Pobreza triplica chances de ansiedade e depressão, indica relatório da ONU

Desigualdade social, jornadas exaustivas e insegurança climática alimentam transtornos mentais

Caso de Política | Luís Carlos Nunes – Um relatório recente da Organização das Nações Unidas (ONU) revela que pessoas em situação de pobreza têm três vezes mais chances de desenvolver transtornos mentais, como ansiedade e depressão, quando comparadas a indivíduos em melhores condições financeiras. O documento, intitulado “Economia do Burnout: Pobreza e Saúde Mental”, expõe as consequências da obsessão pelo crescimento econômico, evidenciando o impacto de condições laborais exaustivas, insegurança financeira e mudanças climáticas na saúde mental da população. Cerca de 11% da população global já enfrenta algum tipo de transtorno mental.

O relator especial da ONU, Olivier De Schutter, autor do estudo, explica que a crescente desigualdade social agrava o estresse e a instabilidade emocional das classes menos favorecidas e da classe média, que teme o rebaixamento financeiro. “Quanto mais desigual uma sociedade, mais a classe média sofre com o medo de cair na pobreza, resultando em altos níveis de estresse, ansiedade e depressão”, aponta De Schutter.

Jornada contínua e trabalho sob demanda

Um dos fatores de risco mais críticos, segundo o relatório, é o que De Schutter chama de “jornada de 24 horas por dia, 7 dias por semana”, em que trabalhadores ficam disponíveis sob demanda. Esse cenário atinge com intensidade trabalhadores de aplicativos e plataformas digitais, que têm horários de trabalho voláteis, dificultando o equilíbrio entre vida pessoal e profissional. A imprevisibilidade das jornadas e a incerteza sobre a carga horária contribuem para quadros de ansiedade e depressão, tornando-se uma fonte constante de tensão e desgaste emocional.

Insegurança climática e saúde mental

Além das condições de trabalho, o relatório também destaca a “ansiedade climática” como um fator crescente para transtornos mentais. Secas extremas, inundações e tempestades destroem meios de subsistência, gerando insegurança financeira e aumento de casos de ansiedade. A destruição dos recursos naturais afeta diretamente comunidades vulneráveis, que passam a viver em um estado constante de incerteza e medo, potencializando o impacto na saúde mental.

Propostas de ação e alternativas para redução de desigualdades

Para combater esse cenário, o relatório recomenda que governos adotem medidas de proteção social, incluindo a implementação de políticas de renda básica universal, apoio à economia social e solidária e regulamentações no mundo do trabalho para proteger trabalhadores sob demanda. Segundo De Schutter, organizações não governamentais, sindicatos e acadêmicos estão colaborando na elaboração de alternativas econômicas que visem a erradicação da pobreza sem comprometer a saúde mental dos indivíduos. Essas propostas estão previstas para serem apresentadas em 2025 e buscam uma reestruturação que permita o crescimento sustentável e o bem-estar populacional.

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