
Novo diretor regional deve assumir missão de enfrentar assédio jurídico, desigualdade institucional e defender os profissionais diante do avanço das tecnologias, da desvalorização autoral e equilibrar ações sobre a possível volta da exigência de diploma no jornalismo
Luís Carlos Nunes – A confirmação de Tiago Portela como Diretor Regional Oeste do Sindicato dos Jornalistas da Bahia (Sinjorba) marca não apenas um reforço na representatividade sindical do interior, mas uma tomada de posição diante de velhas e novas tensões que desafiam o jornalismo contemporâneo.
Além das já conhecidas dificuldades enfrentadas pelos profissionais do interior – como assédio jurídico, ausência de apoio institucional, desigualdade no acesso à verba pública e falta de formação continuada -, o momento atual exige respostas claras sobre a valorização do profissional (com ou sem diploma), a ética na autoria do conteúdo produzido por pequenos veículos e o uso de inteligência artificial no jornalismo.
Portela, editor do portal TV Web Barreiras, integra a chapa única “Sinjorba Forte, Jornalismo Forte”, homologada para o triênio 2025–2028. A eleição, marcada para os dias 15 e 16 de julho, ocorrerá de forma online. A posse será conduzida sob a presidência da jornalista Fernanda Gama, atual vice da entidade.
Diploma de jornalismo: exigência legal ou reconhecimento ético?
Com o avanço de discussões no Congresso e no STF sobre uma possível reintrodução da exigência do diploma para exercício da profissão, o sindicato será cobrado a tomar posição sobre como lidar com milhares de profissionais não diplomados que exercem a atividade com competência, ética e compromisso público.
Nesse ponto, a expectativa é que a nova diretoria promova um debate equilibrado, que reconheça o valor da formação acadêmica, mas que não ignore a contribuição histórica de comunicadores sem diploma, muitos deles oriundos da mídia comunitária, alternativa e regional — justamente os mais expostos à precarização e ao apagamento institucional.
Portela, por sua trajetória, sinaliza disposição para esse equilíbrio. Em declarações recentes, reforçou a importância de que o sindicato seja espaço de acolhimento e não de exclusão, destacando a necessidade de criar mecanismos de qualificação, escuta e respeito mútuo, ao invés de traçar barreiras rígidas entre “formados” e “não formados”.
O apagamento autoral e a apropriação indevida de conteúdo
Outro ponto sensível – e frequentemente ignorado pela mídia tradicional – diz respeito ao direito autoral e ao uso indevido de conteúdo produzido por jornalistas independentes ou de veículos de pequeno porte. É prática recorrente que reportagens, denúncias e investigações feitas por comunicadores locais sejam capturadas por grandes portais ou emissoras sem citação de fonte ou crédito devido, violando o direito autoral e ético do profissional.
Essa questão se agrava com o avanço da inteligência artificial, que já é utilizada por algumas empresas para captar conteúdos sem checagem de origem, apagando o trabalho de quem está na linha de frente da informação, sobretudo no interior. A nova diretoria do Sinjorba será desafiada a criar normas internas, instrumentos de proteção coletiva e articulações legais para garantir que o direito à autoria, previsto em lei, seja respeitado também na prática jornalística.
Um sindicalismo para o presente e para o futuro
Além desses pontos, Portela terá a responsabilidade de articular a categoria na região no enfrentamento a:
- Pressões políticas e assédio judicial promovidos por gestores públicos e parlamentares, que tentam calar a crítica jornalística via processos intimidatórios;
- Ausência de isonomia no relacionamento institucional com as prefeituras e o governo estadual, que excluem veículos de posicionamento crítico de editais e verbas de publicidade;
- Falta de apoio psicológico e jurídico a jornalistas que atuam isoladamente e em condições precárias, inclusive sob risco físico em cidades pequenas;
- Ausência de políticas de atualização técnica e acesso a tecnologias, especialmente diante da revolução digital e da IA no jornalismo.
A nomeação de Tiago Portela, mais do que simbólica, deve funcionar como ponto de inflexão: ou o Sinjorba assume a responsabilidade de representar todos os jornalistas — inclusive os que estão longe dos grandes centros — ou continuará a reproduzir a lógica excludente que naturalizou o abandono da base.
“Quero ser ponte, nunca muro. Representar o Oeste com dignidade e trabalhar para que todos nós sejamos fortalecidos enquanto categoria”, afirmou Portela em postagem em seu Portal.
A frase, que pode soar como retórica, ganha peso diante dos desafios concretos que ele e a nova diretoria terão pela frente.
O caminho está lançado. Agora, o jornalismo baiano – em especial o do interior – espera que essa nova direção esteja à altura da história que diz representar.
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