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Investigação comercial dos EUA contra o Brasil inclui ofensiva ao Pix, sistema popular de pagamentos; silêncio da direita revela crise de identidade diante do trumpismo.
Caso de Política | Luís Carlos Nunes – O governo dos Estados Unidos, sob ordens diretas de Donald Trump, abriu uma ofensiva comercial contra o Brasil que vai muito além de disputas tarifárias ou pressões diplomáticas. Em meio à investigação aberta pelo Escritório do Representante de Comércio dos EUA, um alvo específico se destaca: o Pix. O sistema brasileiro de transferências instantâneas, desenvolvido pelo Banco Central, está sendo tratado como uma suposta “ameaça” à concorrência — leia-se, ao modelo de negócios das gigantes americanas de cartão de crédito.
A acusação é inusitada: o Pix seria “eficiente demais” e “desleal” com empresas dos EUA. Em outras palavras, o que incomoda não é o fracasso de um programa, mas o seu sucesso. A gratuidade, a velocidade e a popularidade do Pix viraram problema para o mercado financeiro internacional. E Trump agora quer tratá-lo como distorção de mercado.
O impacto dessa medida vai muito além do campo econômico. Ao mirar no Pix, Trump toca em um dos únicos instrumentos estatais contemporâneos que conseguiram unir periferia e classe média, empreendedores informais e grandes varejistas. Hoje, milhões de brasileiros — inclusive a base eleitoral bolsonarista — dependem do Pix para pagar aluguel, vender quentinhas, acertar contas no fim do expediente. Atacá-lo é atacar o cotidiano de quem mais precisa dele.
Nesse contexto, o bolsonarismo entra em colapso narrativo. Como justificar que o “mito americano” de ontem se transforme no algoz silencioso de hoje? Como sustentar o discurso da aliança incondicional com Trump se é justamente ele quem ameaça sabotar a mais popular ferramenta financeira criada no Brasil neste século?
Influenciadores, políticos e pastores bolsonaristas, diante da contradição, escolhem o silêncio — mas ele pode custar caro nas urnas.
Além do Pix, a lista de acusações americanas inclui temas variados: do desmatamento à pirataria na 25 de Março, passando por restrições ao etanol e moderação de conteúdo nas redes sociais. Mas nenhum desses pontos tem o peso simbólico do Pix. Ele mexe com a estrutura da vida cotidiana. E é aí que o bolsonarismo pode começar a ruir como fenômeno de massas: sendo obrigado a defender um aliado externo que ataca o próprio bolso do brasileiro.
A partir de 1º de agosto, a tensão escalará. Entra em vigor um tarifaço de 50% sobre produtos brasileiros, sem que Trump tenha apresentado qualquer justificativa técnica robusta. A retaliação se ancora em argumentos frágeis, e ainda carrega uma motivação política velada: o ex-presidente norte-americano se vale do processo judicial contra Jair Bolsonaro como desculpa indireta para pressionar o Brasil. É, portanto, uma tentativa de enquadrar a soberania nacional pela via do comércio internacional.
Ao atacar o Pix e defender plataformas digitais que espalham desinformação, Trump interfere no processo democrático brasileiro e fragiliza a posição daqueles que ainda o veem como um símbolo de força. Bolsonaro, que sempre reverenciou o ex-presidente americano, hoje se vê calado diante da agressão. Seus seguidores, órfãos de coerência, assistem à cena sem argumentos.
O trumpismo expõe, assim, o maior calcanhar de Aquiles do bolsonarismo: sua dependência emocional e ideológica dos Estados Unidos. E mais do que isso, revela sua incapacidade de se alinhar ao interesse nacional quando este colide com o desejo de uma potência estrangeira. Mas ao tocar no Pix, Trump pode ter ido longe demais.
Porque o Pix não é bandeira política — é ferramenta de sobrevivência. E nenhum discurso ideológico resiste à dor no bolso. Neste choque entre populismo internacional e realidade brasileira, quem pode sair derrotado é justamente o movimento que sempre se vendeu como defensor do “povo de verdade”. Afinal, até o mais fiel bolsonarista pensará duas vezes antes de aceitar voltar ao tempo da TED.
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