
Imagens: Prints do vídeo TV Justiça
Interrogatórios da trama golpista terminam com ex-presidente negando o óbvio, militares admitindo discussões sobre estado de sítio e um clima de ironia e nervosismo que evidencia as fissuras na cúpula golpista
Caso de Política | Luís Carlos Nunes – O Supremo Tribunal Federal (STF) encerrou, nesta terça-feira (10), o capítulo de interrogatórios da cúpula acusada de orquestrar uma tentativa de golpe de Estado, expondo um roteiro de versões conflitantes, manobras para fugir de perguntas e defesas que ruíram diante da gravidade dos fatos.
O fim desta fase de alta tensão, que colocou Jair Bolsonaro e seus generais frente a frente com o ministro Alexandre de Moraes, abre o caminho para o julgamento e joga luz sobre as fissuras na narrativa dos réus.
No centro do picadeiro, Bolsonaro tentou uma complexa ginástica retórica: ao longo de mais de três horas, negou ter planejado um golpe, mas manteve a retórica conspiratória contra as urnas eletrônicas – o eixo central da trama – e admitiu ter debatido “hipóteses” de contestação eleitoral com as Forças Armadas.
Em uma clara tentativa de se salvar, o ex-presidente contradisse frontalmente a delação de seu ex-braço-direito, Mauro Cid, que no dia anterior havia afirmado que Bolsonaro recebeu a minuta do golpe, a “enxugou” pessoalmente e manteve nela apenas a ordem de prisão contra Alexandre de Moraes.
Confrontado com a versão, Bolsonaro negou. “Não procede”, disse, buscando se desvincular da autoria direta do documento que formalizava a ruptura.
O depoimento dos generais, por sua vez, foi um espetáculo de táticas e revelações comprometedoras. O ex-ministro da Defesa, Paulo Sérgio Nogueira, entregou que Bolsonaro, de fato, discutiu a decretação de estado de sítio ou defesa, embora tenha alegado ter aconselhado o então presidente contra a medida. A confissão confirma que o roteiro golpista circulou no mais alto escalão do poder.
Já o general Augusto Heleno, ex-chefe do GSI, recorreu ao silêncio seletivo, respondendo apenas às perguntas previamente combinadas com seu advogado, em uma manobra descrita como uma “jogadinha ensaiada” para escapar das questões de Moraes.
O clima de constrangimento e deboche permeou a sessão. O general Walter Braga Netto, preso e depondo por vídeo, ouviu de Alexandre de Moraes uma lembrança ácida sobre sua condição: ao confirmar que estava detido, o ministro arrematou:
“Eu sei que o senhor está, eu que decretei”.
Em outro lapso de descontrole, Paulo Sérgio Nogueira repreendeu asperamente seu próprio advogado em plena audiência. Nem mesmo a bizarra tentativa de Bolsonaro de quebrar o gelo, convidando Moraes para ser seu vice, conseguiu disfarçar a gravidade do momento, recebendo um seco “eu declino” como resposta.
Com o fim dos interrogatórios, o ministro Alexandre de Moraes revogou a proibição de comunicação entre os réus, mas o cerco judicial se fecha. As defesas terão agora um curto prazo para as últimas diligências antes que a PGR e os advogados apresentem suas alegações finais.
Ignorando o peso das evidências, Bolsonaro usou as redes sociais para se dizer de “consciência tranquila” e profetizar seu retorno à Presidência, uma bravata que destoa da realidade de um réu cada vez mais próximo de uma condenação histórica.
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