
Presidente brasileiro reage à tentativa de Donald Trump de interferir no julgamento de Bolsonaro e reforça que o país não aceitará pressões externas nem alianças com projetos antidemocráticos
Caso de Política | Luís Carlos Nunes – Em tom direto e sem margem para ambiguidades, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) rechaçou nesta segunda-feira (7) a tentativa do ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de interferir no julgamento de Jair Bolsonaro (PL) no Supremo Tribunal Federal. A resposta, publicada nas redes sociais, veio após Trump denunciar o processo contra o ex-mandatário brasileiro como uma “caça às bruxas” e insinuar perseguição política, num gesto que escancara a tentativa de exportar sua retórica golpista para além das fronteiras americanas.
“Somos um país soberano. Não aceitamos interferência ou tutela de quem quer que seja”, afirmou Lula. Ao reafirmar que “ninguém está acima da lei”, o presidente mirou não apenas o aliado ideológico de Trump, mas também a prática recorrente da extrema-direita global de relativizar a justiça em nome de interesses políticos pessoais.
A tentativa de Donald Trump de colocar-se como fiador internacional de Jair Bolsonaro evidencia uma continuidade preocupante: o esforço de líderes autoritários para deslegitimar instituições democráticas quando seus aliados são confrontados pela justiça. Ao falar em “caça às bruxas”, Trump revive a mesma retórica que usou para desacreditar investigações criminais contra ele próprio nos Estados Unidos. Mas, ao importar essa narrativa para o Brasil, expõe seu desprezo pela soberania de outros países e sua tendência a se aliar a quem, como ele, tentou corroer o sistema democrático por dentro.
No Brasil, Bolsonaro é réu por tentativa de golpe de Estado. A denúncia aceita por unanimidade pela Primeira Turma do STF em março de 2025 não trata de opiniões, mas de evidências concretas de que o então presidente tentou se manter no poder após ser derrotado nas eleições de 2022 — incluindo reuniões com militares, difusão de desinformação e mobilização institucional para subverter a vontade popular. Ao todo, 497 pessoas já foram condenadas por participação nos atos antidemocráticos de 8 de janeiro; outras oito foram absolvidas, o que reforça que o processo tem critérios jurídicos — e não motivações políticas.
A fala de Trump também ignora que Bolsonaro está inelegível até 2030, por decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), por abuso de poder político e uso indevido dos meios de comunicação. O episódio mais simbólico — e revelador — foi a reunião com embaixadores estrangeiros, quando Bolsonaro atacou o sistema eleitoral sem provas, plantando desconfiança institucional às vésperas da eleição.
Neste cenário, a tentativa de Trump de influenciar a opinião pública brasileira e questionar a legitimidade do Supremo não pode ser vista como mera solidariedade entre aliados. Trata-se de um movimento orquestrado, que visa construir um discurso de impunidade para figuras políticas que atentaram contra a democracia.
Longe de ser um gesto isolado, a intervenção verbal do ex-presidente dos EUA parece coordenada com a atuação de Eduardo Bolsonaro, que vive nos Estados Unidos desde março. O deputado federal licenciado tem feito reiteradas críticas ao STF e, segundo a Procuradoria-Geral da República (PGR), está sendo investigado por tentar influenciar autoridades americanas a impor sanções contra ministros da Corte brasileira — uma tentativa explícita de internacionalizar pressões sobre o Judiciário nacional.
Lula, ao reagir com firmeza, resgata o papel que lhe é esperado enquanto chefe de Estado: proteger a institucionalidade e preservar a autonomia das decisões da Justiça. Sua fala não é apenas um desagravo ao STF, mas um recado ao mundo — especialmente àqueles que, como Trump, ainda alimentam fantasias imperiais sobre sua capacidade de ditar os rumos de outras democracias.
Ao confrontar a narrativa de Trump, o governo brasileiro não apenas defende seus tribunais; também traça uma linha divisória entre regimes que respeitam a lei e projetos políticos que a sabotam quando lhes convém. E, nesse ponto, não há meio-termo: ou se está do lado da democracia, ou ao lado de quem a tenta destruir.
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