
Lula e Xi Jinping na cerimônia de assinatura dos acordos entre Brasil e China – Foto: Ricardo Stuckert/PR
Em visita à China, Lula consolida 36 acordos que reposicionam o Brasil no cenário geopolítico global, preservando autonomia diante do gigante asiático
Caso de Política | Luís Carlos Nunes – O presidente Luiz Inácio Lula da Silva encerrou nesta terça-feira (13) sua visita oficial à China com a assinatura de 36 acordos bilaterais. A magnitude dos compromissos firmados sinaliza não apenas um esforço diplomático robusto, mas um realinhamento estratégico que busca edificar novos pilares para o desenvolvimento brasileiro.
A viagem, marcada por simbolismo e pragmatismo, reposiciona o Brasil em um tabuleiro internacional em mutação, onde os eixos tradicionais de poder estão sendo desafiados.
Entre os principais atos está o Memorando de Entendimento que conecta programas estratégicos brasileiros — como o Novo PAC, o Plano Nova Indústria Brasil e as Rotas da Integração Sul-Americana — à ambiciosa Iniciativa Cinturão e Rota da China.
Apesar da convergência, Lula foi enfático ao afirmar que o Brasil não aderiu formalmente ao projeto, reafirmando o compromisso com a autonomia. A escolha de palavras como “sinergia” e “vetores de desenvolvimento” revela uma construção cuidadosa: deseja-se conexão, não subordinação.
O espírito da visita pode ser compreendido como uma tentativa de alinhar o país com os novos fluxos da história sem perder o prumo identitário. Em tempos de polarização global, o Brasil se apresenta como uma ponte possível – entre o Atlântico e o Pacífico, entre o Norte e o Sul, entre o pragmatismo e os valores humanistas.
Dentre os acordos assinados, destacam-se iniciativas que tocam as fundações da infraestrutura nacional e do tecido social: investimentos portuários que podem atrair até R$ 6 bilhões, avanço no programa espacial com os satélites CBERS 5 e 6, cooperação em inteligência artificial com a Huawei, e acordos para produção de insulina e vacinas.
São sementes lançadas em solo fértil, cuja colheita dependerá da capacidade do Estado brasileiro de gerir com sabedoria os frutos dessa jornada.
A retórica adotada por Lula e Xi Jinping invoca uma harmonia crescente — “nunca estivemos tão próximos” —, ao mesmo tempo em que oculta as tensões inerentes a toda grande aliança.
A China é hoje o maior parceiro comercial do Brasil, responsável por uma balança positiva que impõe também desafios: como evitar a dependência de exportações primárias e fortalecer cadeias produtivas internas.
Ao valorizar a retomada da indústria naval e a modernização da agricultura familiar, o governo sinaliza a intenção de edificar um novo ciclo de abundância e soberania produtiva.
Porém, o sucesso dessa empreitada dependerá da capacidade de manter-se vigilante quanto aos riscos da ilusão: nem todo brilho é luz, e nem toda integração gera liberdade.
O pacto firmado em Pequim pode ser lido como um reencantamento estratégico — um esforço para reposicionar o Brasil no mundo por meio de laços que iluminem a travessia, sem encobrir o horizonte. O que está em jogo não é apenas comércio, mas o lugar do país na história em construção.
A seguir, a lista completa dos 36 acordos firmados:
- Memorando de Entendimento entre a Casa Civil da Presidência da República e a Comissão Nacional de Desenvolvimento e Reforma da China sobre sinergias entre o PAC, o Plano Nova Indústria Brasil, o Plano de Transformação Ecológica, o Rotas da Integração Sul-Americana e a Iniciativa Cinturão e Rota.
- Declaração Conjunta de Intenções entre o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) e a Administração Espacial Nacional da China para o compartilhamento de dados espaciais com países da América Latina e Caribe.
- Memorando de Entendimento entre o Banco Central do Brasil e o Banco Popular da China sobre cooperação estratégica no setor financeiro.
- Memorando de Entendimento entre o Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima e a Administração Nacional de Florestas e Pastagens da China para cooperação em restauração vegetal e sumidouros de carbono.
- Memorando de Entendimento entre o MCTI e o Ministério da Ciência e Tecnologia da China para a criação de um Centro de Transferência de Tecnologia.
- Memorando de Entendimento entre o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC) e a Comissão Nacional de Desenvolvimento e Reforma da China sobre cooperação em Inteligência Artificial.
- Memorando de Entendimento (2025–2030) entre o Ministério do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar e o Ministério da Agricultura e Assuntos Rurais da China sobre agricultura familiar e mecanização agrícola.
- Carta de Intenções entre o MDIC e o Ministério do Comércio da China para desenvolvimento de investimentos na economia digital.
- Plano de Ação de Cooperação para o Desenvolvimento Sustentável da Mineração (2025–2026) entre o Ministério de Minas e Energia (MME) e a Comissão Nacional de Desenvolvimento e Reforma da China.
- Acordo de Swap de Moedas Locais entre o Banco Central do Brasil e o Banco Popular da China.
- Memorando de Entendimento entre o Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA) e a Administração-Geral de Aduanas da China sobre medidas sanitárias e fitossanitárias.
- Protocolo Sanitário para exportação de proteínas e grãos da indústria do etanol de milho e farelo de amendoim do Brasil para a China.
- Protocolo Sanitário sobre exportação de carne de aves do Brasil para a China.
- Memorando de Entendimento entre a Comissão Nacional de Energia Nuclear e a Autoridade de Energia Atômica da China sobre desenvolvimento sustentável da energia nuclear.
- Memorando de Entendimento entre o Ministério da Saúde e a Agência de Notícias Xinhua no campo da comunicação em saúde.
- Memorando de Entendimento entre a ApexBrasil e o China Media Group.
- Protocolo de Intenções de Cooperação entre o MME e a Administração Nacional de Energia da China.
- Memorando de Entendimento entre o MME e a Administração Nacional de Energia da China sobre etanol e mobilidade sustentável.
- Memorando de Entendimento entre o Ministério de Portos e Aeroportos e o State Post Bureau da China sobre cooperação postal.
- Memorando de Entendimento entre a ApexBrasil e o Conselho Chinês para Promoção do Comércio Internacional.
- Declaração Conjunta Brasil-China.
- Memorando de Entendimento entre o Ministério da Fazenda e o Banco Popular da China sobre cooperação financeira estratégica.
- Memorando de Entendimento entre o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) e o Centro de Monitoramento Chinês sobre troca de informações para prevenção de lavagem de dinheiro e financiamento ao terrorismo.
- Memorando de Entendimento entre o Ministério da Integração e do Desenvolvimento Regional e o Ministério da Gestão de Emergências da China sobre gerenciamento de emergências.
- Memorando de Entendimento entre o Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI) e a Administração Nacional de Propriedade Intelectual da China (CNIPA).
- Memorando de Entendimento entre o INPI e a Administração Estatal para Regulação de Mercado da China sobre proteção de indicações geográficas.
- Memorando de Entendimento entre o Conselho de Desenvolvimento Econômico Social Sustentável (CDESS) e o China Media Group.
- Memorando de Entendimento entre o IBGE e a Universidade Normal de Hebei.
- Memorando de Entendimento entre o IBGE e a Academia de Estudos Contemporâneos da China e do Mundo.
- Protocolo Sanitário para exportação de produtos da pesca extrativa brasileira para a China.
- Memorando de Entendimento entre a Bolsa de Valores de Shenzhen e a B3 – Brasil, Bolsa, Balcão (ETF Connect).
- Memorando de Entendimento entre a Bolsa de Valores de Xangai e a B3 (ETF Connect).
- Acordo de Cooperação Técnica entre a Dataprev e a empresa chinesa Sparkoo, subsidiária da Huawei, para infraestrutura de dados de inteligência artificial.
- Memorando de Entendimento entre o Ministério de Portos e Aeroportos e a Universidade de Aviação Civil da China.
- Memorando de Entendimento entre a ApexBrasil e o CIETC (Centro de Cooperação Internacional em Economia e Tecnologia) do Ministério da Indústria e Tecnologia da Informação da China.
- Termo de Compromisso para a criação de uma Parceria para o Desenvolvimento Produtivo (PDP) entre a Fiocruz, a empresa brasileira Biomm e a farmacêutica chinesa Gan & Lee, com foco na produção nacional de insulina glargina.
Caso de Política | A informação passa por aqui.
#BrasilChina #Diplomacia #PolíticaExterna #Geopolítica #Investimentos #PAC #NovaRotaDaSeda #CBERS #Huawei #InsulinaNacional #RotasSulAmericanas #AgriculturaFamiliar #Fiocruz #Sabedoria #LiberdadeComAutonomia #HarmoniaEntreNações #LuzESombra #EdificarOJornalismo #PrumoNaAnálise #ConstruçãoDeFuturo