
Marlúcia Ramiro, que responde por tentativa de golpe de Estado, é acusada de violência física, psicológica e sexual contra duas meninas de 8 e 2 anos em Buritizal (SP), enquanto estava foragida da Justiça
Caso de Política | Luís Carlos Nunes – A bolsonarista Marlúcia Ramiro, de 63 anos, condenada pelos atos golpistas de 8 de janeiro de 2023, é investigada por suspeita de abusos físicos, psicológicos e sexuais contra duas crianças, no período em que estava foragida. Os crimes teriam ocorrido entre agosto e dezembro de 2023, na cidade de Buritizal, interior de São Paulo. As vítimas, à época com 8 e 2 anos, são filhas de uma mulher que acolheu Marlúcia sob pretexto de ajuda mútua.
A denúncia foi feita pela própria mãe das meninas, que conheceu a investigada em atos bolsonaristas após as eleições de 2018. Segundo o relato, Marlúcia pediu abrigo em agosto de 2023, alegando dificuldades financeiras. Em troca, se ofereceu para cuidar das filhas da amiga durante sua jornada de trabalho. Pouco tempo depois, as crianças começaram a apresentar sinais de maus-tratos, distúrbios de comportamento e, segundo a mãe, evidências de abuso.
A filha mais velha relatou agressões, negligência alimentar e privação de necessidades básicas. Disse que chegou a urinar na roupa por não poder usar o banheiro e foi impedida de beber água. Em um episódio, teve de pular a janela para fugir do calor, após ter sido trancada do lado de fora da casa. A irmã mais nova, diagnosticada com autismo, desenvolveu medo constante, aparecia com hematomas e, segundo a mãe, chegou a ser afogada na banheira.
A creche das crianças também passou a registrar comportamentos incomuns em agenda. Professores relataram que uma das meninas frequentava as aulas com fome. Segundo a mãe, Marlúcia impedia as refeições alegando que “já tinha passado da hora de comer”.
Diagnosticada com TDAH, a filha mais velha era alvo de humilhações.
“Ela chamava minha filha de burra, dizia que ela nunca ia aprender a ler ou escrever. Comparava com outras crianças”, contou a mãe.
As denúncias se agravaram após uma prima da vítima afirmar ter presenciado Marlúcia sacudindo a bebê e a jogando no chão.
“Ela fazia por ruindade”, relatou.
A mãe acionou a filha da própria Marlúcia, que confirmou que a mulher estava foragida e sugeriu que a polícia fosse chamada. Marlúcia foi então localizada e conduzida à delegacia, onde foi presa.
Investigação aponta suspeita de abuso sexual
Creche registrou episódios incomuns em agenda, segundo a mãe das meninas. Foto: Reprodução/Globo
Com o avanço das apurações, surgiram novos relatos indicando possível abuso sexual. Segundo a mãe, Marlúcia teria tirado fotos íntimas da bebê, o que motivou a transferência do caso para a Justiça Comum. A Promotoria pediu a apreensão do celular da acusada. A criança mais nova, após o convívio, passou a apresentar condutas consideradas sexualizadas, como introdução de objetos na genitália e toques inapropriados nos pais.
O advogado da família, Wellington Santos, afirma que Marlúcia nega todos os crimes e diz ser alvo de retaliação. A investigação corre sob sigilo e envolve o Conselho Tutelar e o Ministério Público.
Militância política e antecedentes
Marlúcia tem histórico de militância radical e antecedentes por crimes contra a honra em Guarulhos. Segundo uma ex-vizinha, ela passou a se envolver ativamente em atos bolsonaristas após a morte do pai, a quem cuidava. “Achava que era superior por fazer campanha para o Bolsonaro”, disse. Em um dos protestos, arremessou pão com mortadela em apoiadores de Lula e chegou a se ferir ao tentar subir num caminhão.
Nas redes sociais, Marlúcia divulgava caravanas para atos golpistas em Brasília. Mantinha um perfil ativo até 2022, promovendo viagens para apoiadores do ex-presidente. Foi detida após os ataques de 8 de janeiro e condenada por crimes como tentativa de golpe de Estado, associação criminosa armada e depredação do patrimônio público.
Progressão de pena e decisão do STF
Marlúcia cumpria pena no Complexo Penal de Pirajuí (SP) até abril deste ano, quando teve a prisão convertida em regime domiciliar por decisão do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). A mudança ocorreu após o fim da fase de instrução processual.
Na decisão, Moraes afirmou que a manutenção da prisão preventiva não era mais necessária, mas que os indícios de participação nos crimes golpistas permanecem fortes. Marlúcia ainda não tem data para sentença definitiva, mas pode enfrentar penas superiores a 30 anos de prisão caso condenada em todos os processos.
As investigações sobre os abusos infantis seguem em curso. O caso mobiliza o Ministério Público, o Conselho Tutelar e poderá ensejar nova denúncia formal contra a bolsonarista nos próximos meses.
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