
Presidente brasileiro herda liderança do bloco regional sob clima diplomático frio com o argentino Javier Milei e anuncia como prioridade o pacto com a União Europeia ainda em 2025
Caso de Política | Luís Carlos Nunes – Sob um clima diplomático gelado e distante de qualquer gesto cordial, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva assumiu nesta quinta-feira (3), em Buenos Aires, a presidência rotativa do Mercosul. O cargo foi transmitido por Javier Milei, presidente da Argentina e desafeto declarado do líder brasileiro, com quem trocou ofensas públicas nos últimos meses. A cerimônia foi marcada por um aperto de mãos breve e sem sorrisos, contrastando com os cumprimentos calorosos que Lula costuma reservar a outros chefes de Estado.
Durante seu discurso, Lula evitou mencionar diretamente o desconforto político, mas delineou com clareza os rumos que pretende imprimir à frente do bloco: fortalecer a integração regional, retomar a agenda ambiental e social e, sobretudo, fechar o tão aguardado acordo comercial com a União Europeia ainda em 2025. O presidente destacou que vê o Mercosul como “peça central da política externa brasileira” e reiterou a importância de uma atuação coesa entre os países-membros.
Assista ao discurso:
A tarefa, no entanto, não será simples. Lula terá de lidar com um cenário interno fragmentado, marcado por divergências ideológicas profundas entre os líderes sul-americanos. Milei, por exemplo, já chamou o bloco de “estorvo” e sustenta um discurso ultraliberal, antagônico à linha integracionista defendida pelo Brasil. Além disso, o argentino é aliado declarado de Jair Bolsonaro e já se referiu a Lula com termos como “ladrão”, “totalitário” e “dinossauro idiota”.
Embora o presidente brasileiro tenha exigido publicamente um pedido de desculpas pelas agressões verbais, nunca houve retratação por parte de Milei. Na prática, essa ferida aberta se refletiu no tom frio da transmissão do cargo, sem sinal de reconciliação ou distensão entre os dois.
O encontro em Buenos Aires foi o primeiro entre Lula e Milei desde a vitória do argentino nas eleições de 2023. À época, o petista recusou o convite para a cerimônia de posse e limitou-se a um cumprimento protocolar durante o G20, no Rio de Janeiro. Desta vez, a postura se repetiu, sinalizando que a convivência entre os líderes tende a ser marcada mais por pragmatismo institucional do que por afinidade diplomática.
Apesar das diferenças, o Brasil assume a presidência temporária do Mercosul em um momento estratégico. Além do avanço nas negociações com a União Europeia, Lula também busca reforçar a presença do bloco em fóruns multilaterais e ampliar o alcance da política ambiental em conjunto com os países vizinhos. A tarefa exigirá habilidade para superar os ruídos políticos internos e reabilitar o protagonismo sul-americano no cenário internacional.
Se o primeiro gesto foi protocolar e frio, os próximos meses indicarão se o pragmatismo falará mais alto que os insultos trocados. Para Lula, o comando do Mercosul representa mais que um mandato rotativo — é uma tentativa de reconstruir pontes e reafirmar a relevância do bloco diante de um mundo cada vez mais fragmentado.
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