Secretário Jeferson Barbosa retira vereadora de Comissão de Avaliação após mais de um ano; nos bastidores, a saída tardia levanta o tapete de “cabulosas articulações” sobre quem cobra assiduidade mas vive uma rotina de mistérios na folha de pagamento
Caso de Política | Luís Carlos Nunes – Diz o ditado popular que “quem tem telhado de vidro não deve atirar pedra no vizinho”, mas em Barreiras, a gestão pública parece ignorar a transparência do vidro até que seja conveniente trocá-lo. Na edição nº 4552 do Diário Oficial, desta terça-feira (3), uma movimentação na Secretaria de Educação chamou a atenção não pelo que constrói, mas pelo que tenta esconder. O secretário Jeferson Barbosa assinou a Portaria nº 80/SEDUC/2025, substituindo a Sra. Carmélia Carvalho de Souza da “Comissão de Avaliação de Servidores do Magistério Municipal em Estágio Probatório”.
A justificativa oficial é burocrática. A real, porém, exala o cheiro de “monturo” – aquele lixo velho que se varre para debaixo do tapete. Carmélia Carvalho é, nas urnas e na tribuna, a vereadora Carmélia da Mata. A ironia começa na origem: em abril de 2024, véspera de eleições, a Portaria nº 019/SEDUC colocou a parlamentar na função de fiscalizar o desempenho, a assiduidade e a dedicação de novos servidores.
Avaliando o cisco no olho do outro
É aqui que a “saia justa” institucional se transforma em algo mais denso. A comissão tem a missão de avaliar o Estágio Probatório – fase onde o servidor precisa provar que trabalha duro, cumpre horários rígidos e entrega metas. Chega a ser poético, senão trágico, que tal avaliação tenha passado pelo crivo de uma figura política cuja própria rotina funcional dentro da estrutura da prefeitura é um mistério insondável.
O exercício investigativo esbarra em “cabulosas articulações”: com que autoridade moral se avalia o suor alheio quando a própria folha de ponto da avaliadora poderia ser classificada como obra de ficção? Sabe-se que a remuneração vinculada a essa matrícula é robusta, digna de quem dedica integralmente seus dias à pasta. No entanto, a onipresença da vereadora na Câmara e nas ruas contrasta com sua invisibilidade nos postos de trabalho onde deveria, em tese, cumprir expediente de 200 horas mensais para justificar o contracheque.
O tapete e o monturo
A permanência de Carmélia da Mata nessa comissão durante todo o ano eleitoral e o início do novo mandato sugere que o secretário Jeferson Barbosa não apenas normalizou um conflito de interesses, mas talvez tenha acobertado uma situação conveniente. A assinatura da vereadora em avaliações de terceiros servia como verniz de legalidade, enquanto, nos bastidores, seu próprio vínculo funcional permanecia intocado, protegido por acordos silenciosos.
A substituição agora, em dezembro de 2025, por outro nome, é uma tentativa de arrumar a casa. Mas o estrago na credibilidade está feito. Há quem diga que, em Barreiras, a régua que mede o trabalho do servidor comum é de aço, implacável com faltas e atrasos. Já a régua que mede os “amigos do poder” é de elástico, esticando-se para acomodar mandatos parlamentares e matrículas funcionais numa simbiose lucrativa.
A comissão era apenas a ponta do iceberg. O verdadeiro monturo continua lá, escondido sob as “cabulosas articulações” que permitem que o dinheiro público pague por serviços cuja execução é, no mínimo, uma incógnita. O secretário trocou o nome na portaria, mas o cheiro de história mal contada continua impregnado no Diário Oficial.
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