
(Brasília - DF, 07/08/2019) Encontro com Deputado Rodrigo Maia, Presidente da Câmara dos Deputados; Alexandre de Moraes, Ministro do Supremo Tribunal Federal; e Deputado Fábio Faria (PSD-RN). Foto: Marcos Corrêa/PR
Foto: Marcos Correa
Em formato de acareação velada, depoimentos sobre a trama golpista colocarão ex-presidente ao lado do delator Mauro Cid, sob o comando do ministro que era alvo do plano. A estratégia do Supremo busca a confrontação direta de versões e o colapso de narrativas
Caso de Política | Luís Carlos Nunes – O Supremo Tribunal Federal (STF) se prepara para sediar, a partir da próxima segunda-feira (9), um dos momentos de maior tensão política e judicial da história recente do Brasil. Em uma semana que pode selar o destino de figuras centrais da República, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e a cúpula de seu governo, incluindo generais e ex-ministros, serão interrogados em uma mesma sala, sob o comando direto do ministro Alexandre de Moraes, relator do inquérito sobre a tentativa de golpe de Estado.
O clímax do processo não reside apenas nas perguntas que serão feitas, mas na arquitetura da cena: Bolsonaro, apontado como líder da trama, estará fisicamente ao lado de seu ex-ajudante de ordens, o delator tenente-coronel Mauro Cid, e do general Augusto Heleno. O silêncio imposto por meses entre os investigados, que estavam proibidos de se comunicar, será rompido pela confrontação direta no banco dos réus. A estratégia do STF é clara: criar um ambiente de pressão máxima onde as contradições possam emergir em tempo real, testando a coesão do grupo e a solidez da delação premiada que sustenta a acusação.
Para acomodar o rito, a sala da Primeira Turma foi convertida em uma arena jurídica, com uma disposição similar à de um tribunal do júri. Na tribuna principal, estarão Moraes — o magistrado que, segundo as investigações, seria um dos alvos de assassinato no plano golpista — e o procurador-geral da República, Paulo Gonet. Sentados em ordem alfabética, os réus assistirão e participarão de um roteiro meticulosamente planejado, onde cada depoimento poderá reforçar ou demolir a defesa do seguinte.
A ordem dos interrogatórios é, em si, uma peça estratégica. O primeiro a falar será Mauro Cid. Seu depoimento como delator servirá de base para as perguntas dirigidas aos demais, forçando-os a confirmar, negar ou se contradizer diante das informações que ele já entregou à Polícia Federal. Bolsonaro será o sexto da lista, previsto para depor entre terça e quarta-feira, já ciente do que os cinco anteriores disseram.
A única exceção presencial será o general Walter Braga Netto, que participará por videoconferência do presídio no Rio de Janeiro.
Embora o direito constitucional ao silêncio seja garantido, a expectativa nos corredores de Brasília é que figuras como Bolsonaro, Cid e o ex-ministro Anderson Torres optem por falar, travando uma batalha de narrativas. O que for dito — ou omitido — nesta semana definirá os próximos passos do processo e terá um impacto indelével no futuro político do país.
O roteiro do confronto: pontos-chave dos interrogatórios
O ministro Alexandre de Moraes e a PGR devem focar os questionamentos para esclarecer pontos cruciais da investigação, seguindo uma linha lógica para desmontar a articulação golpista:
- Confronto com as provas: Apresentar aos réus as acusações formais da Procuradoria-Geral da República, incluindo as minutas de golpe e os diálogos revelados por Mauro Cid, e exigir explicações diretas.
- Mapeamento da rede: Pressionar por detalhes sobre a participação de outras autoridades civis e militares que ainda não foram formalmente implicadas, buscando expandir o alcance da investigação.
- Linha do tempo e álibis: Estabelecer o paradeiro e as ações de cada um dos acusados nos momentos-chave da articulação da trama, cruzando informações para identificar inconsistências.
- Identificação de testemunhas: Questionar sobre o conhecimento de testemunhas ocultas ou a localização de objetos e documentos que possam servir como novas provas para o caso.
- Construção da defesa: Permitir que cada réu apresente sua versão dos fatos, que será imediatamente comparada com os depoimentos dos demais, expondo a fragilidade ou a robustez de suas alegações.
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