
Estudo do SINTE/SC em parceria com a UFSC revela quadro alarmante de adoecimento mental entre docentes: 28% tiveram ideação suicida nos últimos anos. Pressões emocionais, sobrecarga de trabalho, falta de estrutura e violência institucional aparecem como fatores centrais
Caso de Política | Luís Carlos Nunes – Um em cada quatro professores da rede pública estadual de Santa Catarina admitiu ter pensado em tirar a própria vida entre 2021 e 2024. O dado, considerado alarmante, foi revelado pela 5ª edição da Pesquisa de Saúde Docente, realizada pelo Sindicato dos Trabalhadores em Educação (SINTE/SC) em parceria com núcleos da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).
Segundo o levantamento, 28% dos docentes relataram ideação suicida – desejo de não existir ou planejamento de tirar a própria vida. O índice, que se mantém elevado desde o início do monitoramento em 2020, expõe o agravamento da crise de saúde mental da categoria.
Principais fatores apontados para o adoecimento
Fatores | Percentual de professores afetados |
Cansaço físico e emocional | 83% |
Conflitos com estudantes | 68% |
Conflitos com direções escolares | 37% |
Conflitos com famílias | 28% |
Conflitos com colegas de trabalho | 27% |
Além desses pontos, a falta de estrutura das escolas, a defasagem de aprendizagem dos alunos e o enfrentamento diário de problemas socioemocionais dos estudantes sobrecarregam ainda mais os docentes.
Vozes do sofrimento
O relato da professora de história Zenaide Peron, com 32 anos de carreira no oeste catarinense, ilustra a gravidade da situação. Após lidar com alunos em crises de ansiedade e até tentativas de suicídio em sala de aula, ela desenvolveu crises de pânico e hipertensão, sendo obrigada a se afastar da profissão em 2022:
“Eu amo lecionar, mas não tinha como não me envolver no sofrimento daqueles adolescentes. Faltava apoio do poder público. Me senti impotente.”
Possíveis motivações
Segundo a psicóloga e antropóloga Alana Ávila, o problema vai além do desgaste cotidiano. Ela aponta como fatores:
- Falta de investimento público em educação
- Salários defasados diante das cobranças
- Assédio moral e racismo
- Outras violências institucionais
- Carência de equipes de apoio
- Infraestrutura precária nas escolas
Esses elementos criam um ambiente permanentemente adoecedor, capaz de desencadear depressão, ansiedade e burnout.
Declarações do sindicato
A diretora do SINTE/SC, Katiane Weschenfelder Golin, reforça que cuidar da saúde docente é essencial para a qualidade da educação pública:
“Não há futuro para a educação sem cuidar da saúde do trabalhador. O compromisso do professor é com a formação dos estudantes, mas o poder público precisa garantir condições adequadas de trabalho.”
Um problema que vai além de Santa Catarina
Embora o estudo seja focado em Santa Catarina, especialistas destacam que o adoecimento mental dos professores é uma realidade nacional.
Profissionais em diferentes estados enfrentam:
- Jornadas exaustivas e baixos salários
- Salas superlotadas
- Violência escolar crescente
- Precarização dos vínculos trabalhistas
- Acúmulo de funções sem suporte institucional
Na prática, muitos docentes são forçados a atuar também como psicólogos, assistentes sociais e mediadores de conflitos, sem formação específica ou apoio adequado.
Esse quadro, somado ao sucateamento da infraestrutura educacional e à ausência de políticas consistentes de valorização docente, amplia o risco de esgotamento emocional e crises graves de saúde mental em todo o Brasil.
Um alerta à sociedade
O estudo mostra que professores, já sobrecarregados com demandas pedagógicas, acabam absorvendo responsabilidades que o Estado não cumpre. Essa negligência amplia o risco de adoecimento e coloca em xeque o futuro da educação pública.
Procure ajuda
Para casos de ideação suicida, o apoio pode ser buscado no CVV (188, gratuito e 24h), nos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) do SUS e em serviços de emergência hospitalar.
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