
Estudo inédito mostra que menos de 40% dos alunos dos anos finais valorizam seus docentes. Dados expõem o abandono histórico da carreira e a urgência de políticas públicas para resgatar a autoridade do professor e a função social da escola
Caso de Política | Luís Carlos Nunes – Uma pesquisa inédita divulgada nesta terça-feira (9) pela Agência Brasil acendeu um sinal vermelho sobre a realidade das escolas brasileiras. Apenas 39% dos estudantes do 6º ao 9º ano afirmam respeitar e valorizar seus professores. O levantamento, encomendado pelo MEC em parceria com Consed, Undime e Itaú Social, ouviu 2,3 milhões de alunos em 21 mil escolas durante a Semana da Escuta das Adolescências.
Os resultados não apenas revelam o desgaste da relação aluno-professor, mas também expõem o fracasso de políticas educacionais históricas, que negligenciaram a valorização docente, o acolhimento dos alunos e a adaptação do ensino às transformações sociais. A consequência imediata é o risco crescente de evasão escolar e o comprometimento da qualidade da educação no país.
Professores desvalorizados, escola fragilizada
A relação entre alunos e professores se deteriora de forma mais acentuada justamente quando os estudantes chegam aos anos finais do fundamental:
Ciclo Escolar | Alunos que respeitam e valorizam professores |
6º e 7º anos | 39% |
8º e 9º anos | 26% |
A queda brusca é um reflexo de um sistema que, por décadas, não valorizou a autoridade pedagógica do professor, submetendo-o a condições precárias de trabalho, baixos salários e sobrecarga emocional. Esse processo, agora, encontra eco na sala de aula, em forma de desrespeito e violência simbólica.
Acolhimento em declínio: sintomas de abandono
O levantamento também mostra a queda no sentimento de acolhimento dos estudantes, especialmente entre os mais velhos:
Ciclo Escolar | Alunos que se sentem acolhidos pela escola |
6º e 7º anos | 66% |
8º e 9º anos | 54% |
Apenas 45% dos alunos dos 8º e 9º anos relatam apoio de adultos na escola. Essa ausência de referência, somada à falta de estrutura, evidencia o abandono das políticas voltadas à adolescência e o despreparo das instituições para lidar com essa fase de transição. Curiosamente, em escolas com maior vulnerabilidade social, o acolhimento é maior (69%) do que nas de menor vulnerabilidade (56%), reforçando o papel da escola como última trincheira de proteção em comunidades mais fragilizadas.
Escola menos atrativa, jovens mais distantes
O estudo também aponta que os anos finais do fundamental são marcados por uma visão mais negativa da escola e maior dificuldade de socialização:
Afirmação | 6º e 7º anos (%) | 8º e 9º anos (%) |
A escola favorece amizades e interações sociais | Concordam: 65% | Concordam: 55% |
Mais ou menos: 29% | Mais ou menos: 35% | |
Discordam: 6% | Discordam: 10% |
Esse distanciamento reforça a crítica de que a escola brasileira continua a reproduzir um modelo engessado e ultrapassado, incapaz de dialogar com as demandas culturais e emocionais da adolescência.
Especialistas denunciam falhas estruturais
A secretária de Educação Básica do MEC, Katia Schweickardt, reconheceu que ouvir os adolescentes é fundamental para preparar professores e tornar o currículo mais significativo.
A pedagoga Tereza Perez, da Roda Educativa, foi mais dura: alertou que a “máquina da educação escolar” insiste em padronizar aprendizados, negando a diversidade e acelerando a evasão.
Já a superintendente do Itaú Social, Patrícia Mota Guedes, lembrou que o Brasil ignorou por décadas a educação dos adolescentes, e que o projeto Escola das Adolescências, do MEC, representa uma oportunidade inédita de diálogo entre Estado e sociedade civil.
O que os jovens querem aprender
A pesquisa também revelou as prioridades dos alunos, que vão além das disciplinas tradicionais:
Prioridades | 6º e 7º anos | 8º e 9º anos |
Disciplinas tradicionais | 48% | 38% |
Corpo e socioemocional | 31% | 29% |
Habilidades para o futuro | 21% | 24% |
Direitos e sustentabilidade | 13% | 13% |
O dado evidencia que os jovens exigem uma escola que prepare para a vida, e não apenas para provas.
Urgência de uma resposta política
Os números funcionam como denúncia: sem valorização docente, sem acolhimento estudantil e sem inovação pedagógica, a escola continuará a perder relevância e a expulsar silenciosamente milhões de adolescentes.
A crise educacional, longe de ser um problema isolado, reflete uma omissão histórica do Estado brasileiro. A falta de investimentos contínuos, de condições de trabalho dignas para os professores e de políticas adaptadas à juventude se transformou em uma bomba-relógio social.
A educação, tratada como gasto e não como investimento estratégico, cobra agora sua fatura em forma de evasão, violência e descrédito institucional. O futuro dos jovens depende de romper esse ciclo de abandono e recolocar a escola no centro do projeto de nação.
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