
Polícia Federal tentou prender deputada no aeroporto de Roma, mas inclusão na Interpol ocorreu com atraso; decisão do STF transforma prisão em definitiva e acelera pressão por extradição
Caso de Política | Luís Carlos Nunes – A deputada federal Carla Zambelli (PL-SP) escapou da prisão ao desembarcar na Itália na última quinta-feira (5), antes de ter seu nome incluído na lista vermelha da Interpol. A Polícia Federal brasileira, em articulação com autoridades italianas e a Interpol, planejava efetuar sua prisão no aeroporto de Roma, mas a operação falhou por cerca de duas horas: quando ela aterrissou, ainda não era considerada foragida internacional.
Com a inclusão posterior na lista da Interpol, Zambelli passou a ser procurada em escala global, mas permanece em liberdade em território europeu. O caso levanta questionamentos sobre a coordenação entre Judiciário, Polícia Federal e diplomacia brasileira – e aprofunda a crise envolvendo uma parlamentar condenada por crimes contra instituições democráticas.
A deputada foi condenada pelo Supremo Tribunal Federal a 10 anos de prisão por contratar o hacker Walter Delgatti para invadir sistemas do Conselho Nacional de Justiça e falsificar documentos, incluindo um mandado de prisão contra o ministro Alexandre de Moraes. A decisão foi tomada pela 1ª Turma do STF, que rejeitou o último recurso da defesa e autorizou a execução imediata da pena.
Zambelli deixou o Brasil após a condenação, passando pelos Estados Unidos antes de seguir para a Itália, onde alegou que pretende viver no interior, amparada por sua cidadania europeia. A deputada também foi condenada a pagar R$ 2 milhões por danos morais coletivos. A partir de agora, sua prisão passa de preventiva a definitiva, o que elimina a necessidade de autorização da Câmara dos Deputados para seu cumprimento.
No plano técnico, o STF confirmou que arquivos de documentos falsificados — entre eles o mandado contra Moraes — foram criados por Delgatti e acessados pouco depois por Zambelli, com identificação digital idêntica. Moraes afirmou que a atuação da parlamentar foi “premeditada, consciente e direcionada a abalar a credibilidade das instituições democráticas”.
O processo de extradição agora depende da localização formal da deputada na Itália. A ausência de endereço fixo tem atrasado o pedido oficial. O Supremo deve informar o Ministério da Justiça, que encaminhará o caso ao Departamento de Recuperação de Ativos e Cooperação Internacional (DRCI). Só então o Itamaraty poderá formalizar a solicitação diplomática ao governo italiano.
O caso Zambelli marca um divisor de águas entre a retórica extremada de parte da direita bolsonarista e a resposta institucional do Judiciário. A tentativa de manipular sistemas judiciais por meio de hackers, somada à fuga coordenada da parlamentar, representa não apenas uma afronta à lei, mas também um desafio à soberania legal do Brasil frente a um caso de dupla cidadania com repercussões internacionais.
A reação do STF, com a rápida certificação do trânsito em julgado, evita que a parlamentar utilize seu cargo como escudo legal. Ao mesmo tempo, a demora na articulação entre Justiça, Polícia Federal e diplomacia brasileira revela fragilidades operacionais que podem comprometer a efetividade da punição.
A base bolsonarista, que já vinha adotando discurso de confrontação ao Judiciário, pode tentar transformar Zambelli em símbolo de perseguição política. No entanto, as evidências técnicas apresentadas pelo STF tornam difícil sustentar a narrativa de inocência. O episódio também deve repercutir na Câmara dos Deputados, onde pressões por cassação de mandato tendem a crescer — especialmente se a extradição for confirmada.
Em última instância, o caso testa a capacidade do Estado brasileiro de exercer sua autoridade em um cenário globalizado e politicamente polarizado. A depender da resposta italiana, o Brasil poderá enfrentar seu primeiro grande impasse diplomático envolvendo uma parlamentar condenada por sabotagem institucional.
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