Do ENEM às apropriações de mérito, passando por empréstimos milionários e homenagens simbólicas, a sessão desta terça-feira revelou alinhamentos políticos, debates acalorados e bastidores que seguem sob escrutínio público
Caso de Política | Luís Carlos Nunes – A sessão da Câmara Municipal de Barreiras nesta terça-feira (11) transbordou do debate legislativo convencional, revelando alinhamentos estratégicos, tensões veladas e uma ironia que parece intrínseca à política local. Entre aplausos calculados e críticas ácidas, o plenário virou palco de uma política quase teatral.
A polêmica inicial surgiu quando a Prefeitura celebrou o desempenho no ENEM – Exame Nacional do Ensino Médio 2023, e o vereador João Felipe criticou a ação como uma “apropriação de mérito”. Para efeito de contexto jornalístico, poderia-se imaginar um técnico de vôlei comemorando um gol de futebol: a ironia do descompasso entre a ação e o mérito real.
O vereador Hipólito, defensor incondicional do Executivo, atribuiu o sucesso ao ensino fundamental municipal, ignorando que o ENEM avalia exclusivamente o ensino médio. A postura reforçou a percepção de que certos parlamentares priorizam o alinhamento político sobre a precisão dos fatos.
A tensão aumentou com a discussão sobre um empréstimo de R$ 160 milhões – que pode ser de R$ 140 ou R$ 180 milhões, amplamente repercutido e antecipado pelo portal Caso de Política. Frente à já preocupante situação de endividamento do município, João Felipe questionou a insistência em contrair novas dívidas, levantando dúvidas sobre a destinação desses recursos e possíveis motivações por trás do endividamento.
A vereadora Carmélia da Mata trouxe à tona a situação da Central de Marcação de Exames, detalhando horários e procedimentos, insinuando favorecimentos a interesses externos. A narrativa suscitou questionamentos sobre a integridade do serviço público, reforçando a necessidade de escrutínio rigoroso.
Apesar das polêmicas, o trabalho legislativo avançou:
Projetos de Lei (PLs)
Foram aprovados 26 PLs, entre os destaques:
- Telemedicina na rede pública municipal (Dicíola Baqueiro e Silma Alves) – inovação, mas implementação prática ainda incerta.
- Campanha permanente contra violência à mulher nas escolas (Allan do Allanbick) – necessária, mas efeito depende de execução.
- Proteção do patrimônio histórico (Carmélia da Mata) – preserva memória, impacto prático limitado.
- Sinais sonoros e visuais para estudantes com TEA (Zé do Sorvete) – politicamente correto, eficácia prática por comprovar.
Projetos de Decreto Legislativo (PDLs) – Homenagens
Foram aprovados 17 PDLs, concedendo o Título de Cidadão Barreirense a personalidades locais. A cerimônia de entrega está marcada para quarta-feira (12), às 19h30, na Câmara Municipal.
Moções e Indicações
Seis moções e mais de 30 indicações foram aprovadas, contemplando infraestrutura, saúde, educação, cultura e meio ambiente.
Destaques:
- Tático propôs ecopontos estratégicos, tentando transformar teoria ambiental em prática concreta.
- Revitalização das entradas e saídas da cidade suscitou debates sobre reais beneficiários das obras.
Outras polêmicas e debates
- Delmah Pedra reforçou projetos sociais e avanços educacionais, lembrando que o ensino médio é responsabilidade do Estado.
- Dra. Graça Melo questionou Rider Castro sobre a eficácia do aplicativo de ônibus em tempo real, deixando-o “de calças curtas” diante de um trânsito frequentemente congestionado e da complexidade de implementar soluções digitais que realmente funcionem.
- Rider Castro também trouxe discussões sobre segurança na Feira Livre e mobilidade urbana, mas a intervenção da Dra. Graça expôs a distância entre intenção e execução.
A sessão mostrou que a Câmara de Barreiras segue sendo um palco de tensão constante, onde interesses políticos, ironias e escrutínio público coexistem. Entre aplausos e discursos formais, ficou claro que a política local ainda é marcada por contradições, humor involuntário e desafios concretos de gestão.
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