
Pela primeira vez na história, católicos representam menos de 60% da população, enquanto evangélicos alcançam recorde de 27%. A mudança demográfica, revelada pelo IBGE, consolida a força da bancada evangélica e impõe novos desafios a candidatos e partidos em todo o país
Caso de Política | Luís Carlos Nunes – O Brasil não é mais o mesmo, e os dados do Censo Demográfico 2022, divulgados nesta sexta-feira (06) pelo IBGE, oficializam uma transformação profunda com implicações diretas na arena política. A queda histórica no número de católicos, que pela primeira vez desde 1872 somam menos de 60% da população (56,7%), e o crescimento recorde dos evangélicos (26,9%) não são apenas estatísticas, mas o retrato de uma reconfiguração de poder.
Esse novo mapa religioso consolida a influência da bancada evangélica no Congresso Nacional, força candidatos a recalcular suas estratégias de campanha e acentua a polarização em pautas de costumes, que se tornam cada vez mais centrais no debate público.
O declínio da hegemonia católica, que já foi quase absoluta (99,7% em 1872), enfraquece a capacidade histórica da Igreja de ditar rumos políticos e sociais em escala nacional. Em seu lugar, ascende um bloco evangélico cada vez mais numeroso, coeso em suas pautas e com alta capacidade de mobilização eleitoral. A maior presença evangélica entre a população parda (49,1%) e nas regiões Norte (36,8%) e Centro-Oeste (31,4%) também aponta para uma capilaridade que desafia as bases eleitorais tradicionais.
Ao mesmo tempo, o crescimento do grupo de pessoas “sem religião” (9,3%) representa um contraponto. Embora politicamente difuso, esse segmento tende a ser mais progressista em temas sociais e pode se consolidar como um eleitorado-chave em disputas acirradas, especialmente nos grandes centros urbanos do Sudeste, onde sua concentração é maior (10,5%). O cenário desenhado pelo Censo obriga a política brasileira a se adaptar: ignorar a força do voto evangélico tornou-se inviável, e compreender as demandas do crescente contingente sem filiação religiosa é o novo desafio para a construção de maiorias.
O retrato da mudança em números
A transformação religiosa no Brasil é um processo contínuo que se acelerou nas últimas décadas. O Censo 2022 revelou que a proporção de católicos caiu 8,4 pontos percentuais desde 2010, atingindo o menor patamar da série histórica. Em contrapartida, o segmento evangélico cresceu 5,2 pontos percentuais no mesmo período, consolidando-se como o segundo maior grupo religioso do país, com mais de um quarto da população.
A pesquisa do IBGE também detalha o perfil e a distribuição desses grupos. Enquanto o catolicismo mantém sua força principal no Nordeste (63,9%) e no Sul (62,4%), regiões de colonização mais antiga e europeia, os evangélicos mostram um avanço expressivo no “arco do desmatamento” e em novas fronteiras agrícolas, liderando em 244 municípios brasileiros.
Outros grupos religiosos também apresentaram variações significativas. O espiritismo viu sua proporção recuar de 2,2% para 1,8%, sendo o grupo com maior concentração de pessoas brancas (63,8%). Em um movimento de afirmação cultural e identitária, as religiões de matriz afro-brasileira, como umbanda e candomblé, triplicaram sua participação, embora ainda representem 1% do total.
O Censo também destacou um recorte de gênero: as mulheres são maioria em quase todos os grupos religiosos. A exceção notável é o contingente de “sem religião”, onde 56,2% são homens, indicando uma tendência de secularização mais acentuada no público masculino.
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