agiu em favor de Lula em 2022, o ex-presidente também omitiu que sua campanha pediu para a Justiça Eleitoral retirar do ar propagandas petistas e foi atendida;
  3. Diferentemente do que alegou Bolsonaro, seu partido não foi multado em 2022 apenas por peticionar um questionamento das eleições, mas sim porque o relatório foi feito de maneira irregular e foi considerado como litigância de má-fé;
  4. O ex-presidente afirmou que, durante live realizada em 2021, apenas leu informações de um inquérito que provava fraude eleitoral. Além de a investigação citada não comprovar irregularidade no pleito presidencial, Bolsonaro citou inúmeras outras desinformações sobre o sistema eleitoral no evento;
  5. Bolsonaro também disse que não foram encontradas armas no 8 de Janeiro, o que invalida a tese de tentativa de golpe. As investigações, no entanto, encontraram granadas, coquetéis molotov e barras de ferro com os manifestantes, além de terem sido registrados roubos de armamentos do GSI;
  6. Ao afirmar que montou um ministério técnico, Bolsonaro omite que teve ministros indicados por critérios políticos e que nem todos os nomes escolhidos tinham experiência na área da pasta a que foram nomeados;
  7. O ex-presidente disseminou ainda uma desinformação já desmentida sobre o Brasil ter entregado urânio para a China. Na verdade, a alegação tira de contexto a venda de uma empresa privada de mineração para uma controladora chinesa. A operação não teve qualquer ingerência do governo federal;
  8. Ao afirmar que foi proibido de veicular uma propaganda que relaciona Lula a ladrões de celular, Bolsonaro omite que o conteúdo suspenso era uma peça de desinformação criada a partir de uma montagem de trechos descontextualizados;
  9. Dados e estudos dos principais institutos de segurança pública desmentem a relação citada por Bolsonaro de que uma maior quantidade de armas em circulação leva à queda no número de homicídios. As conclusões, na realidade, vão pelo caminho oposto.

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