
Revelações de vídeo do Canal Desmascarando e reportagem do Jornal Nacional expõem falas controversas e a especulação financeira por trás das ameaças de sanções dos EUA contra o Brasil; estudo refuta colapso econômico
Caso de Política | Luís Carlos Nunes – Uma declaração do deputado federal Eduardo Bolsonaro (licenciado), conhecido popularmente como “Dudu Bananinha”, em entrevista à CNN, chocou ao expressar indiferença diante de um possível colapso do Brasil por sanções dos Estados Unidos, afirmando:
“Se houver o cenário de terra arrasada, pelo menos eu estarei vingado desses ditadores de toga”.
A fala, divulgada pelo Canal Desmascarando nesta sexta-feira (18), ocorre em meio a revelações do Jornal Nacional sobre a especulação financeira de grandes lucros com informações privilegiadas, movimentando o mercado com base nas ameaças de sanções contra o Brasil.
O deputado, questionado sobre o impacto de sanções que ele próprio defende ao ex-presidente Donald Trump, não demonstrou preocupação com a situação financeira do país.
“O Brasil terá a oposição varrida das eleições de 2026 se a única esperança que está surgindo agora com os Estados Unidos não der certo. É por isso que não haverá recuo. O Trump não vai recuar diante do Alexandre de Moraes. Perfeito, se houver o cenário de terra arrasada, pelo menos eu estarei vingado desses ditadores de toga”, disse Bolsonaro, expondo uma frieza notável em sua visão política.
A repercussão da fala ganha contornos mais graves com a reportagem do Jornal Nacional, que aponta para um movimento suspeito no mercado de câmbio. Conforme o programa, no dia 9 de julho, às 13h30 da tarde – horas antes do anúncio oficial de ameaças de sanções –, uma quantidade “enorme” de dólares foi comprada. Spencer Hakimian, dono de um fundo de investimentos em Nova Iorque, afirmou que entre 3 e 4 bilhões de dólares foram movimentados em uma transação abrupta, sugerindo uma tentativa de ocultar a operação e indicando que “alguém que disse: eu quero fazer a transação rápido e não quero que ninguém veja”.
O cenário de euforia em redes bolsonaristas, com planos que preveem sanções “quádruplas”, corte de GPS, embargos a empresas como Google, Apple e Meta, colapso econômico e revolta popular, é refutado por análises econômicas e de especialistas. Um estudo da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), do CD Plata, Departamento de Economia, concluiu que o impacto de tais sanções seria uma queda de apenas 0,16% no crescimento do Brasil.
Isso significa que, ao invés de um crescimento previsto de 2,3% para este ano, o país cresceria 2,14%, uma diferença considerada “absolutamente insignificante”, especialmente porque 90% das exportações brasileiras não se destinam aos Estados Unidos.
Ainda sobre as ameaças divulgadas, a história de que os Estados Unidos desligariam o GPS do Brasil é categoricamente falsa. O factchecklaboatos.org analisou o tema e concluiu que nunca houve tal medida na história, nem mesmo em países como Coreia do Norte, Cuba, Irã ou Rússia, que sofreram sanções máximas.
Especialistas apontam que os satélites de GPS não possuem um sistema que permita desligar o sinal sobre um país específico, e dispositivos militares capazes de interferir no sinal (jammers) operam apenas em áreas muito pequenas. Não há nada disponível para bagunçar o sinal do GPS em um país inteiro.
As alegações de aumento de taxas comerciais para 100% e envolvimento da OTAN também foram desmentidas. Taxas de 50% já inviabilizam o comércio, tornando aumentos superiores irrelevantes. Quanto à OTAN, a organização não aplicaria sanções ao Brasil por conta de um posicionamento unilateral dos EUA. Pelo contrário, países membros da OTAN, como o Canadá e nações da União Europeia e do EFTA, estão expandindo seus acordos comerciais com o Brasil, e alguns até mesmo ameaçam sanções contra os próprios Estados Unidos.
Christian Lynch, cientista político e historiador, fez uma dura crítica ao cenário, comparando a agressão de uma potência estrangeira ao Brasil a períodos como o afundamento de navios por Hitler. Lynch afirma que os Estados Unidos deixaram de ser uma democracia sob uma eventual ditadura trumpista, e que o Brasil deve defender sua própria democracia, não descartando o rompimento de relações diplomáticas.
“O Brasil não é quintal de ninguém”, enfatizou.
Por fim, o terrorismo digital propagado por influenciadores bolsonaristas, como Gustavo Gayer e Leandro Russo, que sugere um banimento de serviços como Microsoft, Apple, Google e Meta no Brasil, é totalmente infundado. O Brasil representa um mercado de bilhões de dólares para essas empresas, e seus serviços são substituíveis.
Em casos anteriores de queda do WhatsApp, por exemplo, a migração para plataformas concorrentes, como o Telegram, ocorreu em questão de horas, causando prejuízos bilionários às empresas e não afetando significativamente a vida dos usuários no longo prazo.
A realidade, como demonstra o exemplo da Rússia, que sofreu sanções máximas de diversas potências, é que a vida e a economia se adaptam. Lojas ocidentais foram substituídas por empresas locais, o mercado de carros e celulares foi dominado por marcas chinesas, e a economia russa cresceu 4,3% no ano passado. Especialistas alertam para que a população não caia no “terrorismo” bolsonarista, pois o poder real de tais sanções está muito aquém do que a narrativa extremista tenta disseminar.
E para fechar, vale destacar um vídeo interessante que circula pela internet e que ajuda a compreender parte desse fenômeno de desinformação política e convicções infundadas. Trata-se de uma análise sobre a epidemia de ignorância em tempos atuais. A reflexão parte do chamado efeito Dunning-Kruger, fenômeno psicológico segundo o qual pessoas com pouco conhecimento sobre um assunto tendem a superestimar sua própria competência — justamente por não saberem o quanto ignoram.
O caso mais simbólico, que inspirou o estudo, é o de um homem que cobriu o rosto com suco de limão acreditando que isso o tornaria invisível às câmeras de segurança, baseado na lógica de que “limão revela tinta invisível ao calor”. Esse tipo de raciocínio simplista, desconectado da realidade, alimenta convicções perigosas. O mais inquietante é que essas pessoas, muitas vezes, não agem por má-fé: elas realmente não percebem que não sabem. O excesso de certeza é, paradoxalmente, sinal de ignorância — enquanto os mais bem informados reconhecem a complexidade dos temas e tendem a duvidar mais de si próprios.
Por isso, diante de figuras públicas que demonstram certezas absolutas sobre temas altamente complexos — como economia internacional, geopolítica e tecnologia de satélites —, o melhor é manter distância. Ainda não inventaram cura para a ignorância convicta.
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