
Detenção do presidente da Alerj revela engrenagem por trás do projeto de Derrite para limitar investigações federais e desnuda o uso de pedidos de impeachment contra o STF como escudo político
Caso de Política | Luís Carlos Nunes – A prisão preventiva do presidente da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), Rodrigo Bacellar (União/PL), realizada nesta quarta-feira (3) pela Polícia Federal, expõe o entrelaçamento entre o crime organizado e um projeto nacional de poder que orbita o clã Bolsonaro. A PF acusa Bacellar de vazar operações sigilosas para proteger o deputado “TH Joias”, ligado ao Comando Vermelho, revelando a infiltração de facções no sistema político fluminense. A operação também lança luz sobre as tentativas do deputado Guilherme Derrite (PP-SP) de restringir a autonomia da PF, além de conectar a ofensiva de pedidos de impeachment contra ministros do STF à autopreservação de grupos políticos investigados.
A investigação indica que Bacellar usava sua posição para blindar aliados envolvidos em tráfico, corrupção e lavagem de dinheiro. A apreensão de R$ 90 mil em espécie em seu veículo reforça o conjunto probatório. Ao autorizar a prisão, o ministro Alexandre de Moraes apontou para uma “infiltração política” das organizações criminosas no Rio com capacidade de cooptar agentes públicos em larga escala. Segundo a PF, Bacellar integrava um arranjo onde milícia, tráfico e mandatos parlamentares operam de forma articulada.
Nesse contexto, ganham novo peso as iniciativas legislativas de Guilherme Derrite. Em seu relatório inicial do “PL Antifacção”, o deputado incluiu dispositivos que condicionavam operações da PF à autorização de autoridades estaduais e retiravam recursos destinados ao combate ao crime organizado. A proposta, sob ótica investigativa, configura tentativa de obstrução preventiva: ao transferir a responsabilidade para polícias civis estaduais – como a do Rio, marcada historicamente por corrupção e por episódios como a proteção, por parte de Rivaldo Barbosa, aos assassinos de Marielle Franco – o projeto enfraquecia a única corporação capaz de alcançar lideranças políticas como Bacellar e seus padrinhos.
A operação também se conecta à recente decisão do ministro Gilmar Mendes sobre a Lei do Impeachment de 1950, validada pela AMB. A pressão da extrema-direita contra o Judiciário, longe de ser ideológica, revela-se pragmática: o mesmo bloco fluminense que sustenta Bacellar, base eleitoral do bolsonarismo e agora exposto por vínculos com o Comando Vermelho, lidera pedidos de impeachment contra ministros do STF. Parlamentares que pressionam pela destituição de Alexandre de Moraes e de Flávio Dino – relator do inquérito sobre o desvio bilionário de emendas – integram o mesmo ecossistema político do agora preso. Nesse ambiente, o impeachment deixa de ser instrumento institucional e passa a funcionar como tática de chantagem para paralisar investigações que envolvem desde a tentativa de golpe até o desvio de verbas públicas.
A detenção de Bacellar reforça a repetição histórica da crise no topo do poder fluminense. Todos os ex-governadores eleitos pelo voto direto desde a redemocratização e ainda vivos já foram presos ou destituídos: Moreira Franco, Anthony Garotinho, Rosinha Matheus, Sérgio Cabral e Luiz Fernando Pezão, além de Wilson Witzel, afastado por impeachment. Apenas os já falecidos Leonel Brizola e Marcello Alencar, e os vices Nilo Batista e Benedita da Silva, que assumiram mandatos-tampão, escapam da lista. O atual governador, Cláudio Castro, também permanece sob risco: já teve sigilos fiscal, bancário e telefônico quebrados pelo STJ.
Diante desse quadro, a autonomia da Polícia Federal e a atuação do Supremo Tribunal Federal surgem como última fronteira entre o Estado Democrático de Direito e a consolidação de um narcoestado de representação parlamentar — onde leis são moldadas não para combater o crime, mas para assegurar sua impunidade.
Caso de Política | A informação passa por aqui.
#InvestigaçãoPF #CrimeOrganizado #PoliticaERJ #STF #Impeachment #Bolsonarismo #Derrite #Alerj #Democracia






