
Resolução publicada nesta terça-feira (23) fixa média da Bahia em R$ 9.284,06; desigualdade fiscal no Oeste Baiano revela municípios autônomos e outros submetidos à complementação federal, ampliando pressão institucional sobre gestores e Legislativos locais
Caso de Política | Luís Carlos Nunes – O Ministério da Educação (MEC) oficializou, nesta terça-feira (23), os parâmetros técnicos do Fundeb para o exercício de 2026 por meio da Resolução CIF nº 20/2025. Os dados, publicados no Diário Oficial da União, revelam mais do que números educacionais: expõem uma assimetria estrutural do pacto federativo, na qual a maioria dos municípios do Oeste Baiano opera abaixo da média estadual de R$ 9.284,06 por aluno/ano, ficando financeiramente dependente da complementação da União para garantir o mínimo constitucional da educação básica.
Na prática, o cenário institucionaliza uma relação de dependência fiscal direta de cidades-polo como Barreiras (R$ 7.181,90) e Luís Eduardo Magalhães (R$ 7.966,68) em relação ao Governo Federal. Sem a complementação obrigatória do Novo Fundeb, esses municípios não alcançariam o patamar mínimo de financiamento por aluno, o que transfere à União um papel central não apenas orçamentário, mas também político, ao condicionar parte significativa da política educacional local a fluxos externos de recursos.
Disparidade regional revela autonomia seletiva no Oeste Baiano
A análise técnica dos índices evidencia um abismo fiscal dentro da própria região. São Desidério consolida-se como exceção ao modelo de dependência, apresentando um VAAT de R$ 9.605,29, sendo o único município da amostra a superar a média estadual. O dado reforça sua posição como ente com maior capacidade de financiamento próprio da educação, reduzindo a exposição a condicionantes federais.
No extremo oposto, Oliveira dos Brejinhos registra o menor índice regional, com R$ 4.859,73 por aluno/ano, quase 50% abaixo da média baiana. Situação semelhante é observada em Santa Maria da Vitória (R$ 5.586,56) e Bom Jesus da Lapa (R$ 6.068,26). Pela legislação do Novo Fundeb, esses municípios terão complementação federal obrigatória, sendo que 50% desses recursos adicionais devem, por norma, ser destinados à Educação Infantil.
O desenho do fundo, embora cumpra função redistributiva, também acentua uma hierarquia federativa, na qual municípios mais frágeis passam a operar sob forte dependência técnica, financeira e normativa da União.
Vulnerabilidade social como critério e instrumento de redistribuição
Além do repasse bruto, a resolução define indicadores de correção que ajustam os valores conforme o grau de vulnerabilidade social. Municípios como Muquém do São Francisco (Indicador Socioeconômico de 1,02644) e Barra (1,025976) recebem multiplicadores mais elevados, ampliando os repasses federais como forma de compensar desigualdades estruturais.
Em contrapartida, Luís Eduardo Magalhães, com o menor Indicador Socioeconômico da região (1,002882), apresenta um fator de correção reduzido, refletindo uma população escolar com maior poder aquisitivo relativo. Barreiras, com indicador de 1,00816 e disponibilidade de recursos de 1,031422, ocupa uma posição intermediária: embora seja polo regional, sua arrecadação própria insuficiente a mantém dependente da complementação federal, reforçando o desequilíbrio entre responsabilidades e capacidade fiscal.
Pressão política sobre prefeitos e vereadores entra no cálculo orçamentário
Os índices divulgados encerram a fase de incerteza para o fechamento dos orçamentos municipais de 2026 e passam a servir como balizador jurídico e político para negociações entre sindicatos, prefeitos e Câmaras Municipais. Em municípios abaixo da média estadual, a discussão sobre rateio do Fundeb, reajuste do piso salarial e valorização do magistério deixa de ser apenas administrativa e passa a ter alto custo político.
Para cidades como Ibotirama (R$ 6.320,75) e Angical (R$ 6.430,62), o volume de transferências federais será expressivo. A aplicação correta desses recursos será decisiva para cumprir a exigência legal de destinação de 70% do fundo para pagamento dos profissionais da educação. Ao mesmo tempo, qualquer atraso, contingenciamento ou questionamento jurídico recai diretamente sobre prefeitos e vereadores, que passam a operar sob pressão institucional constante, muitas vezes sem controle efetivo sobre a origem dos recursos.
Nesse contexto, o Mapa do Fundeb 2026 não apenas orienta políticas educacionais: ele revela as fragilidades do federalismo fiscal brasileiro, onde a autonomia municipal é desigual, seletiva e, em muitos casos, condicionada à dependência permanente da União.
Tabela Completa – Índices do Fundeb 2026 | Municípios do Oeste e Sudoeste Baiano
Fonte: Resolução CIF nº 20/2025 – Diário Oficial da União (23/12/2025)
| Município | VAAT 2026 | Índice de Disponibilidade | Índice Socioeconômico |
|---|---|---|---|
| Bahia (Média Estadual) | R$ 9.284,06 | 1,029595 | 1,017927 |
| São Desidério | R$ 9.605,29 | 1,029316 | 1,019450 |
| Formosa do Rio Preto | R$ 8.814,41 | 1,030003 | 1,019970 |
| Jaborandi | R$ 8.122,25 | 1,030605 | 1,019030 |
| Luís Eduardo Magalhães | R$ 7.966,68 | 1,030740 | 1,002882 |
| Catolândia | R$ 7.938,32 | 1,030764 | 1,021249 |
| Baianópolis | R$ 7.618,19 | 1,031043 | 1,014950 |
| Brejolândia | R$ 7.584,57 | 1,031072 | 1,018124 |
| Riachão das Neves | R$ 7.537,57 | 1,031113 | 1,019319 |
| Serra Dourada | R$ 7.262,97 | 1,031351 | 1,017929 |
| Barreiras | R$ 7.181,90 | 1,031422 | 1,008160 |
| Tabocas do Brejo Velho | R$ 7.106,22 | 1,031487 | 1,021234 |
| Canápolis | R$ 6.953,71 | 1,031620 | 1,025720 |
| Morpará | R$ 6.917,24 | 1,031652 | 1,020664 |
| Santana | R$ 6.877,57 | 1,031686 | 1,020739 |
| Mansidão | R$ 6.813,89 | 1,031742 | 1,020859 |
| Riacho de Santana | R$ 6.783,14 | 1,031768 | 1,021191 |
| Cotegipe | R$ 6.697,39 | 1,031843 | 1,021690 |
| Paratinga | R$ 6.636,91 | 1,031895 | 1,022982 |
| Carinhanha | R$ 6.434,10 | 1,032072 | 1,024694 |
| Angical | R$ 6.430,62 | 1,032075 | 1,017140 |
| Sítio do Mato | R$ 6.324,23 | 1,032167 | 1,023249 |
| Cocos | R$ 6.322,14 | 1,032169 | 1,020700 |
| Ibotirama | R$ 6.320,75 | 1,032170 | 1,016815 |
| Feira da Mata | R$ 6.305,14 | 1,032184 | 1,016836 |
| Cristópolis | R$ 6.287,81 | 1,032199 | 1,021409 |
| Buritirama | R$ 6.282,91 | 1,032203 | 1,026440 |
| Xique-Xique | R$ 6.276,73 | 1,032208 | 1,023852 |
| Santa Rita de Cássia | R$ 6.274,65 | 1,032210 | 1,023570 |
| Muquém do São Francisco | R$ 6.234,62 | 1,032245 | 1,026440 |
| Barra | R$ 6.184,76 | 1,032288 | 1,025976 |
| Wanderley | R$ 6.161,22 | 1,032309 | 1,020939 |
| Bom Jesus da Lapa | R$ 6.068,26 | 1,032389 | 1,015095 |
| Serra do Ramalho | R$ 5.855,21 | 1,032575 | 1,017912 |
| São Félix do Coribe | R$ 5.691,98 | 1,032716 | 1,011142 |
| Santa Maria da Vitória | R$ 5.586,56 | 1,032808 | 1,019220 |
| Boquira | R$ 5.380,39 | 1,032987 | 1,024281 |
| Oliveira dos Brejinhos | R$ 4.859,73 | 1,033440 | 1,022095 |
| Correntina | — | 0,965000 | 1,019567 |
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