
Antes de se tornar a casa de Bolsonaro, o Partido Liberal foi a peça-chave na primeira vitória de Lula, apoiou FHC e Ciro, e teve seu presidente preso no Mensalão. Uma história de alianças por conveniência que explica muito sobre o poder no Brasil
Caso de Política | Luís Carlos Nunes – Para muitos eleitores que o associam exclusivamente à direita, a afirmação soa como uma heresia: o Partido Liberal (PL) foi o partido que elegeu Luiz Inácio Lula da Silva. Essa surpreendente verdade é o ponto de partida para entender a complexa e camaleônica trajetória de uma das siglas mais fisiológicas do Brasil, comandada há décadas pela mesma figura central: Valdemar da Costa Neto.
Fundado em 1985, com a redemocratização, o PL rapidamente se especializou na arte de se aliar ao poder, independentemente da ideologia. Em 1994, apoiou Fernando Henrique Cardoso (PSDB); em 1998, esteve com Ciro Gomes (então no PPS que rompeu com o PCB). O grande salto de oportunismo político, no entanto, ocorreu em 2002. Após três derrotas seguidas, o PT concluiu que precisava de uma aliança de centro para vencer as eleições. Foi então que Valdemar da Costa Neto entrou em cena.
A aliança PT-PL se concretizou com a indicação do senador mineiro José Alencar como vice na chapa de Lula. A estratégia foi um sucesso retumbante: ambos venceram, e o PL se tornou um pilar fundamental dos governos petistas. O partido apoiou os dois mandatos de Lula e os dois de Dilma Rousseff, uma parceria que durou 14 anos e incluiu a participação no centro do escândalo do Mensalão, que levou à prisão do próprio Valdemar.
A fidelidade, como sempre na história do partido, teve um prazo de validade. Em 2016, o PL rompeu com o PT e votou a favor do impeachment de Dilma, migrando seu apoio para o governo de Michel Temer. Mesmo com a onda conservadora crescendo, nas eleições de 2018 o partido não embarcou no bolsonarismo de primeira hora: preferiu apoiar Geraldo Alckmin (PSDB), mostrando mais uma vez que suas decisões são baseadas na conveniência do momento, e não em convicções ideológicas.
Hoje, o PL enfrenta novos desafios ao seu poder, como ilustra o cenário em Santa Catarina. O governador Jorginho Mello (PL) assiste ao avanço do PSD, que elegeu prefeitos em cidades importantes como Balneário Camboriú e Navegantes. Diante dos boatos de que o prefeito de Chapecó, João Rodrigues (PSD), pode tomar seu lugar em 2026, Mello recorre ao velho manual do partido: entrou em “estado de alerta” e convidou Carlos Chiodini, do MDB, para seu secretariado, visando uma aliança para as próximas eleições. A ironia é que, em Itajaí, a atual gestão do PL (Robison Coelho e Rubens Angioletti) culpa o governo anterior, de Volnei Morastoni (MDB), por todos os problemas da cidade, enquanto o governador do mesmo partido busca o MDB como salvador.
Essa história, que vai de Lula a Bolsonaro, passando por FHC, Ciro, Mensalão e impeachment, expõe a verdadeira natureza de um partido moldado não por ideologia, mas pelo apetite pelo poder. E deixa um recado claro aos eleitores: antes de se orgulhar de votar em um “patriota temporário”, é crucial conhecer a história para entender que, no fim, a conta do oportunismo sempre chega.
Caso de Política | A informação passa por aqui.
#HistoriaDoPL #OportunismoPolitico #Fisiologismo #ValdemarDaCostaNeto #LulaEPL #PolíticaBrasileira #AliançasPoliticas #JorginhoMello #SantaCatarina