
Em sessão tumultuada com intervenção policial e bate-boca, presidente interino tenta usar blindagem jurídica para evitar votação, mas acaba isolado por ‘frente ampla’ de oposição e governistas; requerimento aprovado por 7 a 1 impõe saída forçada e marca nova eleição para esta quarta-feira
Caso de Política | Luís Carlos Nunes – O que deveria ser uma sessão ordinária protocolar na noite desta terça-feira (09) transformou-se em um dos capítulos mais tensos da história recente do legislativo de Formosa do Rio Preto. Em uma noite marcada por manobras jurídicas, gritos, intervenção policial e reviravoltas de lealdade, o vereador Joilson do Sucuriú (Joilson Rocha) foi destituído da presidência interina, isolado por uma articulação surpreendente que uniu governistas e oposição em torno de um único objetivo: a realização imediata de novas eleições para a Mesa Diretora.
Abaixo, a cronologia detalhada de como a presidência interina ruiu.
O escudo jurídico e a resistência inicial
A sessão começou com 10 vereadores presentes. Joilson do Sucuriú, ocupando a cadeira presidencial, tentou blindar sua posição logo na abertura. Ignorando a pauta política, leu um extenso despacho jurídico – visivelmente preparado por terceiros, dada a dificuldade do presidente em pronunciar certos termos técnicos – argumentando que uma decisão liminar do TJ-BA suspendia qualquer tipo de eleição até o julgamento de uma apelação.
Sua estratégia era clara: ganhar tempo. Joilson sustentava que, para evitar “insegurança jurídica”, a presidência interina deveria ser mantida. Contudo, ao tentar encerrar a discussão sumariamente e pular a Ordem do Dia, subestimou a articulação que já estava formada no plenário.
A ofensiva de Roberto Andrade
O vereador Roberto Andrade foi o ponta de lança da oposição. Com uma interpretação jurídica oposta, argumentou que, se a liminar do Tribunal suspendia a eleição apenas para presidente, a sentença original que anulava a Mesa Diretora inteira voltava a valer. Ele foi incisivo, ameaçando Joilson com a responsabilidade pessoal sobre uma multa diária de R$ 10.000,00 e acusando-o de crime de desobediência caso não deixasse o cargo para o vereador mais idoso (Sandoval Queiroz) conduzir os trabalhos.
O cerco se fecha: as falas decisivas
Foi neste momento que a base de sustentação de Joilson começou a desmoronar, com discursos contundentes que minaram sua autoridade moral e legal.
- A Sustentação Técnica de Manuela
A vereadora Manuela Fernandes não apenas apoiou Roberto, mas trouxe o respaldo institucional para o “golpe” regimental. Ela fez questão de alinhar sua posição com o corpo técnico da Câmara, isolando a interpretação jurídica de Joilson como algo externo e pessoal.
“Eu corroboro com o requerimento do seu Roberto e o meu entendimento é o mesmo entendimento dele e do jurídico desta casa,” disparou Manuela.
Em seguida, ela expôs a fragilidade política de Joilson, criticando o isolamento da presidência interina:
“Fiquei muito triste em ver que o senhor preferiu fazer uma sessão com a mesa faltando um membro do que chamar um dos vereadores da oposição, o que me mostra o partidarismo que tá sendo levado aqui dentro desta casa.”
Mais tarde, quando Joilson tentou ignorar o pedido, foi Manuela quem usou o Regimento Interno como arma, citando o Artigo 127 para obrigar a votação: “O senhor tem que submeter a votação,” insistiu.
- A traição na mesa: Odília Naiara
O golpe mais simbólico veio de quem estava sempre ao lado do presidente. A vereadora Odília Naiara, convidada por Joilson para compor a mesa diretora no início da sessão, pediu a palavra para, surpreendentemente, aderir ao movimento de derrubada.
“Pela ordem, seu presidente. Eu também gostaria que constasse em ata que eu, vereadora Odília Naiara, concordo com o requerimento do colega Roberto de Andrade,” afirmou ela.
Ao final, durante a votação decisiva, Odília sacramentou sua posição legalista: “Peço fazer cumprir a lei e o que tange o regimento, eu sou a favor.” A deserção de Odília sinalizou para todo o plenário que Joilson havia perdido o controle.
- O julgamento moral de Meletinha
Enquanto Roberto Andrade atacava com a lei e Manuela Fernandes da Rocha com o regimento, o vereador Meletinha desferiu um ataque ético e pessoal. Ele se recusou a tratar Joilson pelo título de presidente, deslegitimando sua autoridade publicamente.
“Não vou chamar nem de senhor Joilson Rocha… Acredito que, a partir do momento que o senhor tomou ciência, se não fosse pelo ‘eu’ [ego], o senhor não estaria sentado aí. Porque essa postura de ‘tem que ser eu, tem que ser eu’… Não, não é assim,” declarou Zé Antônio, pintando a resistência de Joilson como um ato de vaidade pessoal.
Ele completou, exigindo respeito à democracia:
“O senhor tem que se rever e respeitar acima de tudo a vontade do povo, a decisão judicial e a decisão democrática que tem nessa casa.”
O colapso e a “tomada” da mesa
Quando Joilson, ignorando os apelos e o regimento, declarou a sessão encerrada (“Não tendo nada mais a tratar…”), o clima institucional desapareceu. O plenário virou palco de um confronto direto.
Os vereadores da oposição cercaram a Mesa Diretora. Gritos de “Dá licença na cadeira”, “O senhor vai ser preso” e “Nós vamos tomar” ecoaram. A situação ficou tão crítica que a Polícia Militar precisou intervir para retirar a advogada Dra. Rosana Brito (Procuradora de Barreiras), que estava irregularmente na área restrita assessorando Joilson. Sem seu suporte jurídico e sob pressão física e psicológica massiva dos vereadores que gritavam “Levanta, moço”, a resistência de Joilson ruiu.
O desfecho: nova direção
Com a saída forçada de Joilson – que se manteve sentado até o último instante possível -, o vereador decano Sandoval Queiroz assumiu a presidência interina.
Em uma votação relâmpago, o requerimento de Roberto Andrade foi aprovado por 7 votos a 1. Votaram a favor: Roberto Andrade, Manuela, Odília, Meletinha, Clarisvaldo, Hermínio Cordeiro e Lucimagno. O único voto contrário foi do próprio Joilson, que justificou: “Sou contra porque fui usurpado da minha cadeira.” O vereador Antônio Martins (Tonho do Bode), descontente por ter sido excluído das articulações prévias (“fizeram reunião separado”), ausentou-se do momento final.
Ficou decidido: Haverá sessão extraordinária para eleição da Mesa Diretora (chapa completa) nesta quarta-feira (10), às 18h. A densa tensão que tomou conta do plenário parece ter se dissipado apenas o suficiente para uma nova batalha política começar amanhã.
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