
Imagem de divulgação PF
Envelope apreendido na Operação Compliance Zero cita o deputado João Carlos Bacelar; PF ainda não identifica irregularidades, mas conteúdo pode influenciar disputa jurídica sobre foro e alcance da investigação
Caso de Política | Luís Carlos Nunes – A Polícia Federal apreendeu, em um endereço ligado ao empresário e banqueiro Daniel Vorcaro, um envelope identificado com o nome do deputado federal João Carlos Bacelar (PL-BA), contendo documentos relacionados a um negócio imobiliário na Bahia. O material, recolhido durante a Operação Compliance Zero, ainda não passou por análise conclusiva, mas já se tornou peça estratégica na batalha jurídica travada entre a defesa do empresário e a primeira instância da Justiça Federal.
Embora a PF declare não haver, até o momento, qualquer indício de irregularidade, o simples fato de um parlamentar figurar entre os documentos abre espaço para questionamentos sobre o alcance das relações mantidas por Vorcaro em Brasília. A defesa do banqueiro se antecipou: apresentou ao STF um pedido para que todo o inquérito seja remetido à Corte, argumentando que a presença do nome de um deputado atrai competência do Supremo – movimento semelhante ao que ocorreu na Operação Overclean, quando um caso envolvendo documento imobiliário de um parlamentar migrou para instância superior.
O pedido foi distribuído ao ministro Dias Toffoli. Nos bastidores jurídicos, o gesto é interpretado como parte de uma estratégia mais ampla: retirar o caso da primeira instância, a mesma que decretou a prisão preventiva de Vorcaro e outros investigados. A ofensiva encontrou um cenário favorável no TRF-1, onde a desembargadora Solange Salgado voltou atrás de decisão anterior e revogou a prisão dos cinco alvos, que deixaram a cadeia no sábado.
João Carlos Bacelar confirmou a existência do contato com Vorcaro, mas atribuiu tudo a uma negociação não concluída envolvendo um empreendimento imobiliário em Trancoso, distrito de Porto Seguro. Segundo o deputado, o empresário demonstrou interesse em adquirir participação no projeto e recebeu documentos referentes à possível operação. Bacelar afirma que, após dificuldades enfrentadas pelo Banco Master, Vorcaro pediu prorrogação para exercer a opção de compra – que, de acordo com ele, jamais se concretizou.
Apesar da explicação, o surgimento do envelope alimenta dúvidas sobre a extensão das relações do empresário, apontado por investigadores como uma figura influente nos bastidores políticos da capital federal. Ainda não há qualquer evidência de ilícito, mas especialistas consultados pela reportagem ponderam que a presença de documentos desse tipo pode, eventualmente, abrir frentes paralelas caso apareçam outras conexões sensíveis entre negócios privados e agentes públicos.
Até aqui, a PF sustenta que o conteúdo não tem relação direta com o foco central do inquérito – a venda do Banco Master ao Banco de Brasília (BRB). Mas a posição pode mudar dependendo do que surgir da análise completa do material apreendido, incluindo celulares encaminhados para perícia. Um ponto de atenção é o ex-presidente do BRB, Paulo Henrique Costa, que estava fora do país durante a operação, mas entregou voluntariamente seu aparelho à PF.
Com a investigação ainda no início da análise documental, cresce a expectativa sobre o que o envelope representa no contexto mais amplo do caso: apenas um negócio privado frustrado ou um indício, ainda que embrionário, de articulações políticas que merecem ser aprofundadas.
Caso de Política | A informação passa por aqui.
#Investigação #PF #Vorcaro #Bacelar #ComplianceZero #BancoMaster #Política #Brasília






