
A sessão na Câmara Municipal evidenciou a divisão de opiniões sobre a eficácia e a justiça das operações de trânsito, com acusações de abuso, perseguição e foco na arrecadação, enquanto se debate a necessidade de um planejamento mais humano e técnico para a mobilidade urbana
Caso de Política | Luís Carlos Nunes – A sessão da Câmara de Barreiras nesta terça-feira (07) foi marcada por um embate político de alta intensidade, tendo como estopim o tema das blitzes, das multas e da operação do Pátio Legal. O debate, iniciado pela vereadora Carmélia da Mata com críticas à frequência e ao caráter punitivo das ações, rapidamente evoluiu para um confronto de visões entre os parlamentares, expondo a dificuldade de conciliar segurança pública com justiça social
Carmélia da Mata reconheceu a importância das blitzes para a segurança, mas apontou o “excesso” e o “abuso” na forma como vêm sendo conduzidas. Segundo ela, a população sente-se “intimidada, perseguida, acuada”, e há a percepção de que existe “mais interesse em arrecadar do que em educar”. A vereadora questionou o planejamento das operações, observando que, com pátios e guinchos já a postos, tudo parece “milimetricamente preparado” para recolher veículos, levantando a dúvida: o foco estaria na orientação ou na punição?
As manifestações que se seguiram mostraram que a preocupação de Carmélia não era isolada. Allan do Alambique criticou duramente as tarifas do Pátio Legal, afirmando que “de legal não têm nada” e destacando as dificuldades enfrentadas pela população humilde para arcar com os custos de apreensão e manutenção dos veículos. Já João Felipe descreveu um “ciclo de penalização do trabalhador”, condenando a falta de resposta do prefeito e a aparente omissão diante da precariedade nos serviços públicos, especialmente na saúde e na regularização veicular. Em tom incisivo, o vereador acusou o gestor de priorizar o marketing político em detrimento da solução dos problemas reais da população.
Em contraponto, Adriano Stein defendeu a atuação da Polícia Militar e a necessidade de fiscalização, ressaltando que as ações seguem diretrizes do governo estadual. Ele questionou a insinuação de ilegalidades e reconheceu avanços recentes do Estado, mas observou que os cidadãos também têm responsabilidade em manter seus veículos regularizados. Sua fala, embora técnica, acabou relativizando parte das críticas à gestão municipal.
Já Tatico trouxe à discussão o tema da mobilidade urbana e da infraestrutura. O vereador destacou a urgência de ampliar a Avenida Barão do Rio Branco, citando o “gargalo” e o “retorno íngreme” que geram congestionamentos e transtornos, especialmente nos horários de pico. Segundo ele:
“Meu pedido às pessoas responsáveis pelo trânsito de Barreiras é que façam aquela ampliação ali para quando se for na hora de pico […] que seja rápido para a entrada e saída dos ônibus também na rodoviária, que seria de suma importância.”
Tatico defendeu um planejamento técnico e de longo prazo para o trânsito, argumentando:
“A cidade de Barreiras vem numa crescente muito grande. Às vezes você faz um atalho ali, conserta um gargalo ali, mas daí a pouco não vai ser suficiente. Tem que começar os estudos urbanos para dar sequência a esse número absurdo de veículos que tem e tá vindo crescente aí em nossa cidade.”
Ele também mencionou a necessidade de instalação de abrigos em pontos de ônibus, criação de ecopontos e anunciou um projeto de lei para incentivar a adoção de pontos pela iniciativa privada.
Diante do impasse, cresceu o apelo por soluções conjuntas. Allan do Alambique propôs que a Câmara dialogue com o Pátio Legal para discutir a redução das tarifas e questionar a legalidade das cobranças. João Felipe reforçou a necessidade de enfrentamento da “falta de vontade política” e da “inércia do Executivo”, citando como exemplos o abandono do Centro Histórico e o atraso na entrega das casas populares. Sua fala mais contundente, porém, voltou-se à saúde pública:
“Enquanto nós estamos aqui, muitas mulheres estão lá, sabem que têm o nódulo, têm medo do que vão descobrir, porque o tal do câncer, o tal do resultado da biópsia, quando se consegue, que é um procedimento caro, parece que é um atestado de óbito. […] Essas mulheres não conseguem acessar, senhor presidente.”
João Felipe Felipe concluiu criticando diretamente o prefeito:
“Ele não tem coragem de falar da saúde. Então, presidente, eu não vou cansar de tratar desse tema aqui.”
A sessão deixou claro que a questão das blitzes e suas consequências financeiras tornou-se um ponto de inflexão no debate político de Barreiras. As críticas contundentes, os ataques à gestão e a defesa apaixonada da população trabalhadora expuseram uma insatisfação crescente. A urgência de que a Câmara assuma protagonismo na busca por soluções – seja por meio de projetos de lei, convocações ou articulação com o Executivo e órgãos competentes – desponta como principal legado desse embate.
A polêmica das blitzes, longe de se encerrar, promete novos capítulos e acirrados debates sobre a necessidade de uma fiscalização mais justa, transparente e educativa – que concilie segurança e dignidade para todos os cidadãos.
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