
O produtor da Schmidt Agrícola, aposta em tecnologia e escala inédita no oeste da Bahia para transformar o Brasil em potência cacaueira e, potencialmente, salvar o futuro do chocolate diante da crise global de produção
Caso de Política | Luís Carlos Nunes – O produtor Moisés Schmidt, à frente da Schmidt Agrícola no oeste da Bahia, embarcou em uma missão ambiciosa: construir a maior fazenda de cacau do mundo, com 10 mil hectares planejados. A ousada empreitada visa transformar o Brasil em um protagonista global na produção da matéria-prima do chocolate e, segundo o empresário, pode ser a chave para evitar uma crise ainda maior no mercado internacional, ameaçado pela escassez. É o que informa a Revista Forbes Agrícola.
A convicção de Schmidt foi reforçada após uma imersão de 12 dias no coração da produção cacaueira africana, percorrendo Nigéria, Gana, Costa do Marfim e Senegal. De volta ao Brasil, o presidente da Associação de Agricultores e Irrigantes da Bahia (Aiba) vislumbra o potencial da tecnologia, da irrigação e da escala produtiva brasileira para suprir a crescente demanda global e a instabilidade na oferta dos países africanos, responsáveis por 60% da produção mundial.
À frente de um negócio com 35 mil hectares plantados, divididos com o irmão David, a Schmidt Agrícola, tradicionalmente produtora de soja e algodão, iniciou sua diversificação na fruticultura em 2018 com banana e, em 2019, apostou no cacau. O plano de alcançar 10 mil hectares dedicados à cultura em um prazo de dez anos colocará a fazenda em um patamar inédito no cenário global.
A urgência do projeto é sublinhada por Schmidt:
“Há um risco real de que as próximas gerações não conheçam o chocolate como ele é hoje”. A escassez global de cacau já preocupa a indústria, que admite a possibilidade de reformular produtos devido à falta de matéria-prima.
Anna Paula Losi, presidente-executiva da Associação Nacional das Indústrias Processadoras de Cacau (AIPC), ecoa o alerta, confirmando o risco de paralisação de fábricas caso o cenário não se altere.
O projeto da Schmidt Agrícola, que já conta com um piloto de 400 hectares (70% implantados), adota o sistema de pleno sol com irrigação tecnificada, buscando alta produtividade em detrimento do modelo tradicional de cacau de cabruca. O investimento na área piloto é de cerca de R$ 200 mil por hectare, incluindo preparo do solo, irrigação, mudas e tratos culturais iniciais.
Um dos gargalos identificados foi a falta de mudas de qualidade, o que levou a empresa a investir R$ 25 milhões na criação do BioBrasil, o maior viveiro de cacau do mundo, com capacidade de produzir 3,5 milhões de mudas por ano, com meta de alcançar 10 milhões até 2027.
“O cacau é uma cultura que sempre foi vista como de pequenos produtores, mas que tem um enorme potencial de escala”, afirma Schmidt.
Diante de uma demanda global projetada para atingir de 8 a 10 milhões de toneladas até 2050, ante os atuais 5 milhões, o mercado já sinaliza preços mínimos de US$ 6 mil por tonelada para viabilizar novos investimentos. A volatilidade do mercado, intensificada por problemas climáticos e sanitários que derrubaram a produção africana, reforça a importância da iniciativa brasileira. Chris Vincent, presidente da World Cocoa Foundation (WCF), reconhece o papel estratégico do Brasil neste cenário.
A aposta da Schmidt Agrícola não se resume à escala. O modelo produtivo incorpora práticas de agrofloresta, com cobertura verde e culturas complementares, além de parcerias com a Ceplac e a Embrapa para apoio à pesquisa e desenvolvimento. A produtividade inicial, estimada em 200 arrobas por hectare, já aponta para a possibilidade de dobrar, alcançando até 400 arrobas (6 toneladas).
Embora a operação ainda esteja em fase de transição e sem lucro pleno, já gera receita parcial e atrai a atenção de outros produtores do oeste baiano, com cerca de 30 empreendedores investindo em mais de 700 hectares de cacau, impulsionados pela visão de Moisés Schmidt e o potencial de transformar o Brasil em um gigante do cacau.
O produtor planeja retornar à África em busca de mais aprendizados para consolidar o sucesso de sua audaciosa empreitada.
Caso de Política | A informação passa por aqui.
#CacauBrasileiro #Agronegócio #InovaçãoAgrícola #MaiorFazendaDeCacau #FuturoDoChocolate #Bahia #SchmidtAgrícola #MercadoGlobal #CriseDoCacau #TecnologiaNoCampo