
Em debate sobre fogos de artifício, vereadoras surpreendem com elogios a adversário e denúncia de descumprimento de lei em cidade vizinha, acendendo a polêmica sobre fiscalização e alianças
Caso de Política | Luís Carlos Nunes – Uma inusitada inversão de papéis e uma revelação explosiva marcaram a Audiência Pública convocada nesta segunda-feira (14) pela Comissão de Constituição e Justiça da Câmara Municipal de Barreiras. O encontro, que debatia o Projeto de Lei nº 052/2025, do vereador João Felipe, propondo a proibição de fogos de artifício com estampido, viu as vereadoras Thaislane Sabel e Carmélia da Mata surpreenderem a plateia e os colegas com declarações que desafiaram suas posições políticas habituais, temperadas por um toque de ironia e um acerto de contas com o barulho.
O ápice da surpresa veio com a vereadora Thaislane Sabel que, após ter rompido politicamente com o grupo de Danilo Henrique para se alinhar à base governista, teceu inesperados elogios ao seu ex-aliado. O motivo? A ausência de fogos barulhentos nas campanhas e festejos de São João promovidos pela prefeitura, em um aceno à causa animal e às pessoas com sensibilidade. Uma jogada política que, no mínimo, fez alguns presentes questionarem o placar do jogo.
O inesperado elogio
Em um movimento que faria qualquer marqueteiro político coçar a cabeça, a vereadora Thaislane Sabel, agora na base governista, usou a tribuna para elogiar a conduta de seu ex-aliado Danilo Henrique. O curioso é que a justificativa era justamente sobre a questão dos fogos de artifício, o tema central da audiência. O que era um debate sobre leis, virou um palco para um tributo, no mínimo, pitoresco.
“Minha campanha foi com Danilo, e, felizmente, ele não soltou fogos com barulho, apenas os visuais”, Thaislane Sabel
“Essa é uma lei de suma importância, mas que não pode existir apenas no papel; precisamos fiscalizar. Em Luís Eduardo, por exemplo, conforme os comentários aqui, é lamentável que a lei sobre fogos exista, mas não seja cumprida nem fiscalizada. O Rio de Janeiro, inclusive, já não permite fogos com estampido, apenas os silenciosos. Tenho nove pets em casa, e precisei sedar um deles de tão assustado que ficou, escondendo-se. Para quem tem animais de estimação, a situação é realmente complicada.
Percebemos essa situação, não é? Minha avó, já falecida, também se assustava muito com fogos, a ponto de ir dormir às 19h. Durante minhas campanhas para vereadora, eu apelei muito sobre isso. Minha campanha foi com Danilo, e, felizmente, ele não soltou fogos com barulho, apenas os visuais. E agora, no São João da prefeitura, conversei com o prefeito, levando em consideração a questão do autismo, dos animais, dos idosos e das crianças. Eu mesma, se uma bomba explodir perto de mim sem aviso, acredito que todos aqui se assustam. Estou aqui para abraçar essa causa, e podem contar comigo.”
A bomba amiga
Mas a verdadeira “bomba estrondosa” veio da oposicionista Carmélia da Mata. Após iniciar sua fala com louvores à Comissão de Constituição e Justiça, a parlamentar lançou um petardo de alto calibre: a própria prefeitura de Luís Eduardo Magalhães teria descumprido a lei local que proíbe fogos com estampido durante o São João. A revelação, vinda de uma figura de oposição e filiada ao PP de Júnior Marabá, pegou a todos de surpresa e gerou um clima de constrangimento, especialmente para o vereador João Felipe, autor do projeto em Barreiras. Afinal, se a fiscalização falha na cidade vizinha, o que esperar por aqui?
Carmélia da Mata gerou constrangimento durante Audiência Pública ao expor descumprimento de lei em Luís Eduardo Magalhães: “Em Luís Eduardo, temos uma lei semelhante, mas, no São João, a própria prefeitura soltou muitos fogos”
“Quero parabenizá-los pela iniciativa e afirmar que, se há uma comissão que tem funcionado nesta Casa, é a de Constituição e Justiça, assim como a Comissão das Mulheres. As demais comissões, infelizmente, continuam deixando a desejar. Em Luís Eduardo, temos uma lei semelhante, mas, no São João, a própria prefeitura soltou muitos fogos. Ainda assim, sou favorável ao projeto por entender a necessidade de cuidado com animais e crianças – especialmente autistas e idosos, que se tremem com o foguetório.”
A reação do autor do projeto
A bomba de Carmélia da Mata explodiu no colo do vereador João Felipe. Visivelmente contrariado – e quem não estaria? – o autor do projeto se viu na delicada posição de ter sua pauta central reforçada por um vexame alheio, proferido pela própria oposição. A “paz e amor” entre cidades irmãs foi momentaneamente abalada pela dura realidade da fiscalização.
João Felipe: “Nada do que for apresentado me convencerá de que essa prática não precisa de atenção ou que este projeto não deva avançar”
“Nada do que for apresentado me convencerá de que essa prática não precisa de atenção ou que este projeto não deva avançar. Pelo contrário, Barreiras precisa ser exemplo como cidade regionalmente importante. Lamento muito – e confesso que não sabia – que a prefeitura de Luís Eduardo Magalhães, apesar de ter uma legislação, não respeite a lei aprovada e sancionada. Isso ressalta a importância de os legisladores e a população de Luís Eduardo, com todo respeito à nossa cidade-irmã, provocarem o Ministério Público e os órgãos competentes para que a legislação seja respeitada.”
A tentativa de remendo da oposicionista
Percebendo que talvez tivesse acendido um pavio comprido demais e que a fumaça da polêmica pairava sobre a audiência, a vereadora Carmélia da Mata tentou, com uma destreza digna de malabarista político, remendar o estrago. Sua explicação, porém, deixou um rastro de dúvida: fogos ‘musicais’ ainda fazem barulho, não é mesmo? Ou seriam fogos que tocam violino e só quem tem ouvidos de lince percebe a diferença do estampido? A tentativa de conserto, dita com a mesma veemência da denúncia inicial, apenas sublinhou a gafe.
Carmélia da Mata e a sua tentativa de correção
“Quando me referi a Luís Eduardo e aos fogos, gostaria de esclarecer que houve um foguetório, mas, em vez de estampido, era musical. De certa forma, isso representa um avanço; embora ainda haja som, a música substituía o estampido durante a soltura das girândolas e foguetes. Muito obrigada pela parte, Senhor Presidente.”
O episódio, que injetou uma dose inesperada de drama e ironia no debate sobre fogos de artifício, ressaltou a complexidade da fiscalização e a sensibilidade do tema para a população de Barreiras. Enquanto o Projeto de Lei nº 052/2025 segue seu trâmite, fica a lição de que, em política, um elogio inesperado ou uma denúncia mal dimensionada podem gerar mais barulho do que qualquer girândola. E que, aparentemente, a fiscalização de leis, mesmo as mais ‘musicais’, ainda é um desafio a ser superado.
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