Unanimidade em torno da nova presidente sela pacto entre Oposição e Independentes, que assumem com respaldo popular superior à base governista. Sessão foi marcada por alertas de “controle remoto” sobre a gestão, a sombra de gastos excessivos e a iminente convocação de suplente
Caso de Política | Por Luís Carlos Nunes – A noite desta quarta-feira (10) marcou o renascimento político da Câmara Municipal de Formosa do Rio Preto, encerrando um ciclo de caos institucional com uma demonstração de força, coesão e, sobretudo, cálculo político. Ao eleger a vereadora Odília Naiara Ribeiro dos Santos por unanimidade (9 votos a 0), o Legislativo não apenas virou a página da interinidade litigiosa de Joilson do Sucuriú – que não compareceu à sessão alegando um oportuno “mal súbito” -, mas inaugurou uma nova arquitetura de poder. A nova Mesa Diretora chega alicerçada na legitimidade das urnas: o grupo que conduziu Odília ao poder (Oposição + Independentes) soma 4.140 votos, superando a base governista que, desfalcada pela prisão de Hildjane Leite Souza, encolheu para cerca de 4.036 votos. Essa “maioria popular” confere aos eleitos a autoridade moral para endurecer o jogo contra o Executivo.
Contudo, a “festa da democracia” escondeu nas entrelinhas dos discursos uma complexa rede de tutelas, avisos e a exposição das vísceras da política local. Ao assumir a cadeira, Odília adotou um tom pacificador e religioso, declarando que “quando Deus promete, ele cumpre” e que “não existe o meu lado ou o seu lado”. Mas a presidência de Odília nasce sob forte vigilância. O vice-presidente, José Antônio (Meletinha), assumiu publicamente o papel de “fiador pragmático” da gestão. Em um recado direto e sem rodeios, ele deixou claro que a nova presidente reina, mas não governa sozinha:
“Não votamos com intuito de querer que a senhora seja oposição [cega] às decisões… e sim, que seja a presidente para administrar”.
A fala de Meletinha equilibra o jogo, mas evidencia que a presidência dela é tutelada: Odília tem a cadeira, mas o colegiado detém o “controle remoto” para evitar voos solos ou radicalismos.
Esse freio de arrumação foi complementado pela contundência ideológica de Manuela Fernandes. A vereadora verbalizou o que o Prefeito mais temia: o fim da governabilidade automática.
“Nós não podemos ficar dizendo amém a todo e qualquer projeto de lei… A gente sabe que tem projeto de lei que chega a ser vergonhoso”, afirmou, decretando o fim do Legislativo como “puxadinho” da Prefeitura.
Manuela, no entanto, trouxe humanidade ao debate ao exaltar a representatividade feminina, lembrando as dificuldades de ser mulher em um espaço de poder majoritariamente masculino.
“Não é fácil chegar aqui… a mulher ela sempre fica mais para trás”, desabafou, criando um elo de sororidade com Odília que transcende as barreiras partidárias e fortalece a blindagem da nova presidente.
Enquanto a bancada feminina focava na independência e representatividade, o líder da oposição, Roberto Andrade, cuidou da “limpeza do terreno” com um discurso de risco e ruptura. Ele exigiu o expurgo imediato da assessoria jurídica que serve a dois senhores, cunhando a frase da noite:
“Ou você é pega ou você é gavião”.
Mas foi ao alertar sobre a segurança que ele tocou na ferida exposta. Ciente de que a nova correlação de forças pode levar a uma devassa nas contas, Roberto pediu proteção policial para os vereadores, lançando um aviso sombrio:
“Agimos de tal forma que poderá desagradar aqueles que acham que comem o dinheiro… Aqueles que querem a todo custo enriquecer ilícito”. O aviso foi claro: sanear as contas da Casa envolve riscos reais.
Entretanto, nem tudo foi renovação. A sessão também serviu de palco para a exposição crua da “velha política” e para o contorcionismo retórico. O decano Tonho do Bode, com uma sinceridade desconcertante, revelou os bastidores do toma-lá-dá-cá que rifou a candidatura de Sandoval Queiroz.
“Foi garantido a Sandoval que ia votar nele… como a Odília teve quatro votos a mais, recuou”, explicou.
Mas a confissão mais grave veio a seguir: Tonho admitiu explicitamente que seu voto em Odília foi motivado por uma dívida de gratidão pessoal, e não por critérios públicos.
“Eu teria a obrigação de votar em você primeiro, porque eu já tive benefício por sua família nesses mandatos que eu já tive”, disparou.
A fala expõe que, para a velha guarda, a fidelidade aos clãs familiares e o pagamento de favores passados ainda pesam mais que a coerência política.
Já Hermínio Cordeiro, afastado da presidência pelo STF devido a questões de reeleição (terceiro mandato), usou o seu tempo de fala para defender seu legado.
“Infelizmente fui tirado dessa casa, mas não foi por falta de honestidade, foi por roubo não. Foi por fato de mau entendimento do STF”, justificou-se.
A fala de Hermínio busca normalizar a situação, mas a contradição permanece, pois é justamente sobre sua gestão que recai o peso do alerta financeiro feito mais anteriormente por Robertinho Andrade. Embora a Câmara e a gestão anterior não sejam alvos oficiais de investigação policial, o legado administrativo pesa: a chamada “Farra dos Motores” (gastos exorbitantes com combustíveis) e os indícios de supersalários para servidores privilegiados criaram um ambiente de desconfiança pública. São essas distorções, gestadas durante a administração de Hermínio, que, se corrigidas pela nova Mesa, mexerão com interesses financeiros profundos e arraigados.
Em meio a esse xadrez, a nova presidente tem em mãos uma outra missão institucional inadiável e politicamente sensível: recompor a plenitude do plenário. Com o vereador Hildjane Leite Souza preso e alvo da Operação USG, a cadeira vazia representa um deficit de representação. Odília deverá analisar o melhor momento – jurídico e político – para convocar a primeira suplente, a ex-vereadora Brasilina. Nas eleições de 2024, Brasilina obteve 611 votos (3,44% dos válidos), uma votação expressiva que lhe confere legitimidade imediata. A convocação de Brasilina não é apenas um rito legal, mas um movimento estratégico que pode alterar ainda mais a correlação de forças na Casa, trazendo novos ares para um parlamento que busca se reencontrar com a opinião pública.
Ao final, com a urgência do recesso batendo à porta no dia 16, Odília anunciou uma maratona de sessões extraordinárias para limpar a pauta. Formosa do Rio Preto amanhece com a democracia restaurada e um Legislativo legitimado pelas urnas, mas a população assiste atenta: a “intervenção velada” funcionou para derrubar Joilson, mas o sucesso da nova gestão dependerá de quem realmente estiver segurando o “controle remoto” – se o interesse público em enxugar a máquina ou os velhos acordos de bastidor expostos por Tonho e Hermínio.
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