Investigação da LOA 2026 revela que a prefeitura atingiu o marco de R$ 1,09 bilhão, mas asfixiou o social. Gastos com festas e publicidade disparam no ano eleitoral, enquanto a dívida pública consome recursos em proporção alarmante, chegando a R$ 1,2 milhão para cada R$ 1,00 investido em moradia
Caso de Política | Luís Carlos Nunes – O orçamento de Barreiras para 2026 não é apenas um documento contábil, mas um manifesto de prioridades eleitorais. Pela primeira vez na história, o município gerirá mais de um bilhão de reais (R$ 1.092.070.168,00). No entanto, a lupa investigativa do Portal Caso de Política sobre as subfunções orçamentárias revela uma realidade cruel: o “clube do bilhão” foi projetado para sustentar o espetáculo e a imagem do governo. Para inflar em 716% a Comunicação e em 73% a Cultura – leia-se, festas -, a gestão municipal reduziu recursos para a Habitação a um valor simbólico e cortou verbas da Assistência Social.
A “maquiagem” na Saúde: o lucro político da doença
A Saúde detém a segunda maior fatia do orçamento (R$ 295,7 milhões), mas o modelo permanece “hospitalocêntrico”, privilegiando a cura em detrimento da prevenção.
- Assistência Hospitalar (cura): R$ 127.874.660,20
- Atenção Básica (prevenção): R$ 82.730.245,00
O veredito: a prefeitura gasta 54% a mais tratamentos hospitalares do que nos postos de saúde de bairro. Documentalmente, isso comprova a opção por manter o sistema sobrecarregado: sem prevenção eficiente, o cidadão adoece e alimenta as filas hospitalares, que geram maior visibilidade política para “inaugurações de alas” em ano eleitoral, apesar da menor eficiência em saúde pública.
O escândalo da Habitação e a crise do saneamento
A análise comparativa expõe o abandono das políticas estruturantes voltadas à população mais pobre.
- Habitação: em 2025, a verba era de R$ 430 mil. Para 2026, foi reduzida a R$ 76.000,00. O corte de 82,3% praticamente extingue qualquer programa habitacional próprio do município.
- Saneamento: embora tenha subido para R$ 4,2 milhões, o valor é irrisório (0,4% do orçamento total) para uma cidade que enfrenta graves problemas de drenagem e esgotamento sanitário.
Comunicação e Cultura: o “duto eleitoral”
As pastas de maior visibilidade pública são as únicas que ignoram a crise e recebem superavits extraordinários.
- Comunicação Social e Cerimonial: saltou de R$ 238 mil para R$ 1.947.460,00, um aumento de 716%, voltado à blindagem da imagem da gestão.
- Cultura e Festas: o orçamento disparou para R$ 34.437.763,00. Desse total, R$ 23,8 milhões destinam-se exclusivamente a eventos e “festas típicas”. Na prática, Barreiras gastará três vezes mais com festas do que com toda a Assistência Social.
Tabela comparativa investigativa (2025 x 2026)
- Cultura e Festas: R$ 19,8 milhões → R$ 34,4 milhões | +73,8% | Foco no pão e circo
- Comunicação/Cerimonial: R$ 238 mil → R$ 1,94 milhão | +716% | Blindagem de imagem
- Saúde (Hospitais): R$ 131 milhões → R$ 127,8 milhões | -2,4% | Manutenção do gargalo
- Saúde (Atenção Básica): R$ 74,8 milhões → R$ 82,7 milhões | +10,5% | Abaixo da inflação do setor
- Habitação: R$ 430 mil → R$ 76 mil | -82,3% | Extinção de política
- Assistência Social: R$ 17,6 milhões → R$ 15,8 milhões | -10,2% | Abandono de vulneráveis
O peso da máquina e o gargalo da dívida pública: o colapso dos investimentos próprios
O dado mais alarmante da investigação reside na incapacidade do município de investir recursos próprios, em razão do endividamento elevado e do custo da folha de pagamento.
- A sangria da dívida: Barreiras reservou R$ 92.065.571,00 apenas para amortização da dívida e juros em 2026.
- O “pedágio” do bilhão: para cada R$ 1,00 pago pelo contribuinte à prefeitura, quase 10 centavos vão diretamente para bancos e credores de dívidas passadas. O peso da dívida (R$ 92 milhões) é 1.211 vezes maior que o orçamento destinado à Habitação (R$ 76 mil).
- A engrenagem de pessoal: com R$ 506,3 milhões comprometidos com Pessoal e Encargos, a máquina administrativa consome quase metade do orçamento. Somada à dívida, sobra pouco espaço para investimentos em asfalto, saneamento ou equipamentos sociais.
Consequência prática: Barreiras tornou-se uma cidade gerenciadora de folha e dívida. A gestão depende quase integralmente de convênios federais e estaduais para realizar obras, já que a arrecadação própria (IPTU e ISS) é drenada pelo custo da dívida acumulada e pela manutenção de uma estrutura inchada.
Nesta sexta-feira (19) o prefeito Otoniel Teixeira confirmou em entrevista ao radialista Marcelo Ferraz da rádio Oeste FM – antecipada com exclusividade pelo Portal Caso de Política -, a intenção de contrair até R$$ 140 milhões em empréstimos bancários e afirmou que a proposta já se encontra na Câmara Municipal e que os vereadores postergam a autorização para Barreiras contrair o novo empréstimo.
Assistência Social: o corte no prato de quem tem fome
Enquanto a Cultura recebe R$ 14 milhões de acréscimo, a Assistência Social sofre um corte nominal de R$ 1,8 milhão. A redução compromete a capacidade de atendimento dos CRAS e CREAS e impacta programas de segurança alimentar, justamente no ano em que a população mais necessita de amparo, diante do agravamento do deficit habitacional.
Conclusivamente, a LOA 2026 de Barreiras configura um cheque em branco para o marketing político. Os números demonstram que a prefeitura optou pelo espetáculo (festas +73%) e pela propaganda (Comunicação +716%) em detrimento do social e da habitação. O bilhão existe no papel, mas permanece invisível na periferia da cidade.
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