
Foto: José Cruz/Agência Brasil
Ex-presidente do Uruguai deixa legado de sobriedade política, avanços sociais e ética pública que ainda iluminam a jornada latino-americana
Caso de Política | Luís Carlos Nunes – O ex-presidente do Uruguai José “Pepe” Mujica faleceu nesta terça-feira (13), aos 89 anos, vítima de um câncer de esôfago. Líder da Frente Ampla e referência ética para a esquerda latino-americana, Mujica governou o país entre 2010 e 2015. Sua partida marca o fim de uma era política que tentou equilibrar o prumo da justiça social com a simplicidade na condução do poder.
Yamandú Orsi, atual presidente do Uruguai, confirmou a morte nas redes sociais.
“Presidente, ativista, líder. Sentiremos muita falta de você, querido velho. Obrigado por tudo o que nos deu e por seu amor ao povo”, escreveu, reconhecendo o legado de quem foi mais que um governante: um mestre em moderar ideologias com compaixão.
Nascido em 1935, em Montevidéu, Mujica foi agricultor antes de ingressar no Movimento de Libertação Nacional – Tupamaros, nos anos 1960. Ativista contra a desigualdade e a ditadura que se instalou em 1973, foi perseguido, baleado e preso. Sua última detenção durou 13 anos – tempo em que foi mantido como refém da repressão. Saiu da prisão em 1985, sem rancores declarados, mas com uma convicção mais firme: edificar a democracia pelo diálogo.
Um governo com cimento progressista
Entre 2010 e 2015, Mujica comandou o Uruguai com um estilo austero, morando em uma chácara, abrindo mão de luxos e defendendo reformas com impacto real na vida cotidiana. Sob sua liderança, o país legalizou a maconha, aprovou o casamento igualitário e ampliou os direitos sexuais e reprodutivos. Para além das reformas simbólicas, promoveu uma redistribuição econômica tangível: a pobreza caiu de 40% para 11% e o desemprego de 13% para 7%, enquanto o salário-mínimo foi reajustado em 250%.
Essas conquistas não foram apenas resultados de políticas, mas de uma visão de mundo que privilegiava a harmonia entre liberdade e responsabilidade. Mujica via a política como uma “jornada de aperfeiçoamento”, onde a luz da razão deveria prevalecer sobre o ego e a cobiça — elementos que ele denunciava com frequência em fóruns internacionais.
A morte de um símbolo, a persistência de um legado
Sua morte representa não apenas a despedida de um líder, mas o fim de uma era em que a simplicidade foi força política. Mujica recusou a ostentação do cargo, agiu como servidor e não como figura a ser servida. Para muitos, sua postura ainda oferece um modelo de ação política guiada por princípios universais — ética, equidade e espírito público.
Num tempo de ruídos, Mujica foi silêncio que ensinava; num cenário de vaidades, foi espelho de sobriedade. Sua jornada, marcada por provações e construção constante, permanece como farol para uma América Latina ainda à procura de equilíbrio entre discurso e ação, entre luz e trevas.
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