
Imagem: Print da entrevista
Em podcast, Guido Palomba critica a expansão de diagnósticos como TEA, TDAH e Burnout, atribuindo-a à influência da indústria farmacêutica. Enquanto isso, dados revelam aumento de casos e de concessões do BPC para autistas, gerando debate sobre critérios e gastos públicos
Caso de Política | Luís Carlos Nunes – O crescente número de diagnósticos de Transtorno do Espectro Autista (TEA) e outras condições psiquiátricas foi alvo de duras críticas do renomado psiquiatra forense Guido Palomba. Em participação recente no podcast Inteligência Limitada, Palomba questionou a validade de muitos desses diagnósticos, apontando para uma possível influência da indústria farmacêutica e o que chamou de “decadência da psiquiatria ocidental”.
Durante a entrevista, o psiquiatra expressou preocupação com a banalização de transtornos como o bipolar, TDAH (Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade) e, mais recentemente, o autismo, que classificou como “a bola da vez”.
“Se você é introvertido, se incomoda com barulhos altos, ou se gosta de ficar recolhido com você mesmo, se é inibido, você está arriscado a tomar um diagnóstico de autismo. E não é isso, né? Obviamente que não. Claro, não é um quadro clínico, é algo natural e normal. E não é autismo, espectro autista, onde tudo cabe. Você alarga e tome remédio, tome remédio. Então, essa é a psiquiatria decadente do século XXI”, afirmou Palomba.
O especialista argumentou que, a partir do final dos anos 1990, a psiquiatria se tornou “a menina dos olhos das indústrias farmacêuticas”. Segundo ele, transtornos graves e raros, como a psicose maníaco-depressiva, foram diluídos em conceitos mais amplos, como o “transtorno bipolar”, onde “tudo cabe”. O mesmo, em sua visão, ocorreu com o TDAH, onde “crianças às vezes mal educadas, simplesmente mal educadas, são diagnosticadas e tome remédio”.
Palomba criticou veementemente os protocolos de diagnóstico baseados em questionários que, segundo ele, levam a um excesso de medicalização.
“Todos que responderem esse protocolo [de burnout], eles terão burnout. Leve, moderado ou grave. Mas terão. Agora, você acha que isso pode? Não pode”, desabafou, defendendo que os psiquiatras “precisam voltar a ser psicólogos”, escutando os pacientes e abrindo perspectivas em vez de apenas prescrever medicamentos.
Ele chegou a sugerir que a classe médica deveria “pedir desculpas para os pacientes que tomam remédios errados sem precisar”.
Clique aqui e assista a entrevista em sua íntegra.
O cenário do autismo: aumento de casos e impacto no BPC
Enquanto o debate sobre a validade dos diagnósticos se acirra, dados concretos apontam para um aumento significativo na identificação de casos de autismo e, consequentemente, na demanda por suporte e benefícios.
Levantamentos recentes indicam um crescimento exponencial na prevalência do TEA. Nos Estados Unidos, os Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) revelaram que, em 2020, 1 em cada 36 crianças era diagnosticada com TEA, um salto considerável em comparação com 1 em 150 crianças em 2000. No Brasil, embora não existam estatísticas oficiais abrangentes e recentes, estima-se que cerca de 2 milhões de pessoas estejam no espectro, de acordo com o portal UOL.
Esse aumento reflete-se diretamente nas escolas. O Censo Escolar de 2024 apontou um crescimento de 44,4% no número de estudantes com TEA na educação básica entre 2023 e 2024, passando de pouco mais de 636 mil para quase 920 mil alunos, conforme divulgado pela Rádio Nacional. Fábio Cordeiro, presidente da Organização Neurodiversa pelos Direitos das Pessoas Autistas, vê esse aumento como importante para dimensionar a incidência do autismo no país, mas ressalta a necessidade de aperfeiçoar o ambiente escolar para uma inclusão efetiva.
Especialistas apontam diversas razões para esse crescimento, como a ampliação dos critérios diagnósticos (o DSM-5 unificou classificações anteriores sob o guarda-chuva do TEA), maior conscientização da sociedade e dos profissionais de saúde, e possíveis fatores ambientais e genéticos, como idade avançada dos pais e exposição a poluentes.
O aumento no número de diagnósticos de autismo também tem gerado um impacto significativo no Benefício de Prestação Continuada (BPC). Um levantamento do UOL mostrou que o número de concessões do BPC para pessoas com autismo triplicou em dois anos, passando de 19 mil para 56 mil até junho de 2023. Dados do Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome, citados pela Folha de S.Paulo, indicam uma expansão de 247,5% nas concessões administrativas do BPC para pessoas com TEA entre o fim de 2021 e setembro de 2024.
Esse cenário acendeu um alerta no governo federal devido ao custo crescente do BPC, que deve ultrapassar R$ 100 bilhões em 2024 e pode chegar a R$ 160 bilhões em 2028. A situação motivou propostas de “pente-fino” nos cadastros e discussões sobre a alteração nos critérios de deficiência para acesso ao benefício, gerando controvérsia e resistência no Congresso e entre especialistas e defensores dos direitos das pessoas com deficiência.
A judicialização também é um fator relevante, com um aumento no número de benefícios concedidos por via judicial. O governo expressa preocupação com a falta de padronização e a ausência do código CID em muitas dessas decisões.
Desafios e Perspectivas
A discussão levantada por Guido Palomba sobre a “mercantilização” da psiquiatria e a precisão dos diagnósticos encontra um contraponto nos dados que demonstram uma necessidade crescente de suporte para pessoas efetivamente diagnosticadas com TEA.
Profissionais e organizações da área do autismo enfatizam a importância da identificação e intervenção precoce. O portal Spectrum News e outros materiais de apoio destacam que o autismo não apoiado pode levar a abusos, automutilação, suicídio e outras dificuldades. A melhoria nas ferramentas de diagnóstico e a conscientização são vistas como cruciais para garantir que indivíduos no espectro recebam o acolhimento e as terapias adequadas, que podem incluir Análise do Comportamento Aplicada (ABA), Terapia Cognitivo-Comportamental, entre outras.
O debate permanece complexo: de um lado, o alerta contra a medicalização excessiva e a influência da indústria farmacêutica; do outro, a necessidade de reconhecer e apoiar adequadamente um número crescente de indivíduos diagnosticados com Transtorno do Espectro Autista, garantindo seus direitos e acesso a tratamentos e benefícios que podem ser essenciais para sua qualidade de vida.
Caso de Política | A informação passa por aqui.
Fontes: Portal gov.br, INSS, UOL, Instituto Inclusão Brasil, Folha de S. Paulo e Portal Spectrum News
#Psiquiatria #SaudeMental #Autismo #TEA #Diagnostico #GuidoPalomba #BPC #IndustriaFarmaceutica #InteligenciaLimitada